Masha minha

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A gente vivia numa casa, no interior do Paraná. O nome da minha irmã era Maria, mas eu só a chamava de Masha. O meu, não quero dizer. Não digo. Cê me desculpe. Pode me chamar de homem. Tanto faz. O melhor é não me chamar e apenas ouvir o que preciso contar.

Nossos pais morreram num acidente de carro, depois da ponte que leva pro centro da cidade. Um hotel antigo desabou e os escombros esmagaram o carro, com os dois dentro. Eu sempre me perguntei o que eles faziam ali, naquele lugar ermo, àquela hora. Eu tinha quinze e ela treze.

Ganhamos uma boa nota. Meu pai havia feito um seguro caro, praticamente sua única despesa regular, além de algumas coisas de casa e da empresa. Ela produzia uma liga especial de borracha, que havia deixado a gente bem de vida. Eu havia me tornado herdeiro do seu negócio e o senhor Barcellos o escolhido para administrá-la, até eu ter idade para assumir a "Bortec".

Masha dormia comigo fazia muito tempo. Acho que desde o primeiro dia sem nossos pais na casa. Ela não podia dormir sozinha. Acordava de noite sentindo palpitações e suava como um porco prestes a ser abatido. Tentou algumas poucas vezes e decidiu que seria comigo que passaria suas noites, ou não dormiria mais. Não tive escolha. Não podia deixar que minha irmã passasse todas as noites em claro, ou que começasse a se drogar para dormir.

Até os dezessete anos, nada aconteceu, mas quando fiz aniversário, Masha disse que tinha uma surpresa para mim. A secretária falava com os funcionários da casa. Passamos por eles e subimos as escadas para o quarto de minha irmã, onde ela nunca dormia. Que estranho, pensei.

Masha tinha completado quinze anos e eu esperava por alguma coisa a altura da idade dela, mas é claro que fui surpreendido. Quando cheguei a seu quarto, trazido pela mão, deparei-me com algo que me fez dar um passo atrás, desfazendo os dedos entrelaçados que me prendiam a ela.

- O que é isso, Masha?
- Ué, você a conhece. Ela se chama Betina.
- Eu sei que ela se chama Betina, mas o que ela está fazendo na sua cama?
- Betina, será que a gente conta pra ele?

Eu sabia o que estava acontecendo desde que havia colocado os olhos na Betina. Não imaginava tudo que minha irmã tinha em mente, mas sabia que ela havia descoberto meu segredo. Meu corpo estava borbulhando. Sentia calores, indo e vindo. Minhas pernas estavam fracas, ainda que não tremessem.

- O que está fazendo, Masha? O que você quer com esse circo?
- Ué, eu quero ver.
- O quê?

Não poderia ficar pior. Eu tive que me apoiar na cadeira, ao meu lado. Não podia dizer nada. Estava engasgado com meus pensamentos. Ela me encarava, com sua aparência febril, sua postura retraída, mas de um olhar incisivo.

- Eu quero ver, Jambo.
- Não me chame assim.
- É o seu nome.
- Você sabe que eu não gosto.
- Tá bom, Fernando, como você quiser. Mas anda, eu quero ver você com ela, aqui.
- Do que você está falando, sua louca?

Os olhos se cerraram. A boca crispada se abriu, expulsando cada palavra com perfeita dicção.

- Homens chamam mulheres de loucas, especialmente quando estão acoados e são incapazes de se livrar da culpa. Georgia me falou isso, há um tempo. O que acha?
- Acho que você está procurando um problema à toa. Não gosto dessas brincadeiras e...
- Anteontem, atrás da Pedra do Pioneiro, depois dos poços, depois da estrada velha, lá pra onde iam as cabras de Dom Manuel, antigamente, lugar pouco visitado, eu te vi com a Betina. Por favor, não tente negar. É ridículo. Eu posso levar você até lá e mostrar exatamente onde estavam e onde eu estava.

Não havia o que dizer. Na verdade, havia, mas eu tinha sido vencido por sua retórica e postura física. Eu não podia vencer aquela certeza, estampada num olhar cortante e sem remorso algum. Caí, diante dela. Baixei os olhos. Por minha cabeça, passavam visões do que eu havia feito e de como ela havia visto tudo que fiz. Apenas deixei algumas palavras escalarem a minha garganta, pra se atirarem de qualquer maneira lá fora.

EROTISMOS CONTADOS IIOnde histórias criam vida. Descubra agora