Capítulo 2 - Ladrão

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Eu já estava quase adormecendo escondido no escuro, meu corpo estava tremendo devido ao frio que fazia, minhas roupas não eram suficientes pra me proteger e eu estava com o corpo todo dolorido devido aos hematomas espalhados pelo meu corpo e rosto

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Eu já estava quase adormecendo escondido no escuro, meu corpo estava tremendo devido ao frio que fazia, minhas roupas não eram suficientes pra me proteger e eu estava com o corpo todo dolorido devido aos hematomas espalhados pelo meu corpo e rosto. 


Em pouco mais de uma hora as pessoas da vila terminaram a decoração colorida e aguardavam a chegada de seus filhos e parentes ansiosos e felizes. E logo uma van preta chique parou na entrada da vila me fazendo acordar completamente e ficar atento assim como as outras pessoas da vila que ja esperavam de braços abertos.

Chiquinha desceu da van primeiro vestindo  um vestido vermelho chique que grudava em seu corpo que agora estava em boa forma, ela vestia uma bota branca e mais parecia alguém rica que cresceu em berço de ouro, diferente desde a ultima vez que ha vi. Ela quando avistou seu pai de braços abertos correu até ele com lagrimas nos olhos e o abraçou. O que me fez chorar também, eu estava feliz por eles.

Logo Inhonho desceu rindo ao lado do Quico. 


Inhonho ainda estava grande e gordo como ele sempre foi, mas também estava bonito, vestia uma camiseta de uniforme de futebol americano, estava mais confiante do que o Inhonho que eu me lembrava que provocava as outras crianças devido a suas inseguranças. Inhonho também correu pro abraço dos seus pais que juntos o abraçou com lágrimas nos olhos.

E logo atras veio o Quico, ou Frederico, como ele mesmo tinha me pedido pra o chamar desde a última vez que o vi. As bochechas gordinhas haviam sumido, dando espaço pra um maxilar bem marcado. O filhinho da mamãe, havia crescido e nem a camisa de frio grande que ele vestia tampavam seus músculos bem marcados, embora não fossem exageradamente grande. Ele estava mais bonito do que eu me lembrava. Ele caminho de vagar ate a mãe e o professor Girafales, que agora era seu padrasto, os abraçando.


Me comprimi ainda mais no canto desejando que ninguém me visse aqui. 


- Senti tanta saudade de vocês, a vila nunca mais foi a mesma.  - Dona Clotilde disse.

- O que vão fazer agora que estão formados? - A vizinha do 90 perguntou olhando pro Frederico.

- Eu fui contratada pela escola daqui. - Chiquinha disse orgulhosa de si. - Agora sou professora de português do fundamental. 


Ri baixo. Quem diria que a nanica que falava tudo errado se tornaria professora de crianças. 


- Eu vou continuar jogando. Ganhei bolsa na faculdade pra jogar e entrei pro time do estado, ainda preciso continuar, estou só começando.

- Fico feliz por você Inhonho. - Seu madruga disse.

- E você Quico?

- Estou abrindo um escritório de engenharia aqui do lado. Tenho alguns contratos assinados com a prefeitura da cidade, era o melhor a se fazer.


Como eu me sentia orgulhoso deles, meus amigos estavam bem e felizes. 


- Preciso apresentar meu namorado pra vocês.

- Ahh... Eu vi uma foto dele, tão bonito. - Clotilde disse.

- E médico - Seu madruga disse orgulhoso.

- E vocês dois? Não arrumaram namoradas ainda?

- Ahh... Eu tenho um caso ai com a filha do treinador mas não é nada serio. - Inhonho disse enquanto ia a mesa de comida olhando tudo. - Nossa que delicia. 

- E você filho? - Dona Florinda encarou o filho que passou a mão nos cabelos preto o jogando para trás, sim estava bonito como eu jamais achei que ele estaria.

- Nada serio com ninguém mãe, podemos comer? - Quico se virou para mesa posta de comida seguindo Inhonho.


Logo todos se serviram e foram se sentar na enorme mesa de jantar que eles emendaram. Meu estômago roncava tão alto observando-os comer que eu me preocupei que o barulho entregasse meu esconderijo.


Eles continuaram comendo e contando sobre a cidade grande e a faculdade. Todos ouviam atentamente suas experiencias e aventuras, inclusive eu. Chiquinha e Inhonho estavam em êxtase por estar em casa e Quico parecia um pouco distante, observando tudo ao redor. Tive medo que ele me encontrasse aqui, ja que ele observava cada canto do pátio.


Encostei minha cabeça na parede observando os detalhes do Quico, seus traços do rosto eram sérios, nada a ver com aquele adolescente que saiu daqui pra estudar na cidade grande. Eu sentia vontade de ir la e abraça-lo, mas provavelmente ele me desprezaria, eu não queria me encontrar com eles pelos próximos dias, eu teria o cuidado de sair bem cedo e chegar tarde para não deixar que eles me vissem.


- Onde ele está? - Frederico perguntou fazendo a atenção de todos se voltar pra ele.

- Quem? -  Sua mãe perguntou.

- o Chaves.

Meus olhos se arregalaram e eu me encolhi ainda mais de medo do que iriam falar.

- Já faz um tempo que não o vejo. - Florinda disse

- Eu o vi hoje. - Seu madruga disse.

- Ele continua roubando?  - Inhonho disse enfiando uma colher grande de torta na boca.

Meu peito doeu com a pergunta de Inhonho. Eles ainda me desprezavam.

- Provavelmente, ele estava todo arrebentado hoje quando o vi.

O olhar de todos se voltaram pro seu barriga.

- Como?

- Ele esta bem magro, e estava bem machucado, deve ter sido pego roubando de novo.

- Ele nunca mais devolveu o dinheiro da vila? - Chiquinha disse.

- Não! Ele sumiu com  o dinheiro da cirurgia do Jaiminho. Nunca mais vimos nem a cor desse dinheiro e o mais triste é que todos juntamos e arrecadamos o dinheiro e ele só tinha que entregar pra esposa dele.

- E o que houve com o carteiro? - Quico perguntou com o olhar distante, prezo no meu barril.

- Por sorte algum doador pagou a cirurgia dele no hospital, ele esta bem hoje em dia, as vezes vemos ele e sua esposa fazendo caminhadas pelo pátio.

- Ele nunca se desculpou? - Inhonho perguntou.

- Se desculpar por roubar o dinheiro? Ele ate tentou se desculpar com seu madruga e dona Florinda algumas vezes mas é difícil confiar em um ladrão de novo.


Senti o liquido quente escorrer pelas minhas bochechas ate minha roupa que ja estava gelada pelo frio. Ouvir aquilo foi mais dolorido que os machucados pelo meu corpo. Quando consegui limpar minhas lagrimas percebi que minhas unhas estavam cravadas no meu braço os cortando.

Abaixei a cabeça, encostando-a nos meus joelhos enquanto escutava eles mudar de assunto sobre como seria as ferias deles enquanto eles não iniciavam suas carreiras como adultos.


Logo eles entraram pra dentro e as pessoas da vila retiraram toda a decoração e a comida. Quando todo mundo se pos pra dentro ja era madrugada. Eu sai atras da planta e ate fui no lixo ver se tinha sobrado alguma coisa, mas eles haviam retirado o lixo. Eu estava muito cansado. Fui ate o barril me esconder do frio e tentar dormir um pouco, sabendo que eu me torturaria  pelos pensamentos o resto da noite, como havia sido desde os últimos anos.

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