Capítulo 10

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- Chaves

      Quico se aproximou de mim, enquanto todos mantinham o completo silencio. 

- Quem fez isso com você? - Sua mão quente tocou meu rosto manchado pelo sangue.

- Quico acho melhor não toca-lo, ele esta cheio se sangue e... - Florinda disse.

- Cala a merda da boca mãe - Frederico gritou assustando a todos, inclusive a mim.

     Eu estava assustado e meu corpo reagia facilmente a qualquer mínimo de agressão. Mesmo que eu soubesse que Quico nunca tocaria em mim de uma forma rude eu me encolhi involuntariamente.

- Chaves, olha pra mim. - A mão quente do garoto levantou meu rosto fazendo com que eu encarasse seus olhos. Seu maxilar estava trincando e ele estava visivelmente com raiva. Fiquei com medo de toda sua chateação ser pela roupa completamente destruída.

- Desculpe pela roupa. - Solucei entre as lagrimas que caia involuntariamente, talvez pela dor, ou pela vergonha de todo mundo me ver desse jeito.

- Tudo bem. - Quico se aproximou até que eu sentisse seu corpo forte me envolver em um abraço. - Vai ficar tudo bem.

Meu corpo quis desabar no instante em que ele me envolveu em seus braços.

- Você esta proibido de entrar com ele em casa. - Florinda gritou assim que senti meus pés saindo do chão. Quico envolveu minhas pernas em sua cintura sem se preocupar com os gritos da mãe.

Fechei meus olhos ignorando tudo ao meu redor, tentando aproveitar a sensação do toque fisico do Quico. Eu ouvi Quico se afastar da bagunça da vila.

- Por favor nao durma. - Quico sussurrou tão perto do meu ouvido que meu corpo respondeu a ele quase que automaticamente, se arrepiando. Ou talvez fosse a dor que eu estava sentindo.

Praguejei silenciosamente quando Quico me colocou sentado no banco do seu carro, se afastando de mim.

- Fique acordado ate que cheguemos nos hospital, tudo bem?

Balancei a cabeça positivamente.

- Eu vou cuidar de você Chaves, vai ficar tudo bem.

Talvez eu estivesse a salvo a final.

 Foi com esse pensamento que meu corpo lentamente foi se apagando. E eu tentei sussurrar um perdão a Frederico, que dirigia concentrado, mas nada saiu. 

- Chaves... - Foi a ultima palavra que ouvi.


                   

                         Acordar sozinho naquela cama de hospital havia me deixado completamente desesperado. Eu tão pouco soube que aquilo era um hospital, se não fosse pela enfermeira entrar e me explicar onde eu estava, eu talvez estivesse achando que tinha morrido ainda. Afinal eu estava completamente limpo, quente, em uma cama confortável e bom... Se não fosse pela dor aguda de cabeça e os cortes e hematomas espalhados pelo meu corpo.

                  Alguns minutos se passaram desde que havia acordado.

                Frederico entrou pela porta carregando algumas sacolas enquanto tentava digitar algo no celular. Meus olhos acompanharam o garoto distraído entrar no quarto e colocar as sacolas em cima da poltrona. 

            Ele vestia um terno todo preto e o cabelo estava arrumado de mais para alguém que tinha mania de bagunçar o próprio cabelo.

           Ele depositou o celular lentamente em cima da mesinha e levantou o rosto me olhando. Seus olhos se transformaram em duas bolotas grandes quando percebeu que eu estava o observando.

- Você esta acordado. - Ele sorriu e se aproximou da cama. Ele quase se jogou em cima de mim me abraçando.

- Eu... - Sentir o calor do seu corpo no meu me fazia esquecer tudo, a divida infinita, as ameaças de morte, quem eu era.


- A enfermeira não me avisou que havia acordado, eu estava em uma reunião com a imobilária, pedi pra que ela me ligasse, e ela não.

- Acordei a pouco tempo - Quico se afastou e se sentou no canto da cama me olhando.

- Vai ficar tudo bem - Ele disse enquanto seu olhar descia sobre os roxos dos meus braços descobertos.

- Eu sei. - Eu sussurrei - Você disse isso ontem

   Quico me olhou confuso.

- Você esta apagado a mais de uma semana Chaves.

- O que... - O encarei mais confuso ainda.

- Tiveram que cuidar do seu corpo. Você estava anêmico a um nível desesperador, estava com infecção, tinha alguns ossos deslocados e...

- Eu não quero saber... - disse interrompendo.

- Eu... Chaves, precisa me dizer...

- Eu agradeço a ajuda Quico mas eu preciso sair daqui. - Levei minha mão ate o braço para retirar o acesso mas antes que isso acontecesse Quico segurou minha mão.

- Eu não vou deixar você ir, e eu não vou. Eu nunca devia ter te deixado sozinho, eu nao vou...

- Você não sabe onde esta se metendo. - Encarei a mão quente do garoto.

- Por isso estou pedindo que me diga.



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⏰ Última atualização: May 07, 2023 ⏰

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