Ponto de vista de Flávia.-Me solta, seu desgraçado! - Gritei, enquanto os capangas nos arrastavam até os fundos da boate, onde ficava o escritório de Rodrigo.
-Cala boca, Pink! - Léon disse bravo.
A dondoca, que eu ainda não sabia o nome, fazia um chilique, enquanto Paco tentava entender o que estava acontecendo, o tal Doutor ficava calado, aparentemente incrédulo que aquilo estava acontecendo com ele.
Eu ainda não entendia porque eles estavam fazendo aquilo, ou o que planejavam. Eu só sabia que nada de bom vinha daqueles irmãos.
A diferença de idade entre Nico e Léon era de quase 10 anos, o irmão mais velho fazia questão de dizer que era mais velho e responsável pelos negócios, enquanto o mais novo e explosivo Nico, tentava agradar de qualquer forma. O bairro todo conhecia a gangue deles, e não era difícil ter medo quando já se tinha ouvido falar tantas histórias horríveis vindas daqueles dois.
Nico era meio instável, e algumas pessoas arriscaram dizer que ele esteve interessado em mim por um tempo. A verdade é que eu o conheci anos atrás na escola, porque tínhamos a mesma idade e éramos do mesmo bairro. Lembro que ele era um rapaz normal e sorridente, costumávamos ser amigos, até seu irmão voltar para a cidade e assumir os negócios no lugar de seu pai. A partir daquele dia, ele nunca mais voltou para a escola. Quando eu o vi, meses depois, estava diferente, só vivia drogado e arrumando confusão por aí. Era uma outra pessoa.
Eu nunca nutri nenhum tipo de sentimento por Nico, e quando ele veio me procurar há cerca de um ano atrás, quando comecei a trabalhar na boate, ficou extremamente possessivo ao descobrir que eu estava namorando. Foi uma confusão e tanto.
-Sentem aí. - Nico ordenou, assim que entramos no escritório da boate. - Calados.
-Fiquem sabendo que eu vou levar isso à justiça, meus advogados vão acabar com vocês! - Disse o Doutor convencido.
-Meu irmão mandou vocês calarem a boca, porra! - Léon disse. - Olha só, eu tô ligado que você é o Doutor Guilherme Monteiro Bragança, um médico foda e que ganha muito dinheiro, que você é Paula Terrare, uma madame podre de rica que tem uma empresa de maquiagem, você é o Paco Santos, um suburbano de quinta categoria, e você é a Pink, uma dançarinazinha de pole dance.
Ele disse apontando para cada um de nós, respectivamente. Eu não tinha ideia do que estava armando, mas sabia que não era coisa boa.
-Se você sabe quem sou eu - O Doutor começou. - Por quê acha que eu tenho alguma coisa a ver com esse bando de gente doida aqui?
-Ei, meu filho! Gente doida uma ova, tá legal? Eu sou Paula Terrare, proprietária da maior fábrica de maquiagens do país. Mas olha aqui, eu também quero saber o que vocês estão pensando em me arrastar até esse fim de mundo!
-Eu não sou uma dançarinazinha não, tá legal? - Me defendi. - Eu trabalho aqui, e é um trabalho honesto.
O médico riu assim que eu terminei a frase, eu estava começando a sentir raiva daquele metido.
-Eu aceito o rótulo de suburbano, eu sou mesmo e com orgulho! Mas não sou de quinta categoria não. - Paco disse, me arrancando uma risada.
-Se vocês calarem a boca, vão perceber o que está acontecendo aqui. - Nico disse. - Me respondam, todos aqui tem algum tipo de relação com o Rodrigo, não tem? Foram enganados, idiotas! Ele vendeu a vida de vocês, em troca dessa espelunca.
-Rodrigo é meu amigo, o que tem a ver? - Paco perguntou.
