Capítulo 1

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O calor estava insuportável.

Ninguém, absolutamente ninguém, se casava em Manhattan no meio de julho, ou seja, ninguém exceto Wang Yibo.

O organista fez uma pausa cheia de suspense e a congregação reunida na Catedral de Saint John pareceu se erguer em perfeito sincronismo. Todas as quatrocentas e cinquenta cabeças viraram-se para olha Yibo, em sua posição na entrada da igreja, usando um terno de noivo de vinte mil dólares;

Seu terno de noivo branco.

Para um noivo virgem de vinte e cinco anos, que sabia tão pouco sobre a vida e que estava prestes a caminhar em direção ao altar sem nunca sequer ter sido beijado.

Bem, fora beijado uma vez, pessimamente beijado, na sétima série  quando He Peng praticamente enfiara a língua pela goela dele abaixo numa festa de aniversário. Ele ficará tão enojado que fora a muito custo que não vomitara em seguida e portanto aquele beijo não contava.

E agora Yibo estava prestes a se casar com o amor de sua vida, mas o problema era que ele não o amava, nunca o beijara, e ele, na verdade, assinara um contrato concordando com aquele horrível casamento de aparências que não significava nada para ele.

O que, afinal, ele estava pensando? O que estava fazendo?

Como poderia se tornar um marido, antes mesmo de ter tido um encontro com alguém?

Yibo fechou os olhos, respirou fundo e tentou se acalmar, mas estava perdendo o controle, sabia que estava. Tremia tanto que mal podia impedir que seus dentes batessem. Era curioso como os dentes podiam bater quando se estava morrendo de calor, uma camada de transpiração cobria-lhe a pele, o coração estava disparado no peito, o ar parecia lhe faltar.

Que tolo era. Que grande e completa idiota.

Sim, amava Xiao Zhan. Sim, estava perdidamente apaixonado por ele, mas como poderia se vender daquele jeito? Como pudera entregar sua vida assinando naquela linha pontilhada?

Um contrato.

Assinara um contrato para se tornar o marido dele.

Como podia amar tão pouco a si mesmo e tanto a Zhan?

O organista recomeçou a tocar com ímpeto. As notas musicais preencheram a catedral, quatrocentas e cinquenta pessoas parecendo respirar fundo de uma só vez, aguardando que ele desse o primeiro passo em direção ao altar.

Yibo sentiu a cabeça girando. As pessoas tornaram-se uma névoa obscura, os murmúrios abafados e a música uma cacofonia* estridente, estava tão quente ali, havia pessoas demais e pouco ar, ele sentiu-se como se estivesse sufocando, não conseguia respirar, nem pensar e todos estavam à espera de que se movesse. De que desse aquele primeiro passo, Zhan estava à espera de que ele o desse.

E, portanto, Yibo o fez. Deu o primeiro passo... Em seguida, deu meia volta e correu.

Ele largou o buquê de lírios, rosas e orquídeas no vestíbulo, passou por entre as portas adornadas de vitrais da catedral, desceu os degraus de mármore e saltou para dentro de um táxi que passava.


* Cacofonia: som feio ou desagradável; união não harmônica de sons diversos.

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