Construir vínculos

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Os olhos de Marco observavam com ainda mais atenção o rapaz moreno. Havia algo nele que o tinha atraído, algo que funcionara como um ímã e estava completamente encantado pela maneira com que os fios tão escuros moldavam o rosto bronzeado de uma forma tão singular, ou como os olhos que mais se assemelhavam à turmalinas tinham um brilho tão único e doce.

Ace cantarolava baixinho enquanto se esbaldava no sorvete adocicado que fizera Marco comprar para si e suas pernas balançavam no banco do parque em que se sentaram para conversar e esclarecer todos os pontos em aberto da noite anterior e princípio de dia. 

— Hoje a tarde está muito bonita — mencionou Ace, sua língua deslizou pelo alimento gelado e retornou para sua boca automaticamente, um som apreciativo deixando seus lábios rosados. — Um ótimo dia para passear no parque... Dias quentes e ensolarados são os meus favoritos, são bons para andar de skate e... 

Marco inclinou levemente o tronco para frente e apoiou seus cotovelos em suas coxas, suas palmas segurando seu rosto enquanto observava o menor tagarelar sobre suas preferências. Os lábios se movendo para cima e para baixo em uma cadência macia pareciam hipnotizantes, talvez fosse a mesma sensação que um cachorro tem ao encarar uma máquina repleta de frangos dourando, girando lentamente nas roldanas. 

O rapaz falava mais e mais conforme Marco lhe dava atenção e abria espaço para suas falas. Ele era tão enérgico e alto astral de uma forma completamente positiva que era impossível não se envolver em sua conversa fácil e leve, não tinha como não se deixar levar pelas palavras soltas e riso doce. 

Marco ainda sentia a ressaca em seu corpo, mas a presença alheia parecia suprimir um pouco aquela sensação. Entretanto, ainda lhe atormentava aquele não saber do que se passara na noite anterior. 

— Ace... O que... Nós fizemos ontem a noite? 

— Muitas coisas, na verdade... Estava esperando seu irmão voltar, ele parecia interessado em saber. 

Marco olhou para frente mais ao longe, vendo Tatch falar ao telefone, provavelmente com Izo ou com seu pai, e mover as mãos empolgado como se contasse algo grandioso. Marco temia descobrir sobre o que conversavam já que tinham grandes chances de ser sobre si. 

— Esqueça-o, ele é só um fofoqueiro — comentou revirando os olhos, o que fez o menor rir em resposta. — E ele não deve voltar tão cedo, parece bem entretido conversando. 

— Hm... Bem, por onde eu começo? Já sei... Depois que você se perdeu do seu irmão, a gente acabou se trombando na calçada. Você estava saindo da balada e eu 'tava descendo a rua de skate 'pra encontrar uns brothers... Foi mal por isso, eu meio que te atropelei... — falou Ace coçando a nuca levemente envergonhado, as bochechas ficando rosadas ao lembrar da cena. — Na hora você não entendeu nada, mas depois achei que fosse chorar... Eu até te ofereci um pouco do White horse que tinha na mochila. 

— Pelo jeito, além de me atropelar tentou me embebedar mais ainda — brincou Marco franzindo o cenho por alguns segundos, fingindo estar bravo, mas logo sua expressão suavizou ao ouvir a risada sibilante e gostosa do menor. 

— A parte do atropelamento foi sem querer, não imaginei que um cara grande como você ia sair do nada que nem um furacão daquela porta... Ofereci bebida como um pedido de desculpa, porque era a única coisa que eu tinha na hora... Quer dizer, podia ter oferecido um beijo, mas ainda não sabia se você curtia, então... 

— Céus... Por que eu sai da balada sozinho? — questionou para si próprio, colocando as palmas sobre seu rosto. — Não faço ideia do que se passou na minha mente... 

— Você disse que tinha visto o Izo saindo e foi atrás, mas acho que foi só alguém parecido que você seguiu — disse o rapaz colocando as pernas sobre o banco e findando seu sorvete. — Depois você encafifou que seu irmão tinha ido embora com o marido 'pra... Sabe... Transar e eu te chamei para vir comigo. 

Se beber, não case!Onde histórias criam vida. Descubra agora