cento e onze.

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"estou preocupada
com você",
foram as palavras
que saíram da boca dela
ao ouvir, por fim,
meu pedido
de socorro.

mas é que eu sei bem
que essa preocupação,
acompanhada de "me promete..."
só se importa com meu corpo.

ela queria se certificar
de que poderia abraçar
a minha carne amanhã,
ou seja, queria se certificar
de que a minha dor
não se expandiria
para o meu corpo.

senti uma pitada de raiva
naquele momento porque
percebi que ela amava só meu corpo,
pois se amasse quem eu era
saberia que eu estava morta
há muito tempo
e que o caixão
não significava nada.

olhei em seus olhos,
chateada com o egoísmo
de não deixar a minha alma descansar
por querer manter meu corpo aqui,
e falei: "não se preocupe,
amanhã você me verá"
acabei com a preocupação dela
que, obviamente, não era relacionada
ao meu sofrimento.

amanhã você me verá,
poderá me abraçar
e sentir a frieza
do meu corpo oco
que pede,
uma última vez,
por socorro.

– por que ela não enxerga?

poesias que nasceram da dorOnde histórias criam vida. Descubra agora