Some things never change (EraserMic)

Podemos conversar?

- Aizawa? - o estudante de cabelos escuros chamou. Os dois com a individualidade de anulação compartilhavam a cozinha. O mais velho voltou seus olhos meio-abertos ao estudante, que o observava de volta. 

- Sim? 

- Podemos conversar? A sós? - o adolescente enfatizou a última parte, querendo se referir a ficar longe dos Yamadas, que se entretiam revirando fotos e compartilhando histórias em um quarto não muito distante dali. Provavelmente nenhum dos dois prestaria atenção caso ambos conversassem ali mesmo, na cozinha, mas o adolescente ainda queria um pouco mais de privacidade. 

- Claro. - Eraserhead respondeu deixando de lado o que estava fazendo e se dirigindo em direção a outro cômodo da casa, que o estudante não sabia ao certo qual seria, mas resolveu segui-lo mesmo assim. 

Não demorou nada para que o mais velho abrisse uma porta de vidro que dava para uma pequena varanda sem muitas mobílias ou decorações, mas que tinha uma vista maravilhosa. O mais jovem sentiu um arrepio na espinha devido ao quão impressionado havia ficado com a visão que ia desde os arredores dos prédios até o colorido do céu em um entardecer encantador. Imaginou o quanto seria incrível visitar aquele mesmo apartamento algum dia e comprá-lo, apenas para si. No entanto, esse pequeno pensamento o fez lembrar da razão de ter pedido por aquela conversa, o que o deixou levemente aflito. Voltou à realidade quando ouviu um "clique" que se formou quando Eraserhead fechou a porta atrás dos dois. 

- Sobre o que quer conversar? - o mais velho perguntou no mesmo tom sereno e calmo de sempre, enquanto se sentava no chão do pequeno ambiente e deixava que suas pernas se pendurassem na grade de proteção. O estudante o observou e fez questão de fazer o mesmo enquanto tentava agir naturalmente ou reunir um pouco de coragem para iniciar a conversa. 

- Bom, é que... - os olhos de ambos se encontraram, mas o mais novo desviou o olhar. - N-Não me leve a mal, eu sei que o que você e o Yamada têm é real, dá 'pra ver na forma como vocês interagem, no jeito que ele olha 'pra você, até mesmo naquelas fotos, mas... - ele fez uma pequena pausa tentando conter suas emoções. - É que eu não sei se eu vou conseguir amar o Zashi da forma como você ama... Eu nunca pensei nele desse jeito, entende? E se eu não conseguir fazer isso? E se eu não conseguir me apaixonar? Eu vou acabar estragando tudo e isso pode distorcer a linha do tempo, e aí nem você nem o "seu" Hizashi vão... - ele disse, começando a aumentar o tom de voz e a ficar inquieto. Provavelmente, estava tendo algo entre uma crise de pânico e uma crise de ansiedade, e teria permanecido em seu looping exaustivo de pensamentos se um par de mãos não tivesse segurado seus ombros e o puxado para um... um abraço? 

Um gesto sem dúvida inesperado e incomum (e um tanto quanto desconfortável para os dois), mas o ato cumpriu com seu objetivo de tirar o garoto de seus pensamentos. Ficaram ambos em silêncio durante alguns segundos, estranhando aquele momento, até que o mais novo voltou a falar. 

- Eu... Não sou muito fã de abraços... - ele revelou, como se Eraser já não soubesse. 

- Eu sei. - o mais velho disse, se soltando do rapaz. - Me desculpe por isso; acaba acontecendo quando você passa muito tempo com o Zashi. - ele disse em relação à se acostumar com demonstrações de afeto. - Mas enfim, voltando à sua questão... - disse olhando para o garoto de uma forma que só uma figura paterna saberia fazer. - Eu sei exatamente como se sente; até porque me senti da mesma forma anos atrás. Sei que nem se longe nós somos bons em lidar com sentimentos, mas... Muitas vezes, quem me ajudou a lidar com isso foi o Hizashi. - ele lembrou, deixando escapar um sorriso ao recordar dos tempos em que passou noites em claro sendo acalmado pelo loiro e apreciando o fato de, mesmo o rapaz estando exausto ou ocupado com outras coisas, sempre arrumava tempo para ele e o tratava como prioridade. - Entendo que seja meio assustador descobrir que vai se apaixonar pelo seu melhor amigo de uma hora 'pra outra, mas você pode confiar em mim quando eu digo que você vai amar esse homem com todo o seu âmago. E... não se preocupe muito em entender o que você sente, até porque nem eu entendo direito, mas tudo vai estar no lugar certo no fim. - ele disse, fazendo uma pausa para respirar fundo. O estudante apenas o observava com um sorriso tímido estampado no rosto. Aizawa sabia exatamente o que se passava dentro daquela cabeça e resolveu aproveitar o momento para fazer uma última pergunta: - Tem certeza que nunca pensou no Zashi de outra forma? - perguntou, apesar de já saber a resposta.

O garoto ergueu as sobrancelhas e desviou o olhar antes de dar de ombros e responder: 

- Ah, assim... - ele tentou negar.

- Não pense que pode mentir 'pra si mesmo, Shouta. - ele disse em tom provocativo antes de se apoiar nos próprios joelhos para levantar. - E não se preocupe tanto com isso. - Eraser disse fazendo um leve carinho na cabeça do que permanecia sentado. - Vai ficar tudo bem. - ele sorriu. 

E assim, Eraserhead deixou a varanda, restando apenas um rapaz confuso, admirando a paisagem e reconsiderando seus sentimentos.

Aquela sensação que tanto assolava seu peito talvez fosse… algo a mais?

[Continua]