𝐑𝐢𝐝𝐞 𝐎𝐫 𝐃𝐢𝐞 - 𝐉. 𝐓𝐮𝐫𝐧𝐞𝐫 [2]

Um

— Você tem certeza de que quer passar o ano novo na casa dos Martinez? — Questiona Leila encostada na porta do quarto da filha esperando-a terminar de se arrumar.

Já se passaram dois meses desde o baile de quinze anos que tinha tudo para ser uma festa feliz e animada, mas infelizmente deixou um bairro inteiro traumatizado.

Naquela noite, enquanto Kali e Jamal festejavam por finalmente terem encontrado o tão sonhado dinheiro do RollerWord, Olivia e Ruby foram baleados por Latrelle no meio da pista de dança com um tiro que era direcionado para César.

Mesmo com os dois sendo levados às pressas para o hospital, Olivia não conseguiu resistir aos ferimentos causados pela bala e faleceu naquela madrugada de segunda-feira.

Os dias depois da morte da garota são como um borrão para os quatro adolescentes, já que claramente nenhum deles estava preparado para uma reviravolta desse tamanho em suas vidas.

Ruby ficou internado no hospital por praticamente um mês e meio, sempre anestesiado, seja pelo soro que era injetado suas veias ou as lembranças que faziam questão de nunca ir embora.

A vida de César virou completamente de cabeça para baixo, ele foi espancado pelos Santos por ter mentido sobre a morte de Latrelle e expulso de casa pelo irmão, ficando totalmente desamparado.

Monse viveu praticamente esses dois meses inteiros em função de César, para conseguir mantê-lo escondido na sua casa e em dia com as atividades escolares.

Duas palavras resumem muito bem Jamal nesses dois meses: euforia e paranoia. O garoto passou metade dos dias se agarrando com Kali pelos cantos, e outra metade contando e recontando o dinheiro que achou, morrendo de medo de que em um piscar de olhos tudo sumisse.

E Kali sempre se sentindo culpada por nunca ter nem tentado uma amizade com a falecida, aproveitava os momentos que tinha com o garoto para tentar esquecer de como a sua vida tinha virado um caos.

— Tenho, o Ruby ainda está muito abalado com tudo o que aconteceu e precisa de todos nós. — Afirma Kali se encarando no espelho enquanto termina de pôr a argola na orelha. — Então, estou bonita? — Questiona olhando para a mãe e dando uma voltinha.

— Você sempre está meu amor. — Responde Laila com sinceridade fazendo a garota sorrir e andar até a cama.

— Já vou indo, tá bom? — Anuncia enquanto recolhe algumas coisas de cima da cama e coloca dentro da sua bolsa. — Eu combinei de encontrar com a Monse para irmos juntas. — Avisa passando pela mãe e indo em direção a porta.

— Certo, quando quiser vir para a casa manda mensagem para o seu pai e ele vai te buscar. — Declara Leila indo em direção a cozinha.

— Não precisa, eu vou voltar com o Jamal. — Explica abrindo a porta e saindo rapidamente antes da mãe fazer qualquer outra pergunta.

Todos que moram em Freeridge sabem que essa cidade não é para amadores, mesmo antes da morte de Olivia era comum que as ruas fossem bastante desertas à noite, mas ninguém se preocupava muito com isso já que as gangues estavam em trégua.

Hoje essas mesmas ruas desertas significam problemas, pois ninguém sabe se em algum momento os Santos vão tentar se vingar pelo que aconteceu em seu território ou quando os profetas voltarão para terminar o serviço, mesmo que aparentemente todo o bairro esteja em trégua.

Então no momento em que Kali coloca os pés para fora de casa ela começa a andar quase como se estivesse correndo para evitar de ter o azar de bater de frente com uma dessas situações ou algo pior.

Mas ela não teve que "correr" por muito tempo, já que em menos de cinco minutos encontrou Monse e César parados no meio da calçada.

— Cheguei galera. — Anuncia Kali abraçando os amigos pelos ombros que reviram os olhos fazendo-a parar de sorrir e abaixar os braços. — Estou interrompendo, saquei, tô saindo. — Tenta passar por eles, mas César segura seu braço.