Capítulo 10

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- Selena

Minha mente me trai a cada degrau que avanço nos últimos dois andares do prédio. Diversos cenários caóticos escoam por minha ansiedade, me causando uma vertigem. Me apoio no corrimão da escada e paro por um breve momento. Puxo o ar em uma inspiração e expiração lenta, tentando colocar meus pensamentos no lugar e ser capaz de dizimar todo o pânico que quer me dominar.

Eu estava travando uma luta interna para entender o motivo desse colapso nervoso, pois apesar de ser somente uma foto, ela poderia significar o início do que me assombrará pelos próximos dias, meses, e talvez anos. Ainda que o pequeno ângulo de sorte impeça alguém de me reconhecer, o medo crescente em mim origina-se da empatia que sinto pelo garoto e pelo risco em que nos coloquei naquela noite.

Um rastreador? Meu pulso acelera ao pensar na gravidade e em quanto isso é absurdo. Desde quando garotas do ensino médio têm rastreadores para implantar no carro dos seus cantores favoritos? Isso é coisa de filme, algo fora da realidade.

Escancaro a porta que dá para o terraço do prédio e, antes mesmo de ouvir a mesma se fechando atrás de mim, vejo que não estou sozinha naquele lugar. Uma figura masculina está materializada logo à minha frente, apoiada no parapeito. A silhueta é suficientemente familiar para eu reconhecer Ji Hyun.

Frustração, cansaço, surpresa e excitação. Eu não queria mais problemas com o Sr. Jung e só desejava ter um tempo sozinha para processar essa agonia que me abatia, mas vê-lo aqui era o suficiente para me sentir mais segura de alguma forma, principalmente quando a troca súbita de sentimentos me tonteia e ele me ajunta antes de eu atingir o chão.

- Hey, calma. Senta aqui e respira fundo - a voz de Ji Hyun é tranquila, mas demonstra, claramente, que ele está preocupado. Ele me guia até um dos bancos de concreto dispostos ali para os fumantes e também se senta, mantendo uma certa distância para não invadir meu espaço. Puxo o ar algumas vezes até que possa sentir tudo se tornando mais claro e palpável à minha volta. Enquanto isso, vejo-o tirar os óculos e os limpar devagar, num gesto que parecia mais para dar tempo a mim do que por necessidade.

- Está mais calma, Selena? Quer um cigarro? — ele pergunta, esticando o braço para oferecer um pouco de nicotina em uma caixa que tira de dentro do paletó. Sua cabeça se inclina levemente, como se tentasse me ler. Eu poderia ter me assustado, ficado com vergonha de ser vista num momento íntimo como este, mas havia algo na presença de Ji Hyun que, apesar da ansiedade que ainda doía no peito, traz uma sensação de segurança.

Recuso a oferta e inspiro fundo ao sentir os músculos doloridos pela queda de ontem e pela tensão.

- Estou... - respondo, com a voz ainda um pouco trêmula. Não quero demonstrar a fraqueza em minha capacidade de lidar com o único trabalho que preciso fazer, mas também não posso fingir, agora, que nada está acontecendo. - Só que... eu mal comecei a trabalhar em uma coisa e isso já tem me afetado, bem mais do que eu esperava.

- Entendi. Bem, menos mal que é o trabalho. Isso é uma situação fácil de resolver, algo que aprendemos a lidar com o tempo. Quando aceitei meu primeiro grande projeto no jornal, pensei que seria apenas mais um trabalho - ele começou, sem pressa. - Mas, no meio do caminho, as coisas começaram a me engolir. Eu me senti pressionado, confuso, e às vezes até pensei em desistir. Não é fácil quando você tem que enfrentar um fogo que parece crescer cada vez mais.

Olho para ele de soslaio, compreendendo suas palavras e a capacidade dele saber o que dizer. Aquela era exatamente a sensação que me tomava: como se estivesse sendo engolida pelo fogo, pela pressão e pela constante sensação de que algo iria dar errado. Não hesitei em perguntar:

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⏰ Última atualização: Oct 09 ⏰

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