Capítulo 18

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– Os ventos são muito fofoqueiros sabia? – disse Evie enquanto estava jogada no sofá de Jasper
Quando minha melhor amiga está em perigo, eles sabem que devem me avisar no mesmo instante. – chiou Ayla – E você tinha que ter me deixado ajudar
– De jeito nenhum que eu ia deixar você aparecer naquele estacionamento e correr o risco de você ser transformada em um queijo suíço!
Pelo menos eu sei que não durou nem dez minutos – suspirou sua melhor amiga
– Assim que o susto passou...
Evie! – interrompeu-a a ninfa do outro lado da linha
– Está bem! – cedeu. Evie estava exausta depois da noite que tivera – Depois que eu engoli meu pânico...
Melhor
– Eu matei todos e entrei no carro – terminou de contar
E como você está? – Evie sentiu o coração se apertar pelo tom de preocupação de Ayla. Ela sabia que por trás da bronca, sua amiga estava assustada
– Parecendo que engoli uma bola de boliche. – confessou – Ainda não parei de tremer e peguei um moletom de Jasper para ver se esquento um pouco
Amiga, – o tom de Ayla se tornou doce – quer que eu vá aí?
– Não precisa. – por mais que tudo o que desejasse era que a melhor amiga estivesse com ela, Evie sabia que era um risco desnecessário – Ardelean vai chegar a qualquer momento e não quero lidar com uma montanha dando um chilique
Justo – Ayla riu
– Acho que ouvi um carro chegando. – e faróis também se aproximavam – Preciso desligar, parece que ele chegou
Descanse. – pediu a ninfa – E se precisar de qualquer coisa, sabe que pode me chamar
– Só mantenha os meus pais tranquilos. – pediu Evie – Ainda não falei com eles sobre o ocorrido.
Evie!
– Vou ligar assim que estiver seja lá onde Jasper vai me levar. – ponderou – Não preciso que minha mãe fique descabelando enquanto estou na estrada e me arrisco a ficar sem sinal
É, nisso você tem razão. – depois de um segundo de silêncio, Ayla perguntou – Jasper já sabe sobre os seus poderes?
– Não deu para esconder. – admitiu, deslizando pelo encosto do sofá até se deitar. Evie cobriu os olhos com a dobra do cotovelo – Eu estava tremendo demais e não estava afim de ficar lá nem mais um segundo. Não sabia como meu corpo iria reagir e, sinceramente, congelar de pavor era a última coisa que eu queria naquele momento. Ele descobriu. – Evie pensou um pouco e completou – Mas eu acho que ele já desconfiava
Por quê? – ela ouviu Ayla abrir a geladeira
– Ele não ficou tão surpreso assim quando contei e depois do incidente em minha casa com Debra, não duvido que ela tenha desconfiado da origem dos feitiços
Faz sentido. – ponderou Ayla – Debra é a melhor Rastreadora que o Governo já teve depois de sua mãe. Ela não é besta e com certeza plantou a dúvida em Jasper. – sua melhor amiga tomou um gole de alguma coisa – Tinha me esquecido desse incidente
– Eu não – bufou
Vou desligar para você descansar um pouco. – falou
– Nem sei se consigo fazer isso – admitiu Evie
Lave o rosto, tire o salto e fique deitada até Jasper chegar. – sugeriu a ninfa – O que você passou levaria qualquer um ao limite
– Nem me fale – suspirou
Tome cuidado. Eu te amo!
– Também te amo

    Depois de desligar, Evie conferiu os feitiços de proteção pela enésima vez e fez o que Ayla havia sugerido. Afanou um hidratante de mãos que Jasper tinha no quarto e passou no rosto, massageando as têmporas no processo. Enrolou os cabelos em um coque e ficou perambulando pela casa do vampiro descalça.
    Não sabia muito o que esperar do lar do maior guerreiro que o Mundo Escondido tivera desde Drácula, mas a casa de Jasper era... aconchegante. O piso de tábua corrida fora encerado em esmero e brilhava. As paredes, pintadas de bege bem clarinho, davam a sensação de acolhimento e os móveis claramente foram escolhidos pensando não só na estética, como também no conforto. Todos eram em tons de gelo e bege claro. O tapete felpudo que acomodava a mesa de centro fizera a alegria dos pés cansados de Evie e ela ficou brincando com sua textura, passando os dedos por ele. A casa tinha dois banheiros, sendo um deles pertencente à suíte, e ambos eram bem espaçosos.
    O quarto do dono da casa era a definição de masculino. Desde os tons das paredes até a colcha de cama. Porém, foram as fotos que chamaram a atenção de Evie. Várias delas eram da irmã dele. Jessica na Grécia. Jessica na Índia. Jessica no Japão. A feiticeira riu, pois em todas as fotos a fêmea segurava um bilhetinho para o irmão. Sua caligrafia era elegante, o que contrastava com o teor idiota das mensagens. Evie riu particularmente da foto na qual Jessica posava contra um penhasco onde, ao fundo, se via o oceano azul escuro e algumas árvores abaixo, e no bilhete dizia: "Se eu te jogar daqui, quanto tempo será que você demora para chegar no chão?". A irmã mais nova de Jasper, mesmo na fotografia, tinha um brilho travesso no olhar e ela posara piscando o olho direito e colocara a língua para fora, expondo os caninos do lado direito.
    Evie continuou andando pelo quarto, lendo os bilhetinhos de Jessica para Jasper. Até que parou de frente para um quadro que percebeu ser da família do vampiro. Ele estava novo na pintura. Não mais do que 16 anos, a julgar pelas feições que, apesar de não serem completamente infantis, estavam longe de se parecerem com as de um adulto. Os cabelos loiros dele, compridos, estavam presos em um rabo de cavalo amarrado com uma fita preta. Jessica estava logo ao lado e sorria abertamente para o pintor. Ela aparentava ter no máximo 13 anos e os cabelos, da cor exata dos cabelos do irmão, foram arrumados em um lindo coque com alguns cachos, propositalmente soltos, emoldurando-lhe o rosto infantil. Em seguida, a atenção de Evie se dirigiu aos pais do Guardião e se impressionou ao constatar que os irmãos eram uma mistura perfeita dos progenitores. Os cabelos loiros foram herdados do pai, que era um homem imponente, corpulento e claramente apaixonado pela família, a julgar pelo modo como tentava arrebanhar a todos em seu abraço. Seus olhos, porém, eram castanhos e tinham o mesmo ar de seriedade que Evie cansara de ver nos olhos de Jasper. Já a mãe era linda. O pai também o era, mas a mãe de Jasper era uma mulher estonteante. Certamente fora dali que saíra a beleza sobrenatural dos irmãos Ardelean. Os cabelos dela eram castanho claros e, assim como os da filha, foram arrumados em um belo coque, porém, entre os fios, podiam ser vistos pequenos pontos de luz, que o pintor tivera a habilidade de retratar com muito esmero. Ali estavam os olhos verdes, tão marcantes que Jasper e Jessica tinham. Ainda que fossem de um verde humano, mesmo assim, não deixavam de ser absurdamente claros. Jessica tinha as feições bem parecidas com as da mãe. Jasper também, porém o recorte masculino de seu rosto era de seu pai, não havia dúvida disso. Evie admirou todos os detalhes da obra de arte. Por mais que não entendesse muito de técnicas de pintura, foi totalmente tomada pela beleza daquele quadro e não escutou quando Jasper chegou.

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