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Mas que porra?

Eu estava perdida, sentia meus ombros baixos e pesados, não acreditando ou entendendo o que acabei de testemunhar.

— Mas que porra? — digo em voz alta dessa vez, olhando para os três garotos com olhos arregalados.

— Harley, querida — meu pai se aproxima, botando a mão nos meus ombros — nós precisamos conversar.

— Ah, não me diga!

— Por favor, Harley. — foi a Alex quem chamou minha atenção, puxando uma cadeira da mesa e fazendo sinal para que eu me sentasse.

Meu pai me acompanha, puxando outra cadeira e sentando a minha frente.

O silêncio é insuportável.

— Então? — digo, querendo respostas.

Jake se aproxima, ele continua em pé porém, ao lado do meu pai.

— Precisávamos de dinheiro, estávamos quebrados. Um lutador contou sobre um cara barra pesada que emprestava dinheiro. Harry. Fomos até ele e pegamos um empréstimo, quando ele viu que não conseguiríamos pagar, quebrou a mão do Alec e ameaçou nos matar. Então entramos em um acordo de que nós poderíamos sediar as lutas clandestinas do chefe dele, afinal nós já fazíamos antes.

Alec se aproxima e da um tapa na nuca de Jake.

— Muita informação, imbecil, por quê não foi com mais calma?

Meu pai pega minhas mãos e olha nos meus olhos.

— Harley, tudo bem?

— Não? — fico incerta no primeiro momento — Não! Mas é claro que não.

Me levanto bruscamente e começo a andar pela cozinha.

— Por quê precisavam de dinheiro?

Os meninos se olham, e então Alec toma a frente.

— Tivemos um problema com um dos... — ele olha para meu pai rapidamente antes de olhar para mim de novo — sócios, da academia.

— Como assim? — cesso meus passos o dando total atenção.

— Fomos processados — meu pai diz, e como se fosse prever minha próxima pergunta ele adianta — uma falha em um dos equipamentos resultou em um acidente.

Tenho minha boca entreaberta e a testa franzida.

— E por que– por que não falaram comigo? Eu poderia ter ajudado, eu—

— Harley, não, você não poderia — Alec diz firme.

— Você não sabe! Eu poderia ter arrumado um jeito melhor de fazer as coisas.

Eu já tinha levantado minha voz e me arrependido.

— Um jeito melhor? — Jake diz gritando, entre risos — sério?

— Bem, ao menos melhor do que o jeito que vocês fizeram! — eu continuo com a gritaria — olhe com o que vocês se meteram–

— ERA O ÚNICO JEITO! — Jake está possesso, ele grita, mas eu não recuo. Alec está vindo em minha direção — Você não sabe pelo o que passamos quando você se foi, não sabe o que tivemos que fazer enquanto você estava vivendo o seu sonho, enquanto você estava feliz.

Seu tom de voz foi firme e suas palavras foram como arranhar cacos de vidro pela pele.

— Como você queria que eu soubesse alguma coisa quando tudo o que fez foi me deixar no escuro?

Deixo transparecer a mágoa que ele causou em mim, na minha voz.

— Vocês me ignoraram todo esse tempo, estavam com problemas e não me falaram — Alec tem a mão no meu braço, me puxando em direção a sala — não me faça de errada, Jake. Você que deveria ter me dito que estavam com problemas.

Alec me leva em direção ao quarto, e quando ele fecha a porta eu começo a chorar. Ele segura minha cabeça e ombros enquanto me abraça.

— Por que não me disse? — minha voz é rouca pelo choro, estou molhando sua camisa.

— Ele não quis dizer isso, está com raiva. E não é de você. — ele encosta a cabeça na minha.

— Por que não me disse? — repito a pergunta, querendo respostas.

***

Alec disse que estamos com problemas, e dos grandes.

Quando meu soluço acabou e me restou apenas um rosto inchado e lágrimas silenciosas, ele disse mais.

E por Deus, eu gostaria de não saber.

Harry é sim, perigoso, muito. Mas ele é o mais manso — segundo meu irmão, eu ainda o acho instável —, mas ele disse que ainda é bom tomar cuidado.

Corpos e drogas não me chocam, o que me choca é que minha família estava em problemas e ninguém me disse.

Harry era um traficante e também fazia serviços sujos, para seu chefe. Quando Alec disse isso, pensei que ele era como nosso primo, mas logo descobri que ele ainda sim é importante o suficiente para também ser chefe, e que até os caras mais perigosos pensam duas vezes antes de o importunar.

Perguntei a Alec quais os serviços que eles teriam que fazer, e se ele e meu pai também estariam envolvidos; e quais provas de que Jake teria o roubado ele tinha.

Todas as perguntas tiveram a mesma resposta.

Ele não sabe.

Já passa da meia-noite, e eu continuo no meu quarto. Quando penso que estou bem, lágrimas silenciosas descem pelas minhas bochechas ao recordar das palavras de Jake.

Eu estava vivendo o meu sonho e eu estava feliz. E agora sinto culpa.

Por mais que eu não tivesse como saber o que acontecia, e tivesse notado o quão escassa estavam as ligações e mensagens, eu deveria ter insistido mais.

Mais ligações, mensagens, cartas, um sinal de fumaça talvez, ou um grande cartaz pendurado em um avião. Talvez um comercial na TV.

Fico me perguntando como tudo aconteceu, como eles estavam tão desesperados. Normalmente quem agia com calma e tomava decisões lógicas era eu. E eu não estava aqui quando a decisão mais lógica deveria ser tomada.

E Harry me parece que vai ser uma pedra no sapato. Eu o vi quebrar um homem em pedaços em segundos, após ter sido espancado, devo ressaltar.


Eu temo pela segurança dos meus irmãos e do meu pai, não sei do que ele é capaz.

Não entendo o por que de não questionarem sobre as tais provas, não é justo que Jake pague por algo que não fez, e Harry me parece ser, embora alguém calmo, descontrolado.

***

Tablado | hesOnde histórias criam vida. Descubra agora