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Jake chegou com um olho roxo em casa.

E, aparentemente todos sabem o motivo, menos eu.

Segredos e mais segredos. Estou cheia deles. Eles não acham que eu poderia me proteger melhor se eu soubesse com o que estamos lidando?

Proxenetas, para alguém supostamente novo, Harry tem o vocabulário de um velho. Não tive muito esclarecimento dele depois, quando ele me deu uma vaga resposta sobre o porquê eu não deveria andar para casa tarde da noite.

Isso significa que pessoas estão atrás de mim? Esse tipo de pessoas? Por que eu? Por que Harry teve que me buscar no trabalho? E o que Jake estava fazendo que não pode ir me buscar? Por que diabos Jake parece que saiu do ringue todo o santo dia?

Foram essas e outras perguntas que levaram ao dia de hoje, agora, na mesa de jantar.

— Eu só queria saber-

— Mas já dissemos que você não precisa.

— Mas estão atrás de mim!

— Você não sabe disso.

— Então por que estão agindo como seguranças atrás de mim onde quer que eu vá?

O silêncio se instala e parece que ninguém sabia que eu já tinha percebido. Não sei quanto tempo faz, mas foi só há alguns dias que peguei Alec me espionando. Pensei que ele só estava muito curioso, apenas xeretando, mas então isso persistiu. Quando eu ia ao mercado, passear, ou simplesmente do outro lado da rua; Alguém sempre estava lá.

— Nós só queremos te ver em segurança. É tudo — Alex, como sempre, fala calmamente.

— E eu só queria saber o que está acontecendo.

Jake sai da mesa e meu pai o segue, Alec me encara e solta um suspiro.

— Você não tem com o que se preocupar, Harley.

Eu rio.

— Meu irmão chega em casa todos os dias parecendo que levou uma surra, você e papai parecem nem existir. Não sei o que está acontecendo, e isso me preocupa.

— Essa não é você falando, é o seu lado controlador.

— E o que essa merda tem a ver?

— Olha a boca! — escuto meu pai gritar de algum lugar da casa.

Eu só queria saber o que está acontecendo.

***

Venho fumando escondido desde que voltei.

Com Alex na minha cola fica pior ainda. Nunca sei se realmente estou sozinha.

Tentei fumar uma vez dentro do quarto, abri a janela e me sentei no peitoril. O que foi uma péssima ideia, pois não é como se a janela do meu quarto desse para uma rua ou algo do tipo. Tudo nessa maldita casa fica em torno da academia, e eu só fui lembrar disso depois que o cigarro já estava aceso e as cinzas pesando na ponta. Acabou comigo seis e meia da manhã escondendo um lençol furado no fundo do saco de lixo.

Hoje está uma noite tipicamente fria, minha falta de roupas não me ajuda muito com o vento gelado que bate no meu corpo. Estou do outro lado da rua da academia, próxima a uma lixeira, o que me dá tempo o suficiente para disfarçar caso alguém venha atrás de mim. Tenho feito isso ultimamente, tento sair despercebida e depois entro para dentro de casa correndo para tomar banho, tentando evitar o cheiro.

Não posso evitar de repassar as últimas discussões na minha cabeça. Sei que meus irmãos ainda me veem como sua irmãzinha, que eles acham que tem a obrigação de me protejer. E eu também sei que minhas atitudes não me ajudam muito.

Talvez eles me achem infantil, talvez eu seja. Mas não é como se alguém tivesse me ensinado a me impor de outra forma. Eu não sei fazer outra coisa, eu só sei brigar. Discutir.

Mas venho trabalhando nisso.

Tive boas conversas com uma colega de elenco que também era terapeuta, no começo fiquei meio na defensiva, porquê ela definitivamente sabia o que estava fazendo, me lia como a palma de sua mão, ela me via de forma muito íntima... literalmente.

Eu fortemente acredito que minhas conversas com ela me ajudaram de certa forma, em coisas muito mais profundas nas quais eu nunca quis realmente me aprofundar. Minha raiva, meus medos, minha sexualidade, e minha mãe.

Ouço passos arrastados sob o concreto, e meu cérebro insiste em criar mil e uma situação apenas com o barulho de solas de sapato. Em todos os cenários eu não saio bem, talvez eu esteja mais assustada do que me permiti perceber.

— Não devia estar fora de casa essa hora — meus músculos, que eu nem sabia que estavam tensos, imediatamente relaxam quando eu reconheço a voz.

Me viro, dando de cara com o par de olhos de olhos mais verdes que eu já vi em toda a minha vida. Escaneio levemente o local atrás dele, não vendo nenhum carro ou qualquer coisa que indique como ele chegou até aqui. Levanto minha mão e levo até os meus lábios, pegando o cigarro que eu tragava e segurando entre meu polegar e indicador.

— Por que? — franzo o cenho, falando de forma inocente.

Ele me olha de cima a baixo, analisando algo que não sei bem o que é. Seu olhar volta ao meu e se trancam comigo.

— Porque caras como eu podem estar por aí, amor — ele dá um meio sorriso, como se estivesse dizendo algo extremamente sedutor, — seus irmãos sabem que fuma?

O olho perplexa, eles sabem? Não, mas como isso é da conta dele?

— Quantos anos você acha que eu tenho? Dezesseis?

— Mentalmente? — me encara sério, mas ao mesmo tempo seu olhar é tranquilo como se estivéssemos tendo uma conversa entre amigos — tem a idade de um garoto de doze.

— Você disse o que?

Pressiono meus olhos, tentando entender o seu comentário, o que ele quis dizer com isso?

— Era só o que me faltava mesmo — resmungo entre dentes, colocando o cigarro entre meus lábios novamente.

— Vou ir falar com o seu irmão, tem cerca de dez minutos para apagar isso é entrar.

Por um momento fico estática, esperando que ele dessa uma risada, ou dissesse algo que indicasse que ele estava brincando.

— Você está falando sério? — minhas palavras saem um pouco mal ditas, por conta do tabaco nos dentes.

Seus passos seguem para mim, ele agora paira bem a minha frente, sua mão sobe para o meu rosto e seus dedos rodeados de anéis agarram o cigarro da minha boca.

Continuo o olhando com um rosto entediado, o observo levar o cigarro até seus próprios lábios. Seus olhos se desgrudam dos meus e olham para sua própria mão, eu observo suas bochechas afinarem ao puxar a fumaça, ele segura por alguns segundos e então solta o ar, se eu não estava fedendo antes, agora eu definitivamente estou.

Se não fosse exagero, diria para ele que senti meu cabelo absorver a fumaça.

— Espero que quando eu voltar, você não esteja mais aqui.

Ele diz, se movimentando e atravessando a rua, com o meu cigarro ainda entre os lábios.

Se ele não quer ver minha cara, que não venha até a minha casa.

***

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⏰ Última atualização: Sep 13, 2023 ⏰

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