Amigas que se beijam!
A frase ecoava em minha cabeça como uma afronta. O ar me faltou por um segundo enquanto encarava Camila, procurando em seus olhos algum sentimento além do arrependimento que dançava em seus glóbulos castanhos.
Destravei a porta e saí do carro consternada, a vontade de gritar rugindo dentro de mim como uma besta. Eu era tão idiota...
O mostro dentro de mim rugiu de novo e eu atravessei a rua com o gosto amargo da rejeição. Mas o que eu esperava dela? Esperava que Camila desistisse da família que construiu para andar de mãos dadas comigo como duas adolescentes? Esperava que traísse o marido por quem demonstrava tanto sentimento? Que merda eu estava pensando? Foi só um dia legal...
Atravessei a rua cegamente e estava prestes a contornar a esquina quando Camille surgiu na minha frente, me fazendo frear onde estava.
— As pessoas costumam olhar antes de atravessar a rua, sabe, pra não serem atropeladas. — O ar irônico saiu de seus lábios naturalmente.
Encarei seu rosto que por um momento ficou disforme, enquanto meus olhos queimavam em raiva.
— Agora não. — Cuspi, grosseira. Mal conseguia enxerga-la além do sentimento ruim que crescia dentro de mim, como se fosse me dilacerar de dentro para fora.
Camille deu dois passos para trás, talvez percebendo a raiva em meus olhos, a consternação dentro de mim. Passei por ela e comecei a andar apressada, as orelhas queimando e minha pressão subindo.
Nesses momentos, é como se eu fosse uma panela de pressão. Sinto meu pino levantando e tudo o que eu tenho é a vontade de acertar alguma coisa. Me cansei de estourar telefones, porquê normalmente é o que está mais perto das minhas mãos. Agora, elas estão vazias, e meu pino continua subindo, pressionando meu interior em um ódio esmagador.
Nem sei como cheguei em casa, só ouvi a porta batendo atrás de mim. Me vi contando até dez, tentando retomar os sentidos, mas me perdi na contagem enquanto subia as escadas. Senti a garganta se fechando, as orelhas pegando fogo, o coração palpitando. Quando forçava a visão, conseguia enxergar tudo duplicado, como se a raiva quisesse se expandir dentro de mim. Abri o chuveiro e me enfiei na água fria com roupa e tudo.
Enquanto a água gelada caía sobre mim, senti um choque percorrer meu corpo, dissipando um pouco da tensão que eu carregava. Fechei os olhos, deixando que as gotas lavassem não apenas meu corpo, mas também minha mente tumultuada.
Os pensamentos se embaralhavam, alternando entre a mágoa, a raiva e a confusão. Por que eu me deixei levar por aquela fantasia? Por que alimentei esperanças que não tinham base na realidade? Por que permiti que minha mente criasse ilusões que só serviram para me machucar?
Enquanto as perguntas ecoavam na minha cabeça, uma sensação de exaustão começou a se infiltrar em cada fibra do meu ser. Não era apenas o cansaço físico, mas também emocional. Eu estava esgotada de lutar contra sentimentos que pareciam estar além do meu controle, de me enganar com sonhos que nunca se concretizariam.
Deixei que a água do chuveiro lavasse não apenas meu corpo, mas também minhas feridas emocionais. Era hora de aceitar a realidade, de deixar de lado as expectativas impossíveis e de seguir em frente. Não seria fácil, mas era necessário para minha própria sanidade.
Mas então eu escutei os gritos. Os gritos dela...
Tentei ignorar, mas atingiram algum ponto da minha raiva, que era tamanha que parecia transcender. Me levantei rapidamente, sem muitos pensamentos racionais e me movi para fora do quarto, fazendo o caminho para fora da casa e atravessando o quintal, invadindo o dos Cabello. Dei de cara com Shawn saindo por sua varanda e mal pude piscar antes de pular em cima dele, a fera que existia dentro de mim querendo devora-lo.
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Outbreak
Historical FictionLauren foi diagnosticada com TEI (Transtorno Explosivo Intermitente) aos 12 anos, em meio a acessos de raiva e traumas irreparáveis. Desde então, vem lutando diariamente contra todos os traços de seu transtorno para ter uma vida melhor ao lado de su...