30

331 27 3
                                    

Acordei com a cabeça latejando de tanto chorar na noite passada. Não queria esbarrar com o Teddy e nem com o Din, eles provavelmente iriam me dar um sermão que não to pronta pra ouvir.
Fiquei enrolando no quarto até reparar que a casa estava quieta, e então sai. Desci a escada devagarinho, mas com o estômago roncando de fome. Cheguei na sala e não tinha ninguém, fui tranquila até a cozinha mas o Teddy estava sentado lá.

- Bom dia- falou seco, sem nem me olhar

- Dia- fui até a geladeira pegar algo só pra disfarçar porque tinha perdido a fome

- Tá orgulhosa?

- De que?

- Ué, das suas conquistas- falou debochado e eu bufei

- Não enche, Teddy- fechei a geladeira com um pouco de força. Ia sair da cozinha mas ele continuou falando

- Não sai não, fica aqui- revirei os olhos e dei meia volta, parando do lado dele

- Que foi?

- Sabe que a mamãe ia ficar muito chateada, né?- senti meu peito afundar. Era jogo baixo lembrar da mamãe numa situação assim

- Com o que? - me sentei do seu lado - do fato de você ter uma facção? Ganhar a vida vendendo arma, desmanchando carro, assaltando banco? Ser procurado em mais de 20 estados diferentes? Qual das opções deixaria a mamãe se revirando no túmulo?

- Para de ser ingrata! - ele elevou o tom de voz e eu me assustei - foi essa porra desse trabalho que sustentou vocês por anos, pagou a sua escola, a sua comida, as suas saídas e a porra da sua fiança!- falou gritando e levantou da cadeira nervoso, passando a mão no cabelo

- F-foi você que pagou...- eu estava perdida com muitas perguntas rondando minha cabeça

- É... - suspirou - fui eu. Tá feliz em saber agora?

- Por que você nunca me falou? Quer dizer... Como você soube? Se na época a mamãe estava doente

- Eu fui visitar vocês no dia seguinte que você foi presa. Procurei por você e um amigo seu me disse o que tinha rolado. Eu não podia ir na polícia, dei o dinheiro pra ele e ele pagou. Nunca falei porque pensei que você tivesse desistido dessa coisa maluca depois que viu como é ficar presa, mas pelo visto você não mudou nada - eu estava engolindo o choro, olhando para um ponto fixo - tem noção de como foi pra mim?

- Teddy...- ele me ignorou

- Eu ralei muito aqui, Iris, eu sou caçado por todos os lados. E fiz tudo isso pra dar uma vida boa pra vocês! Agora eu tenho uma filha, uma enteada, mas no início era tudo por você e pela mãe. Eu apanhei muito pra chegar até aqui, tendo minha própria facção, onde sou respeitado não só por eles mas por todos os outros - ele falava isso tudo sem dirigir o olhar pra mim, eu limpava as lágrimas que escapavam rapidamente - quando soube que você tinha sido presa porque roubou uma lojinha de esquina eu perdi meu chão, porque eu e o Din fazíamos tudo para vocês não passarem dificuldade em casa. E foi assim que você retribuiu

- De que adiantou todo esse seu esforço? - tomei coragem pra dizer - você praticamente não vive, não viaja, não curte a vida! E sabe o pior de tudo? Isso não foi uma escolha SUA que afetou só a VOCÊ - apontei o dedo pra ele - afetou todo mundo que você ama. E deu no que deu

- Por que você fez isso, Iris? Eu só queria entender o que te falta pra você se rebaixar tanto a esse ponto. Eu queria tanto que você virasse uma médica, uma advogada... SEI LÁ! Mas qualquer coisa que fosse longe dessa realidade aqui...

- Que coisa genérica essa, Teddy! Não tenho cara de médica e muito menos de advogada. E ainda que eu tivesse ou quisesse seguir carreira, como ia pagar a faculdade? Como ia me manter? Você que ia pagar? Com o dinheiro sujo dos cofres dos bancos que você explode?

- E se fosse? Qual problema? Pelo menos você ia ser uma cidadã do bem que pode pisar no estado que quiser- falou sarcástico

- Eu gosto da adrenalina! Gosto da sensação do coração batendo rápido, o corpo anestesiado, a vitória... Eu gosto de tudo isso! Sei que é errafo e tenho plena consciência do que faço

- Não quero você envolvida com isso, Iris! De jeito nenhum. É muito perigoso- ele deixou os ombros cairem e eu tive um lapso de pena e culpa

- Aí! De novo esse papo! - o interrompi - você não teve a prova ontem de que sei me defender?

- Não! Tive a prova de qe você sabe fugir, mas isso eu já sabia- revirei os olhos com a provocação

- Eu não fazia isso há muito tempo, desde a vez que me pegaram eu tinha prometido pra mim mesma que nunca mais ia fazer... Mas na hora a adrenalina falou mais alto e eu não pensei direito!

- Ta vendo! O problema é justamente esse: não pensar direito. Olha o problema que você podia ter se metido, Iris!

- Mas eu tô bem, Teddy! Eu to viva! Mais viva do que nunca e eu só quero viver- balancei os ombros dele

- Eu não quero que você faça mais isso, tudo bem?- suspirou

- Eu não vou te prometer nada... Não posso

- Por que não?

- Porque se vocês fazem eu posso também. Se vocês aprenderam eu consigo aprender também e eu quero me tornar uma de vocês- ele me olhou no fundo dos olhos mas quando abriu a boca pra responder o radinho tocou com alguém o chamando

Ele disse que tinha que ir e que mais tarde nós iriamos continuar a conversa. Se ele acha que eu vou desistir disso ele está muito enganado, ainda mais depois de toda adrenalina de ontem.

rouge - gta rpOnde histórias criam vida. Descubra agora