1.1 - Á primeira vista

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Como você pode sentir falta de alguém que nunca viu?

Oh, me diga, seus olhos são castanhos, azuis ou verdes?

E você gosta com açúcar e creme?

Ou você toma puro, oh, assim como eu?

IDK You Yet - Alexander 23

Noah Thompson - 14 anos.

— Cale a porra da boca, Andreas! — Minha mãe gritou com meu pai.

Fechei a porta, batendo-a com força. Não aguentava mais aquele inferno. Não aguentava mais as brigas deles, muito menos as suas reconciliações, mas, o que mais me matava era ser invisível... tão invisível que eles, provavelmente, nem notariam a minha ausência em casa.

Como pais não conseguiriam amar seu próprio filho? Bom, eu não sabia, mas tinha certeza de que os meus não me amavam e, por um tempo, isso doeu, agora não mais.

Era uma dor tão cotidiana que, naquele momento, era quase imperceptível. Era uma dor entorpecida pelo tempo.

Para ser sincero, eu sempre estava entorpecido, era quase como se eu já estivesse morto. Não sentia nada, não falava nada... não vivia.

E se eu morresse? Alguém sentiria minha falta?

A resposta para esta pergunta sempre seria não. Ninguém se importava, e ninguém nunca se importaria. A única pessoa que se importaria já estava morta, para minha completa felicidade.

Caminhei pela calçada da minha casa, buscando a cafeteria que eu sempre ia em momentos assim. A cafeteria dos Azzaro era famosa na cidade — eles tinham, sim, os melhores cafés, mas também eram pessoas legais. Não que eles soubessem quem eu era, como eu disse, era praticamente invisível, mas eu os observava há alguns anos.

Naquele momento, estudava na mesma escola que o filho mais novo do dono do estabelecimento. O menino, ao contrário de mim, parecia sempre atrair uma chuva de olhares e holofotes de uma forma positiva. Matteo Azzaro era o típico garoto de ouro da escola. Bom aluno, bom filho, bom jogador. Ele bem que tentava se aproximar de mim, mas eu nunca deixava.

Não era como se eu não gostasse dele, eu só não sabia como deixar que se aproximasse.

Com quatorze anos, a única coisa que sabia era que me sentia um lixo... me sentia sujo, e sentia muita vontade de cessar com tudo, mas nunca tinha coragem.

Além de tudo, ainda era um covarde, mas, se fosse para ser sincero, eu tinha esperanças de que as coisas melhorassem.

A vida, um dia, melhora, certo?

Segui andando, mas percebi no instante que dobrei a esquina, que havia pegado o caminho errado para a cafeteria. Isso sempre acontecia quando eu divagava. Não sabia muito bem o porquê, mas minha atenção era uma merda, assim como minhas notas na escola. Era algo que eu não falava para ninguém — mas, também, falar para quem? — eu achava que era burro, ou algo assim.

Por que eu não podia ser normal como as outras pessoas? Ter uma família normal? Ter uma vida normal?

Estava cansado.

Peguei um cigarro no meu bolso e, sem parar de andar, o acendi. Fazia poucas semanas que eu tinha roubado alguns cigarros da carteira do meu pai. O escutei dizendo que eles o acalmavam quando estava brigando com minha mãe — ela sempre odiou o cheiro. Se o cigarro o ajudava, provavelmente me ajudaria também.

ENVENENADOSOnde histórias criam vida. Descubra agora