Capitulo 8

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Eu nunca contei a ninguém sobre o que eu era ou quem eu era, na verdade nem eu sabia direito, mas a primeira vez que percebi que eu poderia gostar de garotos foi aos 13 anos, quando vi Frederico abraçado a Chiquinha.

Por dias eu achei que estava me sentindo mal apenas por eles terem se aproximado mais e me deixado um pouco de lado. Mas eu rapidamente discordei disso quando vi pela primeira vez Quico brincando com a mangueira do pátio da vila. Era verão e devia estar quase uns quarenta graus. Os vizinhos faziam churrasco no pátio e Quico e algumas crianças da vila se refrescavam brincando na mangueira e em uma piscina montada de plástico grande. Éramos pré adolescentes cheio de hormônios e todos estavam a vontade. O problema foi meu corpo reagir a ele, ao sorriso dele, ao cabelo bagunçado, a falta de peças de roupa, a bermuda grudada no corpo. Aquela foi a primeira vez que eu entendi que eu tinha algo de diferente. Ou talvez não fosse diferente, eu não sabia, nunca tive ninguém pra me explicar sobre isso, mas as vezes que eu havia ido à igreja, ouvir o pastor e comer depois, eles diziam que era diferente.

Eu me levantei e me sentei ao lado de Quico.
Naquela noite nos assistimos um filme fofo de comédia romântica e ele fez pipoca pra gente depois do chocolate quente. Meu corpo estava satisfeito e quente como ele jamais esteve.

Eu não vi quando dormi, mas eu sabia onde estava quando abri meus olhos vendo aquele quarto azul na mesma cor do uniforme de marinheiro que Quico usava quando era pequeno. A cama estava confortável e quentinha. Eu não sabia como havia parado ali.

- Oi. - A porta se abrir revelando um Quico com a cara amassada vestindo um conjunto de moletom cinza.

- Oi. - Disse ainda com a voz rouca.

Quico caminhou até a cama e se jogou em cima da minha barriga.

- Aí... - Eu gritei rindo, me sentindo completamente esmagados de uma forma boa e carinhosa.

Quico riu alto e se ajeitou na cama se deitado ao meu lado em baixo da coberta azul.

Ele estava próximo o bastante pra sua cabeça estar no mesmo travesseiro que eu, embora nossos corpos não se tocassem.

- Como vim parar aqui? - perguntei observando seus olhos escuros, e seu sorriso gentil.

- Você dormiu encolhido no canto do sofá e eu te trouxe pra cama.

- Me trouxe?

- Chaves você pesa menos que uma criança de 12 anos.

- Você dorme igual ao uma bolinha. - Ele coçou o próprio olho sorrindo. - Não ocupa nem um terço da cama.

- Você dormiu aqui?

- O que? Na minha cama? Claro que sim. - Ele riu e jogou a cabeça pro lado, quando foi que Quico havia ficado tão bonito?

- Eu durmo em um barril Quico, ocupar pouco espaço já é uma habilidade minha. - Eu sorri vendo o sorriso dele desaparecer em questão de segundos. - Ei... - Levei o dedo até sua bochecha a cutucando. - O que foi?

- Você terminou a escola? - ele levantou a mão levando até a mecha solta do meu cabelo a colocando atrás da orelha, tentei não pensar muito sobre o quanto aquilo mexeu comigo.

- Hm... Não.

- Porque?

- Eu fui expulso, lembra?

- Porque não procurou outra escola? - ele franziu as sobrancelhas.

- Eu tentei por mais de um ano, nenhuma me aceitou. Por falta de documento, por saberem que eu era um ladrão, por não ter um endereço, por não ter dinheiro pra mensalidade, uniforme ou comida. Escutei tantos motivos diferentes Frederico. - Suspirei e me virei de barriga pra cima.

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