GUIA DE SOBREVIVÊNCIA À REALEZA

SOBRE A SELEÇÃO

EM HIPÓTESE ALGUMA
fuja do seu guarda e do seu motorista em cima de um palco de madeira.
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A SEMANA POSTERIOR ao anúncio das selecionadas, foi a mais caótica da minha vida inteira. Sempre fui acostumada com a mídia se metendo em cada espaço da minha vida, afinal, cresci ao lado da realeza, mas a atenção em cima de mim redobrou desde sexta passada. A cada passo que eu dava um jornalista diferente tentava marcar uma entrevista, a cada esquina virada um paparazzi enfiava a câmera enorme na minha cara. Se eu consegui sair para surfar um dia, foi muito. Isso sem contar, que a peste da mãe do Nicholas proibiu que nos falassemos até o início da seleção, de acordo com ela "para não ser injusto com as outras selecionadas", mas eu sabia que na verdade era a mais pura implicância com a minha pessoa, afinal a situação já era por si só, meio injusta, eu era a única das selecionadas que conhecia o Nicholas bem antes da seleção começar. Fora o fato de que graças a ela quase fui barrada de entrar na seleção, tudo por causa da cor do meu cabelo, que no dia da inscrição estava em um tom de rosa pastel. Agora a raiz está com quase um centímetro de espessura, mas por causa da diaba eu não posso retocar, porque não está nas normas e blá blá blá. Agora me diz, é possível gostar de uma mulher dessa?

Sua mãe está tentando me destruir

Escrevo em um bilhete, passado por debaixo da porta de Nicholas, através da fresta da passagem secreta que me leva até lá, era um risco necessário para nossa comunicação.

Ela sempre tenta, o que ela fez dessa vez?

Não demora até que ele responda, estávamos encostados na mesma porta, com canetas e um bloco de papel, a ideia genial foi minha, é claro.

Além do fato dela não deixar eu retocar meu cabelo e me proibir de falar com você?

Passo o papel por debaixo da porta, consigo ouvir Nicholas rindo baixinho do bilhete.

Desde quando você obedece a ela?

A pergunta na verdade é bem válida, poderia retocar meu cabelo para um arco-íris somente para irritá-la, mas eu sabia que a culpa não recairia sobre meus ombros e ele tinha coisas demais para lidar agora.

Sabe como é, não quero decepcionar o tio Carlos

Invento a pior das desculpas, mas o príncipe parece aceitar, porque no segundo seguinte ouço ele levantando do chão e se deitando na cama, dando fim ao nosso breve papol - papo em papel. Me levanto logo depois, segurando o lampião em minha mão esquerda, retornando pelo caminho empoeirado pelo qual eu vim. Fazem anos desde que eu usei essa passagem pela última vez, geralmente utilizo o caminho convencional, odeio todas as infinitas aranhas que as estruturas do castelo parecem abrigar.

O resto do dia passou de forma arrastada, não pude ficar na enfermaria com minha mãe, porque requisitaram minha presença, para uma entrevista sem pé nem cabeça. Pensei em ir embora, passar o dia inteiro longe do castelo e das minhas obrigações como futura selecionada, mas a rainha reservou o salão das mulheres para que a tal entrevista fosse feita, pode ter sido um ato de bondade vindo de seu coração gelado, ou um plano ardiloso para vigiar minhas respostas e tentar me cortar da seleção, eu sinceramente aposto na segunda opção e você?

— Boa tarde, senhorita Soares, me chamo Stella — uma mulher de cabelos longos e loiros se apresentou, aparentemente era ela quem me faria as perguntas. — Pode se sentar.

— Boa tarde, Stella — cumprimentei, me sentando na cadeira ao outro lado da mesa. — Isso vai demorar muito?

— Ah, não! São perguntas básicas, não iremos tomar muito do seu tempo — respondeu ela, olhando seu relógio, que notei ser da hello kitty, mas não comentei nada, apesar de ter ficado com uma vontade inexplicável de rir.