Capítulo 5

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— Por que você se importaria com isso? — Ela perguntou, um fiapo de esperança.

Kara encarou Rhysand, com seus mais novos par de olhos acastanhados tão apagados e frios, mas nela, em sua alma pura, aquele toque de maldade que existia na aparência de Amarantha, não importava.

Rhysand se inclinou para trás, repousando em sua cadeira de maneira calma, seu rosto era uma mistura de pensamentos e elegância, Kara percebeu que ele era bom nisso, em esconder seus verdadeiros sentimentos e seus reais pensamentos, ela sabia, e ousava dizer que o conhecia um pouco, diante de toda a leitura que teve, a nova feérica ousava pensar que conhecia um pouco da alma que o Grão-Senhor possuía. Mas ela não era Feyre, não era uma humana que os salvou da miséria, foi apenas um inconveniente no futuro de Amarantha, esse inconveniente os deu a liberdade, mas não Kara. Ainda não.

— Eu não me importo. — Rhysand exclamou, acariciando seu maxilar tenso.

Kara ergueu suas sobrancelhas, o encarando de maneira intensa, ele parecia nervoso, mas sabia como contornar isso, ele era Rhysand, esse homem saberia contornar muito das situações indesejadas. Ela o viu encarar seu braço que estava dobrado em cima da mesa, viu como era intenso o olhar sobre a tatuagem que desenhava o braço fino e pálido.

— Você não morrerá antes de devolver o que roubou. — Garantiu ele.

— Eu nunca. Nunca roubei algo em toda minha vida. — Kara murmurou, ela estava envergonhada por essa situação, irritada e triste em como todos não pareciam perceber ou sequer se preocupar em como ela se sentia.

— A mulher que antes reinava roubou. — Ele disse. — Você tem o corpo da vadia. Sua única obrigação é aprender e devolver, então sumir e levar a vida do jeito que deseja.

— E se eu não quiser sumir? — Indagou.

— Não existe essa possibilidade, Kara Howard. — Ele disse.

— Me julga tão má, mas nem mesmo conhecer o que sou. — Kara tomou fôlego. — Você é tão igual a todos eles, Rhysand.

Rhysand a encarou, erguendo uma de suas sobrancelhas bem desenhadas.

— Todos os outros Grão-Senhores o julgam, o vêm como um monstro da noite. Eles não te conhecem, vocês não me conhecem!

Ele se levantou, alisando sua túnica elegante e com bordados finos, calma fluia de todas suas ações, Rhysand empurrou a cadeira de volta no lugar, olhando Kara com intensidade antes de se virar e partir.

— Não procure por mim. — Disse ele. — Por hora, não estarei aqui.

Um soluço incontrolável saiu de Kara, não era um choro ou tristeza saindo de seus olhos, ela queria chorar e gritar, ela perdeu tanto quanto todos. Sua vida, suas ambições, sua família. Ela perdeu Kai, mas ninguém se importava, ninguém iria se importar com a mulher que possuía o corpo da vadia vermelha.

Eles não a conheciam, e nem desejavam conhecer.

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Seu pulso se movia conforme balançava a taça de vinho segura nos dedos, a cor escura parecia se assemelhar ao sangue podre das celas escuras de Sob a Montanha, Rhysand respirou fundo, seus lábios rígidos estavam em uma linha fina enquanto pensava.

— A garota deveria estar morta. — Amren diz, seu tom de voz estalando como chicote.

— Concordo com isso, qual é a garantia de que os poderes de todos os Grão-Senhores permanecerão seguros? — Azriel indagou. — Viva ou morta, a garora é um problema.

— Eu não queria estar falando sobre assuntos tão irritantes nessa noite. — Cassian suspirou, inclinando a cabeça para trás. — Mas preciso dizer, ela pode ser perigosa, Rhys.

Ele bufou descontente, bebendo todo o líquido doce e alcoólico, Rhysand chiou baixo ao sentir a bebida descer por sua garganta, logo se servindo de mais vinho com calma.

— Sei disso. — Disse sério, seu olhar tenso. — Mas dessa vez, estaremos preparados caso ela tente um ataque.

Rhysand ergueu as sobrancelhas ao ouvir o ruido nada disfarçado de deboche que Morrigan fez, ela estava sentada de maneira despojada em uma poltrona, bebendo tanto vinho quanto os outros, mas ainda parecia se manter sóbria. Pelo menos, o suficiente para dizer sua opinião.

— Não seja estúpido, Rhys. Você mais do que ninguém a viu, eu a vi hoje. — Rolou os olhos em descrença. — Consigo ver perfeitamente que aquela garota, não é uma vadia suja como Amarantha.

— Você nem mesmo a conhece. — Amren disse, erguendo seu nariz.

Morrigan estalou a língua, olhando para todos antes de pousar os olhos em Amren.

— Todos conheciamos Amarantha, e apesar disso, a vadia soube fazer um jogo sujo e enganar a todos. — Virou o rosto para seu primo antes de continuar. — A questão aqui é, não conhecemos Kara.

— E nem desejo conhecê-la. — Rhysand exclamou, um tanto ríspido.

— Não precisamos a incluir na família ou trançar nossos cabelos juntos. Mas todos nós sabemos a hipocrisia que é julgar alguém sem ter conhecimento do interior.

— Desde quando se tornou tão pacífica, Mor? — Cassian cantarolou.

— Desde que olhei para os olhos dela. — Morrigan pontuou. — E vi muitos sentimentos, que Amarantha era incapaz de sentir.

Corte De Sonhos e Mudanças | ʳʰʸˢᵃⁿᵈOnde histórias criam vida. Descubra agora