CAPÍTULO DOIS

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Capítulo dois

Dia 1.825
Nova York

O quão patético é sentir pena de si mesmo?

Me sinto impotente, mas não muito. Me sinto sozinha, mas sempre me senti. Me sinto cansada, mas nunca me senti revigorada. Me sinto normal, mas não deveria. Então, o que mudou desde o dia em que recebi a notícia?

Certa vez, perguntei a você, por que era tão importante escrever tudo o que sentia.

-Não sei. Talvez...toda essa merda seja telepática. Ou algo do tipo. -respondeu você.

Telepática.

Foi o que você me disse. Mas, fiquei me perguntando se você não queria dizer terapêutica. Eu fiquei tão intrigada com a sua resposta que não quis corrigi - lo.

Quando se presta a devida atenção você aprende a ver o mais íntimo de qualquer pessoa que se preze a deixar alguma brecha de sentimento transparecer. Mas, não você.

Você é enigmático e incrivelmente bom em guardar qualquer tipo de sentimento, até de mim.

-Você está bem ?

Tenho vontade de rir, não me mexo nem um milímetro, mas os meus lábios estão se curvando em um sorriso preguiçoso.

Você está bem?

Já ouvi essa pergunta umas mil vezes, em um intervalo curto de minutos. É sempre a mesma pergunta, mas, com algumas diferenças: "Querida, eu sinto muito. Você vai ficar bem?" e " Quer alguma coisa?". E quando eu respondo da forma mais vazia e robótica que consigo: "Eu não sei". Eles me retribuem com olhar de pena.

Então volto à pergunta inicial. O quão patético é sentir pena de si mesmo? Bom, eu não sei. Mas, espero um dia saber.

Ao longo dos anos... que idiotice! Eu falo "anos" como se tivesse convivido com você por bastante tempo, porém sabemos que não foi bem assim. Deixe-me recomeçar.

Ao longo do tempo que estive com você, fiquei muito boa em ser como você. Saber esconder os sentimentos tão bem quanto você e não dar, nenhuma, brecha de nada a ninguém. Será que tudo isso foi bom para nós?

Na verdade, não importa muito nesse momento. Nem nos momentos futuros. Vamos deixar tudo como está. Ou como sempre foi. Sem as verdadeiras respostas ou migalhas de uma súbita resposta.

Você teria ficado orgulhoso de mim?
É, eu acho que sim.

-Você está bem?

A pergunta volta a se repetir. Mas, não quero saber de quem é essa voz. Não quero olhar para mais um rosto e descobrir que tudo o que eles veem em mim é pena e vulnerabilidade. Eu simplesmente não quero.

-Não.

Minha voz soa com uma calma espantosa que sem a menor dúvida eu não deveria sentir nesse momento. Talvez se eu agisse de uma forma digna de piedade e me jogasse nos braços desse desconhecido, lamentando por todos os momentos que não vivemos e molhasse a sua camisa com as minhas lágrimas. Eu não me sentiria tão envergonhada pela minha falta de emoção.

Contudo, quero dizer "Sim". Sim estou bem ou acho que estou. Estou dopada. E isso é bom, por um breve momento não sinto nada. Mas, seria rude e insensível da minha parte mostrar esse meu lado. Então, uma simples palavra como um "Não", muda toda uma perspectiva de frieza e apatia. Sendo substituído por pena e tristeza.
E mais uma vez me coloco em um turbilhão de pensamentos no qual não tenho controle.

Às vezes eu penso que se tivesse ficado em Cartiville, a minha vida poderia ter tido um desfecho diferente.

Sabe qual é o problema dos recomeços? O ponta pé inicial, é se arriscar a perder tudo no qual já está familiarizado para uma coisa totalmente nova e súbita. Porém, não é tão ruim quanto aparenta.

Sob a nossa verdade Where stories live. Discover now