Capítulo 4 - Camila, sua vaca

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- Cacete, Camila! O que você fez? - ainda sentindo o coração disparado pelo susto fui correndo ver o que é que minha amiga tinha aprontado antes mesmo que eu tivesse a chance de recuperar o fôlego.

- Uai, nada demais... Vem ver... - ela fez a cara mais sonsa do mundo, como se estivesse tudo dentro do normal e não aquela loucura que se instalava na minha vida, graças a uma ideia infeliz! - Temos mais uma janela aberta para o nosso plano aqui! O amor ainda está no ar e eu posso sentir!

Eu nunca deveria ter feito nada daquilo. Viver uma vida sem machos estava me parecendo uma possibilidade muito atraente, para falar a verdade. A coisa mal tinha começado e já estava me deixando com os nervos em frangalhos. Estava muito nítido para mim que eu não tinha estrutura emocional para viver esse tipo de aventura amorosa. O que a princípio parecia uma ideia genial de repente virou um programa completamente desastroso e com uma cara bastante ameaçadora.

Mas é como dizem por aí: o que não tem remédio, remediado está! Já que tínhamos mais um pretendente na área, o negócio era relaxar e ir ver o que o futuro me reservava. Ser bem sucedida nos meus projetos sempre foi praticamente a meta da minha vida e não seria naquele momento que eu mudaria todo o meu foco, certo?

- Ai, guria! Vamos ver o que você aprontou – sentei ao lado dela e foquei na tela do celular, me concentrando em deixar a respiração controlada e tranquila. - O que você tem para me apresentar dessa vez, Tinder? Quantos erros de português esse próximo indivíduo será capaz de cometer por frase? Em qual roubada você vai me meter?

Ela se ajustou na cadeira com uma cara de plena satisfação!

- Para com isso! Temos que jogar na positividade para o universo retribuir! Não pense que será uma roubada, pense que será um sucesso total e tudo vai dar certo! Lembre-se que as palavras tem poder! - nem me dei ao trabalho de argumentar que eu não acreditava em nada disso, não era o momento de lutar contra um discurso motivacional.

E fomos analisar o indivíduo. Devo admitir que essa parte era legal.

O nome dele era Jurandir (sério?! Que nomes eram aqueles?). Até aí tudo bem, mas prepara o capacete que lá vem pedrada. Olha o que tinha na descrição do perfil do meu futuro flerte: 78 anos, viúvo, aposentado, 4 filhos, 10 netos e 6 bisnetos. E várias fotos dele com os bisnetos.

Isso mesmo.

Seus cabelos já tinham se despedido da cabeça há décadas, pelo visto. E o bigode que ostentava na cara deveria ser uma forma de compensação porque ocupava quase que a tela inteira do celular.

Em que momento eu tinha deslizado para o lado do sim com aquele homem, gente? Eu não devia estar prestando atenção, não era possível. Ou então minha amiga tinha feito isso sem que eu percebesse, o que me parecia a opção mais aceitável. Eu realmente tinha dado match com um senhor de 78 anos?

- Homens maduros são ótimos! - Camila pigarreou e colocou um tom de ânimo na voz. - Já possuem independência financeira e estabilidade emocional! Tudo o que você precisa é de um cara com um pouco mais de experiência, amiga!

- Independência financeira? Estabilidade emocional? - eu ri mas foi de nervoso. - Esse aí já passou do ponto, Camila. Amadureceu tanto que estragou. A experiência dele já extrapolou do prazo de validade.

- Bárbara! O nome disso que você está fazendo é ageismo e não combina nem um pouco com você que até poucos minutos atrás falava sobre o preconceito da sociedade com pessoas gordas. Quer dizer que com pessoas velhas podemos ser preconceituosas?

- Camila, 78 anos são muuuuuuuitos anos...

- Eu sei, Babi.

- Não parece.

Gorda, solteira, 30 anos, procura - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora