Capítulo 9

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    Quando a aula estava perto do fim, Evie recebeu uma mensagem de Ayla.

"O que vai fazer em relação a Jasper e seus pais?"
"Nada, né?!" – respondeu, esforçando-se para não fazer careta. Não estava afim de levar uma bronca do professor.

    A verdade era que, se pudesse, pularia a janela e daria um jeito de sumir antes que o vampiro desse por sua falta. Mas, como nunca foi dada a fugir de seus problemas, ela sairia por aquela porta nos próximos cinco minutos e tentaria não arrancar a cabeça de Jasper no meio do corredor.

"Achei que tomaria um chá de sumiço" – mandou a amiga
"Vontade não me falta"
"Será que ele ainda está no corredor?"
"Eu ficaria surpresa se ele não estivesse." – suspirando, digitou a segunda parte da mensagem – "Ardelean não perde a oportunidade de me irritar"
"Até parece que você deixa passar" – alfinetou Ayla
"Jamais/ Mas isto não dá a ele o direito de retrucar"
"Querida, você realmente tem um adversário a altura em mãos/ Tiro o meu chapéu para o Concílio/ Eles acertaram na escolha"
"Estou certa que tem dedo do Quincey nisso aí/ O Concílio não é esperto o bastante para saber que Jasper seria teimoso o suficiente para suportar ficar em minha casa mais do que um mês"
"Então acha que ele ficará mais de um mês?!"
"Gostaria de dizer que não/ Mas meu prazo está acabando e não o vejo saindo pela porta da frente com mala e cuia"
"Repito, será que isto não é um sinal de que você deve finalmente ceder e aceitar um Guardião?!"
"NÃO"
"Jasper é o melhor guerreiro que temos desde Drácula" – argumentou – "Duvido que estará mais segura com outra pessoa/ Ou sozinha"
"Se ele continuar em minha casa/ Mais cedo ou mais tarde acrescentarei o nome dele em minha lista/ E, como sempre, as habilidades dele não farão diferença"
"Você deveria dar mais crédito a ele/ Senão pelas habilidades/ Pela coragem e cara de pau de te peitar"
"Eu dou crédito a ele" – e dava mesmo. Por mais que odiasse admitir, Jasper não tinha medo de provocá-la até beirar a fúria assassina – "Apenas sei que sou melhor que ele e que conseguirei o que quero no final"
"Se eu disser que não queria ver vocês dois se engalfinhando, estaria mentindo"
"Eu te conto tudo/ E o que não conto, o vento certamente te mostra"
"Ele é um ótimo recurso de espionagem/ Isso é verdade" – Evie fingiu que estava massageando os ombros como desculpa para abaixar a cabeça e sorrir.

    Ayla sempre fora ótima interlocutora com os quatro ventos.
    O sinal indicando o fim da aula soou.

"Bem, hora de encarar meu pior pesadelo"
"O jantar não será tão ruim assim"
"Não me referi ao jantar"
"Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk" – e sua amiga deixou de ficar on-line

     Jogando a mochila sobre o ombro, Evie se levantou e fez questão de ser a última a sair, apenas porque sabia que isso irritaria Jasper.

– Achei que teria que entrar para te procurar – falou Jasper assim que ela parou à sua frente

Não havia um único maldito aluno que passasse que não olhasse para Jasper. Evie fervilhou de raiva

– Pensou que eu pularia a janela?! – ela cruzou os braços sardentos
– Não me surpreenderia se o fizesse
– Como se eu precisasse desse artifício para despista-lo – alfinetou
– Não vai acontecer de novo
– É o que veremos!

    Dando a conversa por encerrada, Evie caminhou em direção ao estacionamento. À medida que cruzavam o campus, vários olhos viraram em sua direção. Ou melhor, em direção a Jasper. Daquele tamanho, o vampiro era tudo, menos discreto. Evie, na universidade, não escondia o fato de ser ruiva, escondia apenas a cor dourada dos olhos, fazendo-os parecer cor de avelã. Há muito desistira de mascarar as próprias feições. Então, para garantir que, caso alguém fosse perguntado se vira uma mulher com sua descrição, ela lançara um feitiço sobre a universidade, de modo que, uma vez fora das salas de aulas e do campus, nenhum estudante, salvo Lore e Ayla, e nenhum funcionário, se lembraria dela. Fora um dos feitiços mais trabalhosos que já fizera, e passara dias com o corpo dolorido e letárgica por ter usado tanta magia, mas valera a pena.
Assim que chegaram no estacionamento, Jasper deu um passo mais longo, parou à sua frente e estendeu a mão.

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