1.6 - Os Medos juvenis

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Ela usa salto alto, eu uso tênis
Ela é líder de torcida e eu fico na arquibancada
Sonhando com o dia em que você vai acordar e perceber
Que o que você procura esteve aqui o tempo todo

You Belong With Me – Taylor Swift

Elizabeth – 13 anos – algumas semanas depois

Minha primeira festa.

Despedida do ensino fundamental e, ao mesmo tempo, boas-vindas ao ensino médio. Tinha absolutamente tudo para ser legal, a não ser, claro, por eu não ter amigos e estar trancada dentro do banheiro por puro medo do que teria de fazer ali naquela festa.

Eu estava sendo covarde, era essa a verdade.

Não sofria bullying há pouco mais de um ano, mas as consequências ainda estavam ali. O medo, a vergonha de mim mesma... as agressões verbais na escola tinham parado, mas, em casa, as coisas nunca estiveram tão ruins.

Pelo menos, na escola, a única coisa que machucava eram os meus sentimentos. Não podia dizer o mesmo dos meus pais.

Ajeitei os óculos no rosto e o vestido vermelho no corpo. Ele era curto e muito justo, de uma maneira que me deixava desconfortável, mas eu estava tentando.

Eu estava sendo forte.

Eu estava sendo como as minhas primas, do jeito que minha mãe gostava.

Olhei para cima, a fim de conter as lágrimas e não me permitindo chorar. Eu não podia chorar. Minha mãe odiava como eu era dramática, e isso só a deixava ainda mais brava.

Abri a porta do banheiro, respirei fundo e fui direto para a cozinha. A festa estava lotada, a casa de uma das líderes de torcida estava tomada por adolescentes prestes a ficarem bêbados demais para se importar com a minha existência.

A cozinha estava cheia, mas a claridade, ali, era um pouco melhor. Com a respiração ainda um pouco ofegante, coloquei um pouco de refrigerante no meu copo e me concentrei em observar as pessoas.

Tudo aquilo, para mim, era tão chato. Não conseguia compreender como Matteo, ou até mesmo Noah, iam àquelas festas. Minhas primas, tirando Antonella, também viviam saindo de casa. Sei lá, mas eu gostava dos meus livros, minhas músicas e... do Noah.

Era daquilo que eu gostava.

Era aquilo que eu queria.

— Finalmente, vamos estudar com o Azzaro e o Thompson! — Uma menina loira deu uma risadinha. — Fiquei sabendo que a Scarllet estava com Noah na semana passada.

Quem era Scarllet?

— Azzaro namora, Hailey, mas o Thompson... — Ela suspirou.

Meu estômago se retorceu.

Definitivamente, tudo não parava de piorar.

Ele, com certeza, em algum momento, iria arrumar uma namorada, e eu iria continuaria ali, vendo a felicidade dele de longe, apenas esperando a minha vez que, sejamos sinceros, nunca chegaria.

Uau... Isabella tinha toda razão: como eu era dramática.

Bebi um gole do meu refrigerante, que desceu rasgando pela garganta. Não consegui conter minhas mãos quando pegaram o celular.

Precisava de informações, e precisava agora mesmo!

Liz:

Quem é Scarllet, Paige?

A namoradinha de Matteo era, hoje, minha amiga. Paige morava em nosso bairro, e era sempre ela quem me dava colo quando o assunto era meu melhor amigo. Ela dizia que eu estava apaixonada.

Mas eu não estava.

Eu não podia estar.

Paige:

Ah, ela é da turma dos meninos em algumas matérias.

Já a vi com Noah algumas vezes,

mas só conversando.

Por quê?

Liz:

Fofoca. Parece que os dois estão juntos.

Engoli em seco.

Minhas mãos estavam tremendo?

Paige:

Matt disse que não parece ser nada sério.

Você sabe como o Noah é, frio e tudo mais.

Ele não era frio.

Não comigo.

Não que isso valesse de alguma coisa.

Paige:

Amiga, você precisa contar para ele que gosta dele,

senão, vai acabar se machucando.

Eu apenas ri, antes de guardar o celular.

Machucados não deveriam ser um problema para mim, já que eu estava mais do que acostumada a conviver com eles.

Mas, com treze anos, você não entende a dimensão da destruição que um amor pode fazer.

Com treze anos, eu não entendia que Noah não só me machucaria, ele também seria o responsável por acabar com o resto do meu coração.

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