Foolish one

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Todos estavam fazendo algo na festa, parecendo estar se divertindo de verdade. Belly estava conversando com o tal menino já fazia uma hora. Eu tentei não ficar na visão dela pra ela não perceber que eu estava sozinha e acabar atrapalhando o lance deles mas acredito que mesmo se estivesse plantada na frente dela ela perceberia, não que eu estivesse chateada com ela, pelo contrário, eu estava feliz que, finalmente, depois de muito tempo, ela tinha alguém na cabeça e não era Conrad. Infelizmente a paz durou pouco, depois de eu beber algumas cocas colas, alguns caras absurdamente bêbados tentarem me levar pra casa e o Jere passando 5 minutos comigo para que eu não me sentisse patética, começou uma confusão, totalmente previsível pelo grau de alcoolizados que eles estavam e a quantidade de tempo que estavam ali. O que me surpreendeu foi ter sido com Conrad, não entendi muito o que rolou mas ele estava discutindo com um garoto e dizendo alto para devolver sua cerveja. Eu e Belly nos encontramos quando levantamos e seguimos pra perto deles. E a partir daí deu tudo errado. Conrad levou um soco, Belly e seu instinto apaixonado correram para ajudar, o que resultou numa cotovelada do estranho, Belly caiu e eu fui ajudá-la, Jere e Steven já estavam no meio tentando separar. Eles só pararam quando ouviram o barulho dos policiais chegando. Bom, nós queríamos uma noite marcante e ela foi.

Chegando em casa conseguimos contornar a situação muito bem. Laurel nem desconfiou do fiasco que tinha sido, nos deu boa noite e subiu. Belly foi nadar, eu subi para tomar banho e finalmente poder pegar meu livro. Tomei banho e Belly subiu, conversamos sobre o que tinha acontecido, a ouvi falar de Cam por uns bons minutos, era muito bom ver minha melhor amiga feliz. Desci pra fazer um chá e resolvi ler na piscina, estava deliciosamente silencioso lá.

No dia seguinte acordei e Belly não estava lá, tinha deixado um bilhete dizendo que iria ver baleias com Cam. Sorri pensando em como poderia ter surgido um convite tão único assim, "ei que ver baleias amanhã comigo assim que o sol nascer?". O dia passou rápido, fomos à praia, comemos todos juntos, terminei um romance que tinha já tinha lido umas vinte vezes, sempre o trazia para Cousins, era como um ritual, era o primeiro livro que eu lia e era o único que eu já havia lido antes, eu gostava de ler todo ano porque a cada verão ele soava diferente para mim. Esse era um dos fatores que eu mais amava nos livros, eles eram únicos, as mesmas palavras podiam significar coisas distintas para mim e para outra pessoa, ou até mesmo pra mim, em momentos diferentes. No último verão eu me senti inspirada depois que terminei o livro, como se tivesse muita coisa pela frente, hoje eu me senti pesada, triste, como se tivesse extraído somente as partes ruins do livro. Me permiti pensar em Steve e na menina de ontem. Será que ele estava apaixonado? Eles já se conheciam? Ela estava apaixonada por ele? fui obrigada a sair do meu transe autodestrutivo quando Belly jogou uma jujuba em mim.
- Ei, eu estou falando com você. Terra chamando Beatrice. - ela disse
- Você pode por favor tacar somente as laranjas? são minhas favoritas. - eu disse agarrando a jujuba que ela atirou
- Tá tudo bem com você?, você sempre fica meio pensativa depois que termina esse livro mas dessa vez eu senti que devia intervir. Foi algo com o idiota do meu irmão? eu sinceramente não sei o que você vê nele - Belly disse, era incrível o quanto ela me conhecia, eu nem precisava dizer nada para que ela soubesse o que passava na minha cabeça.
- Ontem quando você estava com o Cam eu o vi sozinho e resolvi falar com ele. Ele foi simpático mas mal olhou pra mim, nossa conversa durou umas breves palavras porque surgiu uma menina. Eu juro, Bells, eu nunca tinha visto o brilho que vi nos olhos dele, acho que ele está apaixonado. - Eu disse tentando parecer madura e não uma menininha com o coração partido.
- Eu vou sufocar o Steven durante o sono, B. Estou te dizendo. Ele não merece que você goste dele, nem um pouquinho. Eu queria que ele tivesse noção do quão incrível você é, ele seria o cara mais sortudo do mundo em ter você, ele não tinha o direito de magoar você assim. - Belly segurou minha mão enquanto tentava me consolar
- Está tudo bem, Belly. Eu juro. A única pessoa que me magoou foi eu mesma, eu criei as expectativas, eu me apaixonei pelo o que eu idealizei dele na minha cabeça. Eu não posso ficar magoada por saber que ele não atendeu às expetativas que eu impus a ele, não quando ele não tinha a mínima obrigação de satisfazê-las. - eu argumentei, me levantando para subir.

