Capítulo 26

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Capítulo 26

Pablo

Vítor tinha caído no sono quando chegamos ao seu apartamento, mas permaneci acordado. Ele removendo as balas do meu peito durante a pequena reunião com o Alfa Zayas e Danilo distraiu meus pensamentos sobre Kaio, mas agora eu não conseguia parar de pensar nisso. Quão perto eu cheguei de perder Vítor, depois de tudo que nós dois sobrevivemos.

O fato de meu irmão ainda estar vivo, mesmo que ele passasse o resto da vida apodrecendo em uma cela, me impediu de sentir que tudo aquilo era uma vitória. Kaio fizera sua escolha, mas também prejudicou Vítor. Era seu direito decidir o que viria a ser seu último captor sobrevivente, e eu tinha que encontrar uma maneira de viver com isso. Eu lhe devia isso.

Enquanto Vítor dormia tranquilamente, eu o observei por horas. Era difícil acreditar que ele estava aqui bem na minha frente, onde ele sempre esteve. Engraçado como demorei tanto tempo para perceber o quanto isso importava. O quanto eu precisava que ele estivesse aqui e o quão pouco de graça que a vida tinha quando ele não estava. Minha capacidade de me adaptar a qualquer coisa já foi o que me manteve são, mas no caso de Vítor, quase me custou tudo.

Eu tirei o cabelo do pescoço dele e estudei minha marca. Começou como uma maneira de salvar a vida dele, mas eu me perguntei se isso significava para ele o que significava para mim. Prova de que eu possuía algo que não merecia contemplar, muito menos manter. Prova de que ele era meu para proteger, honrar, amar. Ou ele veria como ele viu a marca queimada em sua pele, a marca de um homem muito abaixo de sua posição, a fim de humilhá-lo e degradá-lo?

Se eu pudesse apagar essa cicatriz, eu faria. Era impossível, mas outra ideia me ocorreu. Eu peguei o canivete que eu mantinha debaixo do meu travesseiro. Foi um hábito ao longo da vida, mais conveniente ultimamente do que nunca. Meu polegar varreu a gravura no lado da lâmina.

"Feliz aniversário, idiota".

Eu sorri. A faca tinha sido um presente de Vítor no meu aniversário de 21 anos. Pensativo como sempre. Uma ferramenta apropriada para o trabalho que eu tinha em mente.

O braço de Vítor caiu sobre meu torso e ele se puxou contra mim, ainda meio adormecido. — Já está ficando com tesão? — Ele murmurou em meu peito.

Eu bufei. De alguma forma, o fato de que ele zombou de mim pelo meu fetiche, assim como ele fez com todo o resto, me deixou menos consciente de ter dito a ele. — Não. — Eu sacudi a lâmina para fora e fechei a mão flácida ao redor do cabo. — Eu quero que você me marque.

Isso o acordou. Ele se sentou em seu cotovelo, seu cabelo caindo em seu rosto. Ele era fofo quando acordava. Feroz em todos os outros momentos, mas eu gostava de saber que só eu o via desse jeito. Eu sabia que seu maior medo era que o resto do mundo estivesse a par da vulnerabilidade que sentia por dentro, mas eu gostaria que ele pudesse se ver através dos meus olhos. Forte. Destemido. Inquebrável.

— Eu já marquei você, idiota. — Seu dedo tocou a cicatriz no meu pescoço. — Você quer uma correspondência do outro lado?

Eu sorri. — Por mais atraente que seja, tenho outra coisa em mente. Sua inicial, bem aqui. — Eu desenhei um 'X' com meu dedo sobre o meu coração.

Ele levantou a sobrancelha. — A sério?

— Eu tenho a palavra "Aberração" que ele colocou em mim. Mas, de hoje em diante eu vou ser seu, sua aberração. E pra isso preciso de sua marca, suas iniciais, — eu disse, acariciando seu rosto. Ele usualmente era barbeado, mas o raspar de restolho que tinha crescido desde que nenhum de nós teve tempo ou inclinação para a higiene adequada desde que voltamos era reconhecidamente encantador. Também o fazia parecer um pouco demais com seu pai, então assim que tive a energia para arrastá-lo para o chuveiro, essa merda estava saindo.

Abrace-me (Lobos de São Paulo #3) CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora