Capitulo 2 - Dia de Sol

89 7 0
                                    

Quarta-feira,2019.

 Quando eu era mais nova, conversava bastante com Stela sobre lugares que eu queria conhecer, o que resumindo era basicamente o mundo todo, e a California estava na lista, é claro. Faz um mês que estou ''morando'' aqui, em Los Angeles, e mesmo com as ruas silenciosas, lojas abandonadas, restaurantes desertos, praias vazias e noites escuras...ainda é bonita.

 Stela me falou muito sobre esse lugar, seus avós moravam por aqui, então ela passava as férias e alguns feriados na casa de praia deles. Uma vez, ela disse que me traria junto, que íamos pegar marquinhas e tomar sorvete na sua sorveteria favorita, olharíamos os surfistas gatinhos e andaríamos em uma roda gigante famosa por aqui. 

 Caralho, sinto falta de Stela. Odeio pensar nela no passado, como se ela e as outras pessoas desaparecidas estivessem mortas, isso faz meu estômago embrulhar, e meus olhos arderem.

 Stela está viva, assim como meus pais, porra. Eu só não sei aonde eles estão. 

 No momento estou deitava em uma cadeira na praia, pegando sol e lendo um livro, é o décimo quinto desse ano. ''Simplesmente Acontece'' é um bom livro, estou quase no final, mas confesso que passei raiva a maior parte do livro, fala serio, os dois estavam tão errados. Querem ficar juntos, mas não conseguem assumir isso e no fim acabam se magoando e se afastando cada vez mais.

 Marcando a página e fechando o livro eu observo o mar, suas fortes ondas fazem um barulho agradável para essa tarde, e o sol está forte bem em cima da minha cabeça. Levanto e puxo um guarda-sol que estava ao lado da minha toalha. 

-Acho que o tempo está ótimo para um cochilo na praia.

 Não estou no centro da cidade, achei umas casinhas que tem como fundo a praia, então estou aproveitando para ler e descansar. Minha arma está guardada na bolsa, tenho ela comigo desde 2016, salvou minha vida algumas vezes, contra monstros horríveis, então não me separo mais dela. Assim como a minha faca e o meu taco.

 Sim, eu guardei o taco de beisebol do Vernon comigo. Não vou para lugar nenhum sem ele. Uma vez, estava sendo atacada por um urso, então lutei contra ele, peguei o taco e bati em sua cabeça com toda a minha força. Ele caiu no chão, não estava morto, mas eu não esperei ele acordar para ver, juntei todas as minhas coisas, e corri. Corri até minhas pernas não aguentarem mais, corri até sentir meus pulmões doerem.

 Desde então eu tento não deixar a minha guarda baixa. Ele me pegou de surpresa, isso não vai mais acontecer.

 Coloco minha mochila embaixo da cabeça, minha mão direita dentro dela, segurando a arma, a faca próxima a minha mão esquerda e o taco ao meu lado direito, na areia. Não vejo aquele urso a 3 anos, mas não consigo evitar, achei que morreria naquele dia, tinha certeza disso. Meu olho estava roxo, lábio cortado, talvez até uma costela quebrada, cortes pelas minhas coxas, barriga e braços. Tudo em mim doía, e não tinha ninguém para me ajudar, para me salvar.

 Depois de alguns minutos, horas talvez, eu acordo. O sol ainda está forte, e as ondas do mar barulhentas. Me sento devagar e olho em volta, uma sensação estranha me invade.

  Estou sendo vigiada.

 Estou usando um shorts claro e curto, biquini branco na parte de cima, coloco meu coturno preto e escondo minha faca nele, minha arma na parte de trás do meu shorts e o taco na mão. Parece que eu sou algum tipo de agente, policial ou sei lá, mas sou só uma mulher cansada de se sentir frágil e vulnerável no fim do mundo. Eu perdi meu amigos, pais, irmão e avós, não me sobrou nada, o que eu tenho a perder?

 Deixando as minhas outras coisas na praia, eu sigo em direção a casa. Ela é branca com detalhes em azul bebê, com janelas que vão do teto até o chão, uma escada de madeira na parte de trás que da acesso a porta de correr, está suja e mofada, mas eu consigo imaginar como ela era linda antes, toda branca e decorada com flores para todo lado. Acho que uma mulher morava aqui, encontrei vestidos lindos e alguns biquinis no armário, obrigada moça, seja lá quem voce for, ou foi.

Brave! | BangChanOnde histórias criam vida. Descubra agora