IX - O Encontro

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No final de semana, Fábio saiu com Luna à noite levando-a para jantar. Durante o tempo que ficaram no restaurante, Luna não ingeriu nenhum remédio. Ele comentou com admiração:

— Vejo que está progredindo... Meus parabéns!

— Não precisa exagerar. Além do mais, sei exatamente quais as doses que devo tomar. Mas de tanto você e a minha mãe falarem, estou me esforçando muito e diminuí os medicamentos.

— Muito bom! Quando você precisar se abrir comigo, talvez contando alguma coisa do seu passado que tenha lhe machucado ou algum pensamento que se repete na sua cabeça, não se esqueça de que, além de namorado, sou seu amigo. Também quero ter a chance de me abrir com você, pois é a única pessoa em quem confio.

— Pelo visto, também quer ser meu psicanalista.

— Acho que amigo seria a melhor palavra.

Ele sorriu. Depois desconversou.

— A comida está muito gostosa — disse provando e mastigando devagar para saborear.

— Concordo... Uma delícia! Não era apenas o cheiro que estava bom.

Ela ficou olhando pela janela a montanha e seus pensamentos se perderam nas lembranças de seu pai.

Recordou as constantes brigas entre ele e sua mãe quando ainda eram casados e Luna era apenas uma criança.

— Uma moeda pelos seus pensamentos — Fábio disse sorrindo.

— Você atiçou uma memória que sempre me machuca muito.

— Sobre a relação dos seus pais? Me conte que isso vai lhe fazer bem.

Luna começou a recordar e comentar. Lágrimas saíram de seus olhos como se estivessem lavando a sua alma. De imediato, ele ofereceu-lhe um lenço que havia tirado do bolso.

Um dia, a mãe de Luna perguntou se o marido ia sair de novo e ele respondeu com rispidez dizendo que precisava se divertir. Ela cobrou dele uma atitude mais paternal e familiar, mas ele preferia ficar com os amigos.

O problema é que os supostos companheiros eram mulheres com quem ele mantinha relacionamentos. Numa dessas noites, o pai chegou bêbado e eles discutiram feio. Mesmo estonteado, ele empurrou Solange para tirá-la do caminho e foi tomar seu banho. O celular dele caiu destravado no tapete.

Quando ele entrou no banho, a mãe pegou o aparelho e leu a mensagem da amante dizendo que havia adorado a noite no motel.

Foi a gota d'água para terminarem o casamento.

Depois de ouvir a história, Fábio perguntou se não havia chance de reconciliação ou de que seu pai mudasse de atitude. Luna respondeu:

— Daí para pior. Naquele dia, ele arrumou as malas e foi embora para nunca mais voltar. Depois de algum tempo, ele parou de pagar a pensão alimentícia e foi preso por inadimplência.

— É! As coisas complicaram mesmo...

— Então se divorciaram e restaram para mim as crises de ansiedade desde a minha adolescência.

— Espero estar sempre ao seu lado para ouvi-la...

— Já me sinto melhor.

Ele colocou a mão sobre a dela com carinho, passando a impressão de que ela teria alguém que a apoiaria para o resto de sua vida.

— Tenho muita vontade de conhecer sua mãe. Pelo que entendi, ela sempre segurou a barra criando você desde pequena.

— Sem a ajuda do meu pai, que nunca mais apareceu para me visitar mesmo depois de ter sido solto. Mas vamos lá em casa para conhecer minha mãe. Você vai gostar muito dela. Nas minhas crises de carência paternal, sempre esteve ao meu lado. Por isso, amo tanto ela.

Luna e o Elemento EternalOnde histórias criam vida. Descubra agora