Capítulo 12

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A cada aproximadamente um minuto, Evie bufava. Estava puta por ter se submetido à burocracia de merda do Concílio apenas para levar um "não", sem que eles sequer deliberassem seu pedido. Para completar a desgraça, a Regente apareceu para corroborar com a posição daqueles velhotes filhos de uma puta e os encorajou a manterem o posicionamento contrário ao pedido que fizera. Evie sabia que, com mais alguns argumentos, os convenceria a colocar Ardelean na rua, porém Celia era outra história. Ela não se convenceria tão facilmente a deixá-la mudar de Guardião. Na verdade, não se convenceria de forma alguma. A Regente era como uma segunda mãe para ela, mas às vezes conseguia ser mais protetora que sua própria mãe.
    Depois de estacionar na garagem e subir para o térreo, foi necessário um esforço descomunal para que sorrisse e cumprimentasse o porteiro noturno. Ela só queria gritar sua frustração.
    Entrou no apartamento, ignorando completamente a presença de Jasper na cozinha bebendo um copo de água. Abaixou-se, pegou suas gatinhas no colo e deu-lhes um beijo na lateral das cabecinhas, mais ou menos onde imaginava que ficaria a bochecha delas. Foi recebida com um delicioso ronronar, mas nem isso foi capaz de aplacar sua fúria, ainda que tenha lhe oferecido um certo consolo.

– Oi, meus amores! – disse depois de colocá-las no chão – A mamãe comprou um presente para vocês!

     Evie tirou um saquinho da bolsa e o agitou. Bastet e Sekmet empinaram as orelhinhas felpudas diante do som das iscas de frango. Rindo enquanto tentava se manter de pé com as duas se enroscando em suas pernas, ela avançou até a cozinha e abriu um saquinho sobre cada uma das vasilhinhas delas. As bichanas se puseram a comer imediatamente.

– Eu sabia que vocês iam gostar! – sorriu vendo os rabinhos felpudos balançando de um lado para o outro
– O que é isto? – questionou Jasper depois de fungar o ar

Sem se importar em responder, Evie apenas lavou a embalagem na pia e a jogou nos recicláveis. Em seguida, abaixou para fazer um carinho na cabecinha de suas gatas e foi para o seu quarto. Colocou um top, um short e calçou os tênis. Saiu para a varanda, calçou as luvas e começou a descarregar toda a sua frustração no saco de areia. Como as aulas on-line estavam uma bosta, ela decidiu dispensar Ken e fazia o treino sozinha.
Com os fones gritando em suas orelhas, teve a vaga sensação de que Jasper chegou na entrada da varanda e observou enquanto ela socava furiosamente o saco de areia. Bastet e Sekmet deitaram nas plataformas que serviam para que escalassem e corressem por toda a varanda em várias alturas diferentes. As duas, depois de um curtíssimo cochilo, começaram a correr e a brincar nas plataformas, na árvore de mentira e no chão. A feiticeira riu observando a cena enquanto bebia um pouco de água com o rosto e o corpo escorrendo de suor.
Evie sentia os braços e abdômen queimando. Então, começou a chutar. Chutou até que ambas as pernas estivessem bambas e quase dormentes com os exercícios. Depois voltou a socar. Intercalou os golpes até estar tão exausta que não mais conseguia erguer os punhos ou os pés. Seu fôlego, há horas, estava entrecortado, mas agora parecia que cada respiração era uma rajada de fogo por sua garganta. Beber água tornou-se uma tarefa complicada, pois o tempo que era necessário ficar sem respirar a fim de engolir a deixava com a sensação de sufocamento.
Pingando de suor e mal se aguentando de pé, Evie chegou ao quarto e entrou debaixo do chuveiro. As pernas tremiam e os braços pareciam pesar toneladas, mas lavou os cabelos mesmo assim. Deixou que toda a potência da água caísse sobre si, sobre os músculos cansados e doloridos. Depois de se secar, passar o hidratante e tirar o máximo de água dos fios, jogou-se na cama e acolheu de bom grado o sono que se seguiu praticamente em conjunto com o peso suave de suas gatas acomodando-se sobre ela.

*

Jasper impressionou-se com a resistência de Evelyn. A fêmea ficou nada menos do que quatro horas socando e chutando de modo praticamente ininterrupto. Sinceramente, estava chocado que o saco de areia permaneceu íntegro. Esperava encontrar o saco destruído e areia espalhada por toda a área de treinamento. Ficou tão desconfiado da cena que estava diante de si que caminhou até a área que Evelyn rodeou durante a descarga de raiva. Realmente não havia indícios de que o saco estivesse minimamente danificado fora as deformações dos últimos golpes que recebera é que já estavam desaparecendo.
Depois de beber mais um copo de água para tentar tapear a sede fudida que estava sentindo, ele se deitou no sofá e ligou a TV. Deixou um filme passando enquanto esperava o sono chegar e dormiu sem que percebesse e sem ouvir Evelyn se movimentar no quarto.

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