Capítulo 2 - Baltazar

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Baltazar tinha sido feito para a guerra, desde criança seu pai que havia sido soldado antes mesmo de Venâncio subir ao poder, sempre lhe ensinou há ser forte, que não havia honra maior que servir sua nação no campo de batalha.
Seu pai já havia partido há muito tempo, no mesmo ano que ele completara 18 anos de idade, mas deixou com ele suas lições sobre dever e honra.
Agora seu príncipe tinha ido atrás de ajuda em Avalor e deixado à batalha e a defesa daqueles povos em suas mãos, sempre amou sua cidade, seu rei, mas nunca pensou que poderia morrer defendendo outro Reino além de Westgard, ainda sim fora mandado para batalha e ia cumprir seu dever, não mais só por obrigação, mas por que com o tempo que passou ali convivendo com aquele povo, aprendeu a gostar deles.
Como os soldados não eram muitos, Hector antes mesmo de partir preferiu por segurança não levar a batalha para perto da cidade então eles acamparam muito a frente de Eslavos, não havia chance que o inimigo atacasse por trás ou pelos lados a cidade ou os vilarejos, com um acampamento quatrocentos metros há frente do primeiro vilarejo ele montavam guarda dia e noite, já haviam repelido o inimigo duas vezes e esperava que seu príncipe chegasse com reforços.
A chuva começa a cair do céu nublado, ele coloca seu capuz e sai procurando sua cabana no meio de tantas, ele entra, o vento soprando forte, lá dentro se encontra outros soldados reunidos perto de uma pequena fogueira, na verdade ali nenhuma cabana era só de um guerreiro, por mais que agora fossem poucos.
Haviam partido de Westgard com duzentos homens, juntando suas forças com o pequeno exercito de Eslavos que somavam uns seiscentos, e enfrentaram só uma fração do exercito dos Bárbaros. Eles atacavam como feras, mil homens sobre as Colinas mortas, Comandados por Abel, O corvo, senhor de uma das oito aldeias Barbaras do Oeste. Ainda sim resistiram e seu inimigo pretendia vencer pelo cansaço e medo, atacavam, recuavam e voltavam com as cabeças de amigos e irmãos de guerra, agora não restavam muito soldados, cerca de trezentos, e entre eles o único que não temia era Baltazar.
-Quando ele pretende voltar?
-Sabe que não sei... Responde Baltazar sentado dentro de sua tenda, junto com Dalibor e Barator.
Ambos eram Ruivos, com cabelos longos trançados e barba rala por todo o rosto, não eram idênticos, Barator era mais gordo que Dalibor, ainda sim eram muito parecidos.
Já Baltazar era careca, com longas barbas trançadas na ponta, formando uma divisão.
- Quantos soldados será que o inimigo ainda tem? Pergunta Barator.
-Não sei dizer, eles estão acampados a poucos quilômetros daqui, vá lá perguntar...
Dalibor Ri, mas seu irmão lança um olhar para ele, que para no mesmo momento.
-Foram só perguntas...
-Eu sei tanto quanto você Barator, então não me pergunte.
Um soldado coloca a cabeça dentro da cabana.
-Senhor. Posso falar com você um instante?
Baltazar sai da sua cabana, e coloca seu capuz novamente, pois a chuva ainda caia.
-Não sou seu senhor, somos iguais, agora diga.
-Os corpos, reunimos os corpos daqueles que conseguimos tirar do campo, o que vamos fazer?
-Eles vão ter uma cerimonia funerária adequada. Mande que empilhem lenha antes de anoitecer, vamos nos despedir e crema-los.
-Sim. O soldado já ia saindo, mas Baltazar o interrompeu.
-Espere, aproveite e mande uma mensagem para Horácio, diga que a comida esta acabando, peça para que mande mais...
Ele acena com a cabeça e sai andando rápido.

Haviam enfrentado uma batalha na manha daquele mesmo dia e não esperava um ataque à noite, ate por que se os Bárbaros se mexessem eles seriam avisados, soldados ficavam de guarda muito a frente, com o menor sinal de problema eles acenderiam a fogueira montada com um sinalizador, em pouco tempo estariam prontos para a batalha.
Começava a escurecer e a chuva não amenizava. Uma boa parte, pelo menos todos que estavam ali e tinham amizade com guerreiros que caíram durante a batalha se encaminharam ate o descampado onde haviam preparado tudo.
Não era muito longe dali para o caso de precisarem voltar, mas mesmo com o risco Baltazar achou necessário que fizesse isso, os Bárbaros carregaram muitos corpos junto com ele para usar do medo contra os soldados, muitos não tiveram chance, aqueles que haviam ficado tinham que ter uma despedida honrosa.
Todos são colocados sobre algumas pilhas de madeira, e um circulo se faz em volta dessa pilhas... Baltazar sabia que deveria tomar a palavra, mas por um instante recua.
Ele da o primeiro passo e se dirige ao meio dos guerreiros agora deitados sobre madeira preste a serem consumidos pelas chamas...
-Hoje não entoamos canções... Mas por quê?  Os homens que hoje se encontram aqui deitados nunca vão nos deixar, a coragem que tiveram perante o inimigo faz com que sejam lembrados, lutaram e morreram com proposito, enquanto nos lembrarmos de seus nomes e de suas façanhas, sempre estarão vivos...
Ele termina e caminha para sair dali, aquilo tudo, o deixava pesado, não gostava de pensar no que poderia acontecer, só esperava que acontecesse, por isso aqueles momentos sempre deixavam ele assim, refletindo, isso era ruim para um homem que teria de enfrentar uma batalha.
Soldados, parentes, amigos, se aproximam com tochas na mão e mesmo com a chuva o fogo parece cooperar com a despedida, muitos olhares sem esperança, tristes com medo, aquilo era o que a guerra trazia.
Sem olhar para trás ele caminha voltando para sua cabana, à lua já brilha muito no céu chuvoso, ele a observa por um instante, seria mais bonita se vista de outro lugar, mas no momento na tinha esse privilegio.
Continua caminhando ate chegar a sua cabana, mas não entra, fica parado em frente há ela, olha para trás e pode ver as primeiras pessoas já voltando, dentre eles Dalibor e Barator...

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