Passo pelo portão de ferro que tinha a porta aberta e no grande tablado branco, haviam marcas de sangue carmesim.
Meus olhos correm ao redor do lugar, mas não encontram ninguém. Ajeito a mochila no ombro e começo a andar, reparando em como nada estava fora do lugar; algumas cadeiras que sente como se nunca tivessem saído de seu lugar no piso de concreto, os sacos de areia que costumava fazer uso, os aparelhos de academia gastos assim como os colchonetes amontoados no fundo da sala. E claro, o ringue.
O lugar é iluminado por pequenas luzes de teto, que piscam constantemente por conta da fiação elétrica, o que torna o lugar mal iluminado. O sol lá fora já quase se pôs por completo, e eu continuo procurando alguma alma mas parece que não há ninguém nesse buraco.
Me aprofundo na academia e então chego ao longo corredor onde há a porta de casa. As luzes piscando e o silêncio me deixam aflita. Bato na porta algumas vezes mas continuo sem respostas, então tento abrir e percebo que a porta esteve destrancada, a madeira faz contato com o chão e forço a porta para que ela abra e...
— Surpresa! — Uma expressão de gritos uníssonos me apavora e eu grito.
— Deus, vocês quase me mataram seus idiotas — digo com a mão no peito sentindo as batidas aceleradas.
— Eu senti tanta, tanta saudade — meu pai vem em minha direção com os braços abertos, ele me segura e suspira forte.
Enquanto retribuo o abraço, sou esmagada por mais dois brutamontes.
— Me soltem, estou ficando sem ar — minha voz sai arranhada.
— Você fica fora por quase três anos e é assim que volta? — a voz grossa e revoltada soa em meus ouvidos, sorrio porque mentalmente vejo o cenho franzido.
— Dois anos e oito meses não são quase três anos —digo ainda sorrindo.
— São sim — escuto o coro dos três garotos.
Lentamente nos desvencilhamos e finalmente posso os dar uma boa olhada, as linhas expressivas do meu pai começam a se tornarem mais profundas, mas seu sorriso continua o mesmo, seus lábios estão abertos em um sorriso cheio de dentes e sua sobrancelha cai sobre seus olhos. Ele fica ao meu lado e eu abro um grande sorriso.
— E aí panacas, quem é o próximo?
Meus irmãos sorriem entre si, enquanto Jake se aproxima, largando minha mochila no chão ao meu lado eu reparo em como seu cabelo loiro está estilizado em um corte pouco acima da orelha, deixado de lado; grande comparado à cabeça raspada que ele tinha quando os deixei.
Ele me abraça forte e rígido, podemos dizer que ele não tem muita experiência com atos de afeto. Ele se afasta e me olha rapidamente antes de desviar os olhos para baixo, ele está sorrindo.
Alec já está na minha frente antes que eu possa registrar, ele me abraça forte e apoia a cabeça no meu ombro enquanto eu apoio a minha própria na dele.
— Eu senti tanto a sua falta — ele diz com um sussurro.
— Também senti a sua, muito — posso sentir o nó na garganta se formar, mas empurro para baixo.
— Venha sentar, conte tudo sobre os lugares onde esteve e os amigos que fez — meu pai interrompe, me fazendo levantar a cabeça e olhá-lo.
— Certo, vamos — digo ainda abraçada em Alec.
Sempre tive uma boa relação com minha família, com família quero dizer meu pai e meus dois irmãos. Pequena, mas ainda uma família.
Cresci vendo meus irmãos lutando e treinando, eles me ensinaram tudo o que eu sei. Aos treze eu já queria lutar, mas obviamente nunca deixaram. As poucas pessoas que realmente me conhecem costumam dizer — não de uma forma ofensiva, eu acho — que eu fui exposta a muitas coisas quando criança, mas eu não concordo; minha infância foi como a de qualquer criança que tenha pais donos de pequenos negócios sem uma enorme renda. A diferença era que os negócios não eram uma barraca de cachorro quente e sim uma academia, não que tivesse uma grande diferença. Eu ajudava a organizar a academia e guardava um segredo sobre lutas clandestinas de ringue.
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Tablado | hes
FanfictionLevante sua guarda e proteja seu coração. Harley passou dois anos e oito meses fora de casa, ela tem a sensação de que tudo está como antes, mas a os novos segredos que sua família esconde apenas provam o contrário. O envolvimento de Harry com tudo...