-Eu não tenho relação nenhuma com o dono dessa boate de quinta. Não sei o que está havendo aqui, mas eu claramente não tenho nada a ver com isso. - Guilherme disse.- Na verdade, o conheci no consultório umas duas semanas atrás, ele levou a filha dele para uma consulta e depois ficou insistindo para que eu conhecesse a boate dele, como forma de agradecimento. Eu nunca teria vindo, se não tivesse tido uma briga com minha esposa mais cedo.
-Eu tive o desprazer de conhecer esse idiota na minha empresa, ele disse que tinha uma coisa muito importante para me falar e que era algo que poderia prejudicar meus negócios. Foi uma armadilha? - Paula perguntou.
-Olha aqui, eu não acredito em vocês, o Rodrigo é meu chefe e é uma boa pessoa, isso é malandragem desses bandidos. - Finalmente foi a minha vez de falar.
-Meus caros, podem reclamar a vontade, podem achar que é mentira, mas o fato é que vocês vão fazer exatamente o que eu mandar. - Léon disse, se servindo uma dose de rum. - Sabe, as pessoas pensam que a vida dos traficantes é fácil, mas não! A gente rala muito, trabalha muito para conseguir manter a reputação, e é a coisa mais fácil do mundo perder tudo. Meu pai construiu todo o nosso império com muita luta nos anos 70, naquela época era mais fácil lidar com a polícia, e ele teve sucesso porque não aparentava ser um bandido. Na verdade, as pessoas até se assustavam quando percebiam que aquele senhor culto e bem vestido era o maior traficante de drogas da cidade. - A medida que ele falava, também caminhava pela sala, com uma arma na mão, Nico se mantinha próximo a parede quieto, e eu sentia seus olhos em mim.- Infelizmente, meu irmão e eu temos cara de bandido, e está cada vez mais difícil atravessar as fronteiras por aí, devem imaginar né? Todos que trabalhavam para nós, foram presos, precisamos de gente nova para transportar uma mercadoria boa. Vai ser só uma vez, mas vai ser muito foda.
-Você não tá achando que vamos trabalhar para você, né? - Perguntei e dei uma risada sarcástica.
-É exatamente isso que eu acho, Pink, por que a risada? Ou, será que você vai deixar o seu precioso Juca morrer?
Engoli em seco, Juca era meu pai, a pessoa que eu mais amava no mundo, não podia deixar que nada de ruim acontecesse com ele.
-É isso mesmo que vocês ouviram? A Pink não quer perder o precioso pai, e creio que vocês também não querem perder seus entes queridos. Não é Doutor Guilherme? Sua esposa, Rose, e seu filho. Ou será que a madame Paula Terrare não tem medo de perder sua querida filha, Ingrid? Ela é uma linda jovem de 16 anos, com a vida toda pela frente. O Paco também tem uma filha adolescente, não tem? Como é mesmo nome dela?
Todos naquela sala estavam em silêncio, dava para sentir nosso medo. Eu não conhecia aquelas pessoas que estavam naquela enrascada comigo, mas já sentia pena por elas, e por mim.
-Se você encostar a mão na minha mulher e no meu filho, eu juro que acabo com você! - Guilherme parecia transtornado.
-Ninguém aqui vai machucar ninguém, Doutor. - Léon disse. - Quer dizer, eu estou contando com a ajuda de vocês!
-O que você quer com a gente? Nos prender aqui e nos fazer seus capangas? Eu tenho família, eles vão sentir minha falta, seu idiota. - Paco disse.
-Mas quem aqui está falando de sequestro? - Léon brincou, bebendo mais uma dose de rum. - Vocês irão continuar vivendo suas vidinhas da mesma forma, sem contar nada, nunca, para ninguém e sem levantar suspeitas. Quando eu precisar do trabalho de vocês, darei um jeito de os encontrar. Não podem sair do país, não podem contar nada à polícia, não podem vacilar, ou todos aqueles que amam, irão pagar por isso. Meu pessoal estará de olho em vocês e em suas famílias. Lembrem-se, se saírem daqui e irem direto para a polícia, eu posso ser preso, mas vocês terão de ir a muitos velórios. Vejo vocês em um mês. - Ele finalizou, saindo do cômodo, sendo