Capítulo 07

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- Selena


- Vá assoar esse nariz, Selena! - Sra. Nabi diz pela quinta vez no dia.

- Mas eu acabei de ir! - choro e faço bico para ela.

Meus olhos ardem, minha cabeça lateja, meu corpo está quente e sensível, bem como meu nariz, por conta de todas as vezes que tive que assoá-lo nos últimos dias. Mas o pior era minha garganta. Eu não duvidaria se alguém tivesse me dito que ela está em carne viva.

- Você já não está rendendo nada, tente não atrapalhar a equipe com essa fungaceira toda...

- Desse jeito eu vou acabar assoando meu cérebro junto e, aí sim, eu não serei mais capaz de escrever nada... - respondo já bloqueando a tela do meu computador e indo até o banheiro, motivada pelo olhar ditador que recebo da Sra. Nabi.

Alivio a pressão em minha face e passo um pouco de água morna em minha testa e nuca. O espelho ainda reflete claramente a doença gripal que me atacou após a madrugada na chuva. Eu passei o final de semana em completo repouso, mas não foi o suficiente para me sentir melhor na segunda-feira ou quando me levantei nesta manhã. Meus olhos grandes não se abrem totalmente devido ao peso dos efeitos dos remédios; minha pele está pálida, porém, com traços febris em minhas bochechas e testa; já meu cabelo, sem qualquer definição, está escondido em uma trança feita pela Sra. Nabi, pois eu sequer tenho forças em meus braços para tal trabalho. Ao menos o meu tornozelo havia se recuperado bem da torção após o descanso absoluto de dois dias. Eu estava feliz por ter economizado alguns Wons ao não precisar procurar um médico e por poder caminhar sem mancar.

Antes de voltar para minha mesa, passo na copa e preparo um chá com mel para tentar aliviar a dor arranhada em minha garganta. Ando até minha baia bebericando o líquido quente e vejo que o Sr. Jung está sentado em minha cadeira.

- Acho que dou privilégios demais para receber tão pouco de você, Srta. Santos - ele comenta alto, de modo que todos escutem.

- Sr. Jung... - digo, me curvando para ele.

- Eu sei que leva tempo para desenvolvermos um projeto como esse que te ofereci, mas a primeira regra do jornalismo investigativo é o feedback semanal, Selena. Não queremos correr o risco de entregar algo medíocre no último dia do prazo, não é mesmo? - Ele diz batendo a caneta tinteiro em minha mesa, ainda sentado em meu lugar.

- Sim... Claro, Sr. Jung. Perdão por não tê-lo feito ontem. Prometo que até o final do dia lhe entregarei o relatório do que tenho até o momento.

Meu chefe finalmente se levanta, sem dizer qualquer palavra, e, antes de sair para sua sala, aponta para o relógio na parede. Eram 4h da tarde. Eu só tinha uma hora e meia para preparar tudo e lhe apresentar. Me coloco diante do computador e começo a reler o que era para ser o início de tudo:

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"O Lado Obsessivo e Perigoso do K-Pop: as Fãs Sasaengs

Enquanto há milhares de fãs que presenteiam seus ídolos com presentes e os ovacionam dentro de estádios lotados, existem alguns grupos seletos de fãs conhecidas como sasaengs. Diferentemente da maioria dos fãs espalhados pelo mundo, os fãs coreanos possuem uma forma muito mais intensa e doentia, em certos pontos, em adorar seus idols. Essas fãs ultrapassam todos os limites, transformando a admiração em uma obsessão doentia que coloca em risco a vida e a privacidade de seus ídolos. Sasaengs não pode ser sinônimo de Stalkers, pois são muito piores.

O termo "sasaeng" vem das palavras coreanas "sa" (privado) e "saeng" (vida), refletindo a natureza intrusiva de suas ações, que visam penetrar todos os aspectos da vida privada dos ídolos.

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