Há muito tempo eu estava gritando internamente entre ruas vazias e céus escuros, adiei minha partida, ainda queria descobrir o mundo.
Nessa jornada descobri que eu era o meu pior inimigo, assassinei o meu coração, me perdi em fraqueza ao chorar exageradamente, fiquei íntimo de pensamentos escuros e virei inimigo de corpos puros.
Cortei os meus sonhos enquanto cortava a minha carne, comecei a desaparecer deste mundo tão cedo quanto posso me lembrar.
Ao me derreter de euforia por sentimentos estranhos, acabei me apaixonando.
Eu amei os dias lindamente aterrorizantes que me tiraram do tédio, me interessei por uma perfeita alucinação.
Essa ilusão não deixava o mundo ficar banal, ela me fazia sentir mais do que tudo, fazia eu me contorcer por estar recebendo mais sensações do que eu merecia.
Durante muito tempo apenas amei a mim mesmo ou amei o ser que me acompanhava naqueles dias.
Um amor tão intenso que me fez esquecer de amar a vida, que arrancou memórias fúteis da minha cabeça e me mostrou somente o que era real.
Eu não sei mais onde ela está, aquela alucinação.
Essa incansável sensação de desgosto e fragilidade que agora toma conta do meu peito, me faz duvidar se ela ainda está neste mundo e me vejo pensando em desistir com medo da resposta ser "não".
Mesmo estando quase esgotado e acabando morto pela falta da minha doce e única fonte de diversão, espero que eu a reencontre antes disso, para que eu me lembre do prazer de viver, para que ela acabe com este tédio, essa agonia e essa cansativa solidão.
Não me sinto assustado ao pensar nisso, sei que se ela não vier me ver encontrarei outra excitação, provavelmente não neste mundo, mas em algum pós vida apocalíptico que não tenha o que sofrer com a minha infinita paixão, nem com o belo e solitário método de defesa da minha mente obcecada por um distorcido instinto de auto-preservação.
Também não descarto a ideia de ser apenas amor ou talvez somente um circo, onde o espetáculo termina junto com a minha complexa forma de auto-destruição.