SOBRE CRONOGRAMAS

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EM HIPÓTESE ALGUMA
tente fugir do castelo em plena luz do dia
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NOSSO CRONOGRAMA estava cheio naquele dia, primeiro iríamos tomar café com a família real, depois passaríamos por uma entrevista com Nicholas, onde ele perguntaria coisas sobre nós, com o intuito de saber mais sobre cada uma. Confesso que fiquei com vontade de pular essa parte, mas mesmo insistindo, não consegui ser liberada. E no final do dia, a entrevista com Vicente, o apresentador do Jornal Nacional. Eram tantas entrevistas que, sinceramente, tive vontade de fugir e eu realmente tentei.

— Vamos, Antonella — apressei, perto da janela, observando e medindo a altura até o chão —, me passe o lençol, prometo que não vai dar em nada pra você.

— Eu devo ter jogado pedra na cruz — resmungou ela, mas fez o que eu pedi — Se essa fuga der certo…

— Obrigada! — agarrei o lençol em sua mão, emendando ele na corda que eu estava montando com todos os outros, minutos antes dela chegar — E essa fuga vai dar certo.

Não deu. Se eu consegui me afastar dez metros do castelo foi muito. A descida foi fácil, vocês devem ter adivinhado que não foi a primeira vez que fiz isso, mas ao chegar lá embaixo, eu teria que correr. Juro que tinha pelo menos cinco guardas me esperando, a mocreia deve ter suposto que eu tentaria fugir de minhas obrigações, então preparou tudo para me capturar. Ser uma atleta não estava, exatamente, no meu sangue, fora o surf e o skate, não tem nenhum esporte que eu pratique diariamente, a não ser que você considere carregar livros nos braços uma modalidade olímpica.

— Não acredito que ela mudou o horário dos seus turnos — reclamei para os guardas que me carregavam de volta para o quarto. — Ia dar certo se não fosse por isso.

— Vossa majestade, a rainha Katarina, nos avisou sobre possíveis fugas vindas da senhorita — contou Francisco, um dos mais novos funcionários do castelo.

— Essa megera, desgraçada — xinguei baixinho.

— Está entregue, vê se não foge de novo, Jordana — repreendeu Matheus, um dos mais antigos no castelo.

— Não prometo nada, tenham um bom dia! — disse, antes de fechar a porta do meu quarto, tendo que lidar com três mulher bastante bravas comigo. — Eu posso explicar! — antecipei a bronca, tentando ganhar tempo.

— Então explica — pediu Maitê.

— Agora? Droga, eu achei que teria mais tempo para inventar uma desculpa — murmurei. — Em minha defesa, o cronograma de hoje eram entrevistas, uma com o Nicholas para ele “me conhecer melhor” — fiz aspas com as mãos — e outra com o Vicente, mas nessa eu ia aparecer, juro de dedinho!

— Realmente, é compreensível — me defendeu, a mais velha.

— Obrigada, dona Célia! — lancei um sorriso agradecido, em sua direção — Viram? Deu tudo certo!

No final precisei mesmo comparecer ao café da manhã, Antonella separou um vestido médio, com mangas finas e em tons de verde para mim; meu cabelo estava meio preso, com suas ondas naturais; como maquiagem foi decidido apenas uma base leve e um pouco de glitter na pálpebra; o sapato foi a parte mais difícil de decidir, não me deixaram usar algo muito baixo, então um salto quadrado de tamanho médio no mesmo tom do vestido foi a escolha que agradou a todas.

Sou liberada para descer, não antes de prometer que iria ficar quieta e sem armar outra tentativa de fuga. Descubro depois de alguns minutos que estava adiantada, porque dentro da sala de jantar só estavam eu e a rainha. Seu olhar mortal se ergue da revista em suas mãos, sou capaz apenas de ver um relance das minhas mechas cor de rosa na página, antes que ela a feche com tudo e comece a andar em minha direção. Eu sabia que prometer não fugir era uma ideia péssima, porque agora tudo que eu queria era correr.

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