King of my heart

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Steven ficou de pé e eu o sentia movendo-se quase que imperceptivelmente.
- Sinto muito, você parecia gostar muito dela. - eu falei enquanto engolia com dificuldade a sensação de estar prestes a fazer algo que eu quero muito mas que provavelmente não deveria.
- Acho que esse era o problema, afinal. Eu gostava muito dela mas não importa o quão esforçado e dedicado um garoto é, se ele não nasceu na família certa, ele vai ser sempre o errado.
Enquanto Steven falava - e se aproximava -
eu sentia o peso que aquelas palavras tinham. Apesar de eu não querer admitir, ele gostava mesmo dela, mesmo que isso doesse demais em mim, os olhos que ele me olhava agora nunca seriam os mesmos que olhavam pra ela, agora eu via uma tristeza profunda, uma necessidade urgente de se desligar de tudo, de encontrar uma coisa pra se distrair. Existe uma urgência que bate em mim, me tornando quase como um animal que age por instinto, eu quero muito ter meus lábios tocados por ele, quero que suas mãos deslizem sobre meu corpo, quero que ele perca o ar enquanto me beija, e essa é uma das coisas mais tristes que já senti. Eu sempre imaginei esse momento roteirizado como um conto de fadas, ao longo dos anos tomou um ar de comédia romântica e, agora, parece um drama.
- Tá tudo bem? - Steve disse, chegando ainda mais perto e eu assenti, com medo que a minha própria voz me traísse.
O desejo queimava a minha pele na minha intensidade que a decepção em meu coração, um sentimento paradoxal urgia de mim, finalmente eu desfrutaria de um momento que imaginei durante toda minha adolescência mas, ao mesmo tempo, meu coração se partia em vários pedaços, eu sabia que não parecia certo. A vaidade seria deixada de lado, o orgulho, o amor próprio, tudo valeria por um ato sensorial? quanto mais perto Steve chegava e mais próxima eu estava de sua boca, mais eu sentia minha capacidade de me colocar em primeiro lugar se esvaindo.
- Achei vocês! - Jeremiah surgiu e em menos de um segundo Steve já estava a uma distância normal de mim. Eu soltei o ar que nem sabia que estava prendendo. - Vocês sumiram, vocês tinham que ver, a Gigi vomitou em cima do Cam Cameron, foi hilário. - Se Jeremiah percebeu algo ele agiu como se fosse a pessoa mais cega de todo planeta. Steve murmurou alguma desculpa e saiu da varanda, não fui capaz de disfarçar a decepção em meu rosto.
- Tudo bem? - Jere perguntou e pela primeira vez desde que chegou eu senti verdade em seu rosto.
- Ah, sim. Só acho que pra mim já deu, melhor ir pra casa. - Disse enquanto já caminhava em direção a porta.
- Eu levo você.
- Não precisa, Jere, você nunca vai embora de uma festa a esse horário, não são nem 1h ainda, relaxa, eu posso ir andando.
- Não tô aberto a discussões, bibi. Só fiz uma afirmação. - Jere sorria enquanto estendia seu braço e me conduzia até as escadas.
Já no carro, senti um embrulho em meu estômago, talvez fosse o fato de que bebi vodka pura e mal tive tempo pra processar isso, unido ao desespero de beijar uma pessoa incrível mas que você não queria e quase beijar alguém que você queria mas que não é tão incrível assim. Uau. Pra quem não fazia nada até que minha vida deu umas boas voltas em uma noite.
- O que rolou com vocês? - Jere disse sem tirar os olhos da estrada.
- Como assim? - preferi me fazer de desentendida, minha cabeça não parecia querer lidar com isso tanto quanto eu.
- Qual é, Beatrice, eu sei, você sabe, o Steve sabe, alguma coisa ia acontecer entre vocês se eu não tivesse chegado. - não sei se foi impressão minha mas sua voz parecia diferente, não sei de qual forma exatamente.
- Ele e Shayla terminaram. - eu falei enquanto colocava minhas mãos em meu rosto, tentando minimizar a vergonha.
- Trixie...
- Eu sei, ok? Eu sei que não é legal ser usada de tapa buraco mas você nunca vai entender, - Minha voz estava embargada com a dor que eu não queria expressar- Jeremiah, gostar de alguém que você não pode ter é como você olhar sempre aquele brinquedo incrível do parque de diversões e desejar muito, mas não ter altura o suficiente. Mas não aconteceu nada, ok? então, por favor podemos fingir que nada disso aconteceu? - Jere me olhou com os olhos azuis que cintilavam mesmo na baixa luz do carro e eu tive a impressão de que ele queria dizer algo, mas, ao invés disso, pressionou os lábios e só concordou.
Seguimos em silêncio até em casa, não um silêncio constrangedor, um silêncio reconfortante. Jeremiah era meu melhor amigo por esse e outros vários motivos, eu podia contar com a voz dele pra me confortar a qualquer momento, mas, principalmente, sabia que podia simplesmente só contar com ele, com sua presença e sua capacidade de estar ao meu lado e me fazer me sentir segura.
- Quer fumar maconha?
- O que?! - Olhei com os olhos arregalados para Jeremiah enquanto entrávamos em casa.
- Sabe, aquela coisa que você enrola em um papel de seda e...
- Eu sei o que é, Jeremiah. Só achei esquisito você me chamar, desde quando eu posso fazer isso? Eu e Belly nunca fomos chamadas para as coisas legais, só para o filmes e noites de jogos.
- Primeiro, eu não falei nada sobre chamar a Belly, Laurel iria me matar caso eu fizesse isso. Mas, ok, Trixie, esquece, você tem razão, acho que me deixei levar pelo momento.
- Não, não! Eu quero, Jere, por favor, eu juro que não conto nada pra ninguém! - Jeremiah me olhou como se eu fosse uma criança pedindo para comer um doce antes do jantar - Ok, vamos pro meu quarto. - Ele disse vencido.

- Calma, Jere. - Eu disse enquanto tentava bolar meu primeiro baseado. - Você tem que ter paciência comigo, é a primeira vez que eu faço isso. - Por incrível que pareça é muito mais difícil do que parece e minha tendência ao perfeccionismo não facilita as coisas.
Ele tentou tirá-lo de minha mão.
- Não, Jere, espera. Eu faço.
Ele me olhava com sorriso no rosto, eu tinha que fazer isso sozinha.
- Oh, espere, acho que agora vai. - Eu estava genuinamente dedicada à perfeição.
- Você tem que passar a língua, assim, espere. - Ele tomou da minha mão e fez ele mesmo.
- Ah, isso parece bom. - Depois de ajeitar e acender, finalmente tive a minha primeira experiência ilícita da minha vida. Tossindo muito.
- Maconha é superestimada. Não tô sentindo nada de diferente. - Eu afirmei enquanto estava deitada na cama de Jere com ele ao meu lado, ambos encarando o teto.
- Claro que está, você só não consegue perceber. - Virei meu rosto em direção a ele, que já estava olhando para mim e começamos a rir.
- Tem razão. - rir parecia automático
Meu corpo estava tão relaxado quanto minha mente, eu me sentia ao mesmo tempo que muito ciente de cada parte do meu corpo, como se não fosse eu mesma, como se estivesse longe de mim. Jeremiah parecia acostumado mas eu percebi que ficava olhando pra mim e sorrindo o tempo todo, queria saber do que ele estava achando graça, mas meu corpo estava ficando cada vez mais pesado, minhas pálpebras fechavam e eu piscava cada vez mais lentamente, até que deixei a escuridão me consumir.

O verão que também mudou a minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora