Eu costumava manter os rascunhos das minhas composições em uma mala. Eu achava que seria mais fácil de carregar, mas ai ela foi crescendo, crescendo e crescendo. O mais louco de tudo é que ficou muito pesada e só tinha papel lá. As pessoas perguntavam, "Que porra que você tem aqui cara? Colocou pedras foi?" E eu dizia, "Não". Quando eles abriam saia aquele tanto de papel. Tinha anos de peças de composição - talvez dois ou três anos - e isso é muito para mim. Eu ainda tenho a mala. Eu deixei de lado e foi la que achei esses rascunhos.
Ler os meus rascunhos as vezes fica confuso para mim. Passo aperto pra entender o que é aquilo, mas quando eu estou realmente trabalhando na música, eu sei exatamente onde está tudo e o que aquilo significa. Quando eu volto a olhar, anos depois, eu me pergunto, Como eu sai daqui para ali? Eu vou pular palavras para as pessoas não descobrirem o caminho que estou seguindo, no caso de minhas composições pararem nas mãos erradas. Isso é para a proteção de minha composição.
Quando se trata de escrever, as coisas vem até mim. Eu posso estar em qualquer lugar. Se eu tiver uma ideia, rapidamente trato de escrevê-la, ali naquele momento, ou vou perdê-la. Eventualmente todas elas acabam em uma música em algum lugar. Dre sempre diz: "Cara olhem só para esse pequeno traço de galinha cara! Eu nunca vou entender o que está escrito nem se eu quisesse".
ALL I KNOW PART 2
NA VIDA REAL, RAP É A ÚNICA COISA QUE SEI FAZER BEM. Eu tenho uma fascinação pelo filme "Rain Man". O título daquela música veio ate mim na cabine - nem tinha sido escrita ainda. Eu apenas disse: "Rain Man". O que eu queria dizer era que é isso que eu sei fazer; rap. Eu posso entrar no meu carro e dirigir, mas eu não sei achar os lugares. Eu não sei para onde é o norte, sul, leste e oeste. Meu senso de direção é horrível. A música fala "I don't know how else to put it, this is the only thing that I'm good at". E é verdade. Eu sempre esqueço as minhas chaves, a minha carteira. Quando eu ia a Nova York me apresentar eu entrava no metro e descia uns 14 quarteirões do local, na direção errada.
Quando eu comecei a trabalhar no Encore, eu me sentia acabado. Algumas das minhas músicas ja tinham vazado - Bully, Love You More, We as Americans. As músicas caíram na internet e eu tive que recomeçar do zero. Escolhemos gravar em Orlando porque era verão e era um bom lugar para as crianças - do Dre e as minhas. eu fui até la com nada, sem nenhuma ideia. Eu tinha uma linha "You find me offensive/i find you offensive" na minha cabeça e não tinha ideia da onde ir com isso.
Em Orlando, trabalhamos no estúdio do Lou Pearlman - o que era engraçado já que ele costumava trabalhar com os Backstreet Boys e N Sync. Dre e eu acabamos escrevendo 16 músicas, mantivemos 11 delas. Sempre que o Dre fazia uma beat eu iria à outra sala e escrevia com ela. Eu não sei o que tem lá em Orlando - deve ter algo na água. As vezes eu e Dre passamos por um período de seca, onde ele vai a Detroit trabalhar comigo ou eu vou a LA trabalhar com ele e a coisa não acontece. Mas em Orlando foi só começar e a coisa voou.
Gravar o Encore me lembrou a minha primeira sessão de estúdio com o Dre em 1998. É verdade que Dre deve ter ouvido o meu freestyle no Sway e Tech no "Wake-up Show", mas ele não pensava em produzir comigo até Jimmy Iovine fez ele ouvir a minha fita cassete do The Slim Shady EP. Quando Dre e eu começamos a trabalhar fizemos "My Name Is" e mais duas outras faixas no primeiro dia de estúdio. Eu não me lembro de ter dormido muito nas primeiras semanas do The Slim Shady LP, tudo que eu fazia era escrever. Eu passei a noite inteira escrevendo algumas partes de My Name is e no outro dia gravamos. Quando acabava Dre sentava na cadeira e levantava as mãos para cima.. Ele começava a bater palmas e eu pensava "puta merda! É o Dre que esta reagindo assim a minha música". A primeira vez que Dre me deixou produzir foi em "The way I am". Eu estava muito feliz. "The way I Am" foi minha revolta contra a Interscope que me mandava escrever mais uma música pop. originalmente eu pensei que Who Knew seria o primeiro single do The Marshall Mathers LP. Dre e eu achamos que o álbum estava pronto. Mas ai a gravadora mandou voltar e escrever de novo. No avião eu tinha esse som de piano na cabeça e eu queria rimar com ele. Foi assim que acabei rimando naquele estilo. Tentei uma batida comum e não deu certo, Não fazia sentido. E ai o Dre me explicou que muito do que eu estava fazendo era a produção da música. Eu ia ao Bass Brothers e grava as coisas com eles, mas eu não podia toca-la.