— Posso te pedir uma coisa? — Minha voz saiu insossa, depois de longos minutos em silêncio.A mulher sentada ao meu lado parecia mais calma agora, enquanto refletia sobre algo em seus pensamentos.
— Sim. — Ela balançou a cabeça.
— Quando você precisar de ajuda, a qualquer hora, prometa que vai me chamar? Você não precisa lidar com tudo sozinha. — Ela me deu um olhar agradecido e eu tentei transpassar segurança a ela.
— Você é uma boa pessoa. — Tentou sorrir. — Mas acho que não vou mais precisar, vou dar um jeito nisso aqui. — Ela apontou para si mesma, e eu assenti, mais aliviada. Não gostava de ver as pessoas sofrendo, ainda mais em uma situação como a dela.
— Você quer que eu te acompanhe até a delegacia? — Sugeri, agora mais tranquila, ainda evitando olhar para o hematoma em seu rosto.
Ela me olhou em silêncio e sua resposta veio em seu olhar: ela não iria denunciar o marido. Suspirei fundo e balancei a cabeça negativamente, me levantando.
— Tudo bem, não vou questionar suas decisões, mas se precisar de um lugar pra ficar, de uma amiga ou qualquer outra coisa, estou falando sério, qualquer coisa, você pode bater na minha porta, senhora... Camila!
— Eu sei. — Ela me deu um sorriso triste novamente e se levantou e não pude evitar abraçar a mulher frágil em minha frente, acho que eu precisava disso tanto quanto ela.
O que eu vi me trouxe tantas lembranças a tona que meu coração estava se partindo em mil pedaços. Essa mulher em minha frente me lembrava tanto... Balancei a cabeça para afastar as memórias ruins e me desvencilhei de seu aperto, que por um segundo pareceu o lugar mais confortável do mundo.
— Obrigada, mesmo. — Ela murmurou mais uma vez, enquanto me acompanhava até a porta.
— Não precisa agradecer. — Encarei seus olhos apagados por uma tristeza visível, me perguntando internamente como alguém se sujeita a isso. Mas no fim eu sabia a resposta: quando amamos alguém, até mesmo suas ações mais horríveis se tornam relevantes. O amor justifica a maldade. — Boa noite, Camila.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Outbreak
Historical FictionLauren foi diagnosticada com TEI (Transtorno Explosivo Intermitente) aos 12 anos, em meio a acessos de raiva e traumas irreparáveis. Desde então, vem lutando diariamente contra todos os traços de seu transtorno para ter uma vida melhor ao lado de su...