1.2 - Olhos bondosos

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Deus sabe o que está se escondendo

Naqueles fracos e afundados olhos

Uma multidão ardente de anjos silenciados

Dando amor e recebendo nada de volta

People Help Other People – Birdy 

Noah Thompson - Alguns dias depois.

Sempre odiei estudar.

Não entendia muito bem as matérias, tinha dificuldade de acompanhar as aulas e, para ser bem sincero, eu sempre estava mais interessado em alguma história que eu estava lendo, do que necessariamente na tarefa de álgebra que tinha de fazer.

Sempre odiei estudar, mas a escola se tornava insuportável mesmo por causa das pessoas.

Eu podia achar ruim ter de aprender sobre uma equação que, provavelmente, nunca mais iria usar, mas ter de conviver com outros seres humanos me fodia.

A Bellair High School era a escola particular mais famosa de Crownford, e foi minha escola por longos e dolorosos anos. Foi de lá que fui expulso depois de, finalmente, revidar as agressões que sofria. Se eu soubesse que tudo que precisava para me livrar daquele inferno, de um dos meus infernos, era agredir algum idiota, precisava confessar que deveria ter feito antes.

Não que agora, na escola pública, fosse um mar de rosas, porque estávamos falando da minha vida.

Mas, pelo menos, ali, eu não apanhava, na verdade para a minha completa felicidade era até temido.

Eu, que torcia para ser notado pelos meus pais, na escola, torcia para me tornar o que era em casa. Invisível.

Mas, a vida, ela nunca te dava nada.

A única coisa que a vida conseguiria te dar eram machucados.

Eu mesmo era cheio deles.

— Bom treino hoje, Thompson. — Matteo passou seu desodorante.

O observei, meio perdido. O garoto de olhos verdes alegres parecia tão feliz que, em alguns dias, eu me sentia mal por invejá-lo tanto. Ele ainda tentava se aproximar de mim, mas, mesmo com ele se esforçando muito, eu não conseguia ceder.

Eu não conseguia confiar.

— Obrigado, Azzaro. — Vesti minha camiseta preta, do Metallica, e tentei voltar para minhas divagações.

Outra coisa que eu odiava era aquela porra de time.

Eu gostava de futebol americano, era um fato. Mas aquela merda de vestiário era uma das milhares de coisas a me tirar a paz. Ter de aguentar os olhares, os cochichos, me irritava mais do que o normal.

Meu sangue fervia nas veias cada vez que algum daqueles caras faziam uma piadinha quando achavam que não estava vendo.

Mas eu sempre via.

Sempre.

Os óculos se foram, as roupas não eram mais de um nerd, até mesmo a porra dos meus livros eu escondia e nem trazia mais para a escola, mas parecia que nada daquilo fazia qualquer efeito, porque eu seguia sendo o garoto estranho.

— Eles acham que você é traficante de drogas. — Matteo disse, contendo o riso.

— O quê? — Viro para ele rapidamente.

ENVENENADOSOnde histórias criam vida. Descubra agora