cento e treze.

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quando falam
sobre paternidade
perto de mim,
lembro, instantaneamente,
da ausência
e do cheiro da cachaça.

lembro, instantaneamente,
da angústia que era
ter cinco anos de idade
e se perguntar
"por que meu pai prefere
beber com os amigos a ficar comigo?"

da angústia que era
ter treze anos de idade
e ouvir coisas duras
como efeito do álcool.
odiá-lo, xingá-lo
e, no fim,
preocupar-me
com a ideia de que ele
poderia não chegar em casa.

da angústia que era
ter vinte anos
e vê-lo daquele jeito
nada mais, nada menos
do que doente
e se permitindo morrer
por não aceitar ajuda.

quando falam
sobre paternidade
perto de mim,
lembro, instantaneamente,
da dor que era ter um alcoólatra
no lugar de um pai.

- o álcool acaba com pessoas e com famílias.

poesias que nasceram da dorOnde histórias criam vida. Descubra agora