Assassino

Capitulo 4 RAIO

O sol enchia o pequeno aposento de luz, era cedo mas já se podia perceber que faria muito calor. O cômodo era aconchegante, bem diferente da cela onde foi colocado quando chegou. Deitado em sua cama, Jason olhava para o teto pintado de branco e com uma lâmpada fluorescente no centro, as paredes eram verdes claras, na que ficava em frente a cama duas prateleiras de madeira brilhantes por conta do verniz, alguns livros, papéis e um pote com alguns materiais escolares, na outra, a porta por onde entravam e saíam do cômodo e na parede de frente com a porta uma entradinha minúscula para um banheiro menor ainda, com uma privada decente uma pia e um pequeno espelho de rosto preso sobre a pia, fechando essa entradinha uma porta sanfonada bege, e ao lado dela uma pequena janela com grades de aço do lado de fora por onde entravam aqueles primeiros raios de sol daquela manhã.

Após a primeira seletiva, todos os "sobreviventes" haviam sido realocados para acomodações como aquela, mantendo exatamente a mesma disposição em que estavam no outro bloco, ou seja, Jason ainda tinha a mesma "vizinha", porém ela só se juntou a eles alguns dias depois do término das lutas, ela precisou desse tempo para se recuperar, pois a luta havia sido muito dura e tinha muitos ferimentos no rosto e escoriações pelo corpo que a impediam de realizar alguns movimentos o Mestre só queria vê-la de volta aos treinos totalmente recuperada.
Houveram ainda alguns jovens que não foram mais vistos depois da enfermaria mesmo tendo vencido suas lutas e quem saiu da enfermaria se perguntava onde eles poderiam estar, e se ainda estariam vivos.
A rotina de treinos mudou, antes da seletiva, muito treino físico e corridas longas para a resistência, agora o treino de artes marciais dominava 70% dos períodos de treinamento, judô, karate, jiu-jítsu, kung-fu, taekwondo, boxe, muay thai, todo e qualquer estilo de arte marcial que pudesse agregar algum movimento novo, alguma maneira de derrubar um oponente definitivamente era ensinada pelos mascarados, eles eram severos em seus ensinamentos, os vencedores treinavam cada movimento aprendido em seus parceiros, Jason não tinha um parceiro, treinava em um boneco sparring feito de borracha, mesmo sendo o primeiro vencedor, o fato de ter interrompido o mestre dava a ele a impressão de estar sendo constantemente observado e ter seu treinamento dificultado, sempre diziam a ele para correr mais 5km, fazer mais 3 séries de supino, entre outros, agora lhe davam um boneco molenga e levíssimo para aplicar movimentos de Jíu jitsu, oque não permitia a ele ter a noção de como aplicar exatamente os movimentos nem a força necessária 19 dias haviam se passado e ele sabia que não estava evoluindo isso o preocupava muito.
Nessa manhã enquanto olhava para o teto ele se perguntava oque poderia fazer para evoluir, estava claro que sem um parceiro adequado nos treinos ele seria massacrado por qualquer um dos outros jovens, além disso outra coisa não saia de sua cabeça, a lembrança das moças brincando no sofá, seriam sua mãe e irmãs? E se sim, estariam elas vivas e procurando por ele?
Mal esses pensamentos haviam saído de sua cabeça e o barulho do sinal de todas as manhãs mais uma vez avisou-o que mais um longo dia estava começando.
Ele saiu de seu alojamento, se encaminhou ao grande refeitório, tudo continuava igual menos o som ambiente, agora, ouviam-se vozes por toda a parte, sussuros e comentários em tom de voz contido vinham de todos os lados em direção aos seus ouvidos, após pegar sua bandeja e se encaminhar ao lugar onde sempre se sentava algo chamou sua atenção, ele forçou a vista para ter certeza e confirmou, lá estava ela, sentada à mesa em um canto sozinha e isolada, sua expressão feroz parecia intimidar qualquer um que pensasse em se aproximar. Ele ficou ali de pé com a bandeja nas mãos calculando em sua mente quais suas chances de ter êxito em uma aproximação, quando alguem o cutucou no ombro e disse:
__vai lá falar com ela, acho que ela está esperando por você!
Ele se virou e viu um dos garotos vitoriosos, ele era da sua altura, branco de olhos azuis e cabelo louro, tinha um rosto gentil, e uma fala contida e pausada, papo de quem pensa bem cada palavra antes de falar. Raio foi o nome que ele recebeu do mestre, com certeza uma referência a cor do seu cabelo. Jason não o conhecia, em geral ele ficava isolado no seu canto, fazia sozinho todas as suas refeições, Raio olhou para ele e continuou:
__ E então você não vai falar com ela mesmo?
Jason respondeu:
__ Não sei se ela está interessada em companhia, me parece ser bem reservada...
Raio então o convidou para sentar, e ali começou uma grande amizade.

No treino daquela tarde, Jason finalmente aposentou seu boneco sparring, pois a bela Sobrevivente se tornou sua parceira de treinamento.
Ela estava meio enferrujada depois da longa temporada na enfermaria, mesmo assim mostrava uma garra incrível para aprender cada movimento, eles treinaram algumas semanas sem trocar uma única palavra,
Enquanto todas as outras duplas se falavam, eles aprenderam um jeito de se comunicar em batalha apenas com o olhar. Jason queria muito conversar com ela, criar um laço, mas ela não parecia muito interessada na ideia, ele tentou puxar assunto algumas vezes, mas ficou falando sozinho, e finalmente desistiu.

O tempo passava Jason e Raio se falavam todos os dias, sobre os treinamentos, sobre suas impressões a respeito dos mascarados, dos outros jovens, da Sobrevivente e até do mestre, Raio dividia com ele sua intençaõ que era fugir daquele lugar, mas Jason sempre o lembrava que não adiantaria enquanto eles não soubessem quem realmente eram, afinal suas memórias ainda estavam apagadas, porém, pouco a pouco ele próprio começou a alimentar esse desejo de fugir e um plano começou a ser traçado em sua cabeça, ele tinha apenas uma certeza, ele e Raio não eram e nunca seriam capazes de fugir sozinhos, mais pessoas teriam que ser "recrutadas" para essa empreitada, sua grande dúvida era... Em quem ele poderia confiar?