 O dia seguinte amanheceu lentamente, não consegui dormir com a cabeça cheia então resolvi ler na área da piscina. Eu amava passar meu verão com todos eles, eu fui criada com família cheia apesar de ser filha única, então eu gostava do caos que era já que quase não via minha família. Mas havia algo extremamente satisfatório no completo silêncio, sentar para ler observando as estrelas e sendo capaz de ouvir as ondas baterem não tão distante dali, era como reabastecer minhas baterias depois de um longo dia. Eu tinha um sentimento de que as coisas não seriam como eu planejara, o verão seria o mesmo de sempre, afinal, eu era a mesma de sempre.
- Oi, não sabia que você estava aí. Acordou cedo? - Conrad se aproximou e sentou ao meu lado.
- Não consegui dormir, acho que ainda não acostumei. - eu sorri levemente - E você?
- Resolvi surfar, também não consegui dormir muito bem. Quer vir? - Conrad ofereceu
- Eu nao sei me equilibrar em minhas próprias pernas, ficar em pé em cima de uma prancha não parece humanamente possível pra mim. - eu ri - mas obrigada por me chamar.
- Eu posso te ensinar, não é tão difícil assim, eu me lembro de quando tínhamos uns 10 anos e você tentou surfar, não foi tão ruim. Vamos, B. - Conrad sempre foi assim comigo, tentava me incluir nas coisas para que eu não me sentisse deixada de lado. A realidade era que eu era até boa no surfe, os verões que passei com os meus primos no Brasil me renderam várias experiências incríveis no litoral, eu só estava chateada e não queria sair do meu conforto. O olhar de Conrad dizia que ele não iria sair dali até que eu concordasse em ir com ele.
- Ok, Connie. Vou me trocar, te encontro em 5 minutos. - Disse enquanto caminhava até a casa.
Subi e encontrei Belly ainda dormindo, afinal o dia tinha acabado de clarear. Tentei fazer o mínimo de barulho possível, me troquei e desci para cozinha, peguei uma banana e encontrei com Conrad com as pranchas. A caminhada até a praia foi praticamente silenciosa, só uns "acho que as ondas estão ótimas hoje" e "ah sim" "uhum", o bom de Con era que ele entendia meu silêncio e eu entendia o dele, não precisávamos falar, gostávamos de ficar juntos em silêncio.
Depois de entrar no mar e levar algumas porradas das ondas eu me sentei na areia para sentir o sol na minha pele.
- Até que você não é tão ruim. - Conrad se sentou ao meu lado.
- Eu sou melhor do que Steven disparado, e ainda tive bem menos aulas do que ele. - eu disse sorrindo.
- Steve fez Laurel pagar umas cinco aulas com um cara aqui da praia para finalmente perceber que ele só queria estar perto de uma menina e não do mar em si. - Con e eu rimos mas logo ficamos quietos olhando para o mar.
- Sabe, você acha que mudou em relação ao último verão? - perguntei a Con sem deixar de olhar para o mar, o dia estava lindo, o céu estava num azul vibrante e quase sem nuvens.
- Como assim? fisicamente? ou no geral? porque fisicamente eu acho sim que estou ainda mais gostoso, se é que é possível. - rimos juntos e eu dei um tapa de leve em seu ombro. - Acho que sim, coisas aconteceram e eu tive que mudar. Acho que ninguém permanece o mesmo depois de passar por tanta coisa, é só o esperado. - Conrad olhava para o mar e eu juro ter visto uma pontada de tristeza em seu rosto.
- Você diz por causa dos seus pais? - eu percebi a mudança no semblante de Susannah só de falar do sr. Fisher, ela não parecia decepcionada com o fato dele não aparecer no feriado, na verdade parecia aliviada.
Conrad ficou em silêncio por alguns segundos.
- Na verdade, é mais do que isso... - ele seguiu mas foi interrompido por Jere e Steve que corriam em nossa direção.
- Vocês estão aí. Caramba, a gente estava te procurando, Connie. Marcamos de pegar as meninas hoje, lembra? - Steve disse e eu tentei não deixar meu sentimento transparecer quando ouvi "meninas". Com certeza Steve levaria aquela menina da praia, nem mesmo em casa eu fugiria disso.
- Já estávamos indo, não é, B? - Conrad já se levantava.
- Na verdade, eu vou fazer uma caminhada antes de voltar. Jere, você pode levar a prancha pra mim? - pedi
- Claro. Volte logo, as meninas vão adorar te conhecer, Nicole e Shayla são ótimas, você vai ver. - Jere ofereceu seu melhor sorriso.
- Acho que sim. Vejo vocês mais tarde. - os meninos assentiram e fui para o lado oposto, tinha que me preparar para uma tarde nada fácil. 

Pensei sobre o quão intensos esses dias tinham sido, se estávamos realmente vivenciando o nosso melhor verão, se eu estava vivendo meu melhor verão. Senti falta dos meus pais, apesar de ter pouco tempo longe deles senti um aperto ao pensar na distância, meus pais eram uma parte de mim que, não importa o que houvesse, não mudaria. Ao longo dos anos eu já tinha visto Steve com muitas garotas, mas todas pareciam ser apenas passageiras, já Shayla não. Eu mal vi Steven em casa esses dias, quando ele não saía com os meninos, ele estava com ela. Eu ouvia os sussurros dele contando o quão longe já tinham ido ou quando iriam se ver novamente. Ouvi Jere dizer uma vez a Steve que ele deveria parar antes que Shayla o prendesse de vez, bom, acho que ele não quis. Talvez fosse isso que mais me deixava com o coração doendo, o fato que ele havia finalmente escolhido sua garota favorita, e ela não era eu.

O verão que também mudou a minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora