Capítulo 3 - Como existe no mundo um sujeito chamado Isnard?

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O perfil do sujeito que se interessou por mim era até interessante, e isso foi uma coisa que me surpreendeu. Seu nome era Isnard (quem tem um nome desses, meu Deus do céu?), 35 anos, divorciado, 2 filhos e não dizia a profissão.

- Ele deve ter um emprego péssimo, pois se fosse uma coisa legal, certamente colocaria para todo mundo saber – resmunguei querendo ver defeitos para não me decepcionar logo de cara. - O sujeito colocou de tudo, estado civil, quantidade de filhos, idade, um monte de foto e não quer falar com o que trabalha? Muito suspeito!

- Não necessariamente, Babi. Pensa bem. Se o indivíduo for policial militar, por exemplo, não pode se expor assim. A mesma coisa se for do exército, mesmo que o Brasil não se enfie em guerra. Ou se for um deputado. Nossa! Ele pode ser um deputado! A gente não tinha pensado nessa possibilidade, hein? Já pensou? Deputado, Babi!

- Ah, se ele for deputado é fácil saber, basta dar um google no nome Isnard. Não existiriam dois deputados com esse nome.

- Isso é verdade. E francamente, dependendo do partido dele, é melhor manter distância. Mas, deputado ou não, pensei num negócio aqui. Que maldade desses pais de colocar um nome esquisito assim, hein?

- Tem pai e mãe que não gostam dos filhos. Aí escolhem esse tipo de nome pra se vingar.

- Olha, pode ser, Babi! Não tinha pensado dessa forma.

- Eu sou sempre capaz de ver o pior do ser humano, Camis. É um talento!

- Pior que ele é Isnard Júnior, ou seja, o pai dele já tinha esse nome tosco e resolveu colocar pra frente a maldição. Certeza que ele ficou puto quando a mulher engravidou. Deve ter pedido pra ela abortar. Como ela não topou, o pai se vingou com esse nome.

- E se ele quiser ter um filho com você e chamar de Isnard Terceiro? - comecei a rir. - E você for acordar seu filho de manhã chamando "Isnardinho, tá na hora da escola".

- Isnardinho, coloque agora mesmo as meias!

- Isnardinho, você tirou zero em física!

- Credo, você quer me encorajar ou desencorajar? - até dei um gole na taça com água que estava meio abandonada para ver se me hidratando saia um pouco do enjoo que se aproximava. Eu aceitava ter um filho que se chamasse Isnard mas não tinha como ser feliz tendo um filho que tirasse zero em física.

- Tá, vamos mandar uma mensagem pra ele – Camila já foi estreitando os olhos para o aparelho celular e se concentrando. - Isnard, você está prestes a conhecer a mãe do Isnardinho!

- Você endoidou, Camila? Não vou mandar mensagem para Isnard nenhum no mundo, ele que mande primeiro e vou pensar se respondo ou não. Eu até mandaria se fosse para um Luiz ou um Manoel. Nomes de homens sérios e interessantes. Mas Isnard? Ele que lute por mim!

- Ainda bem que o celular está na minha mão – ela começou a digitar e ia repetindo em voz alta as palavras que escrevia enquanto eu sentia o estômago remoer de nervoso. - "Oi, Isnard." Viu, nem doeu falar o nome dele. "Tudo bom? Adorei as fotos com o seu cachorro, ele é muito fofo".

- Putz, você sabe que detesto cachorro. Sou do time gatos.

- Você agora é do time homens, Bárbara! E o cachorro é fofo mesmo, só uma pessoa sem coração não gosta de doguinhos.

- O cachorro é horroroso. Nunca vi um tão feio!

- Eita, caralho! - Camila deu um tapa na minha perna. - Ele respondeu!

- Mas já??? - fiquei esfregando onde ela espalmou a mão e tinha ficado dolorido. - O que ele falou??? – as minhas bochechas começaram a queimar imediatamente. Poderia ser do vinho? Poderia. Mas acho que foi de ansiedade mesmo. Mais um gole na água, a hidratação era realmente necessária.

Gorda, solteira, 30 anos, procura - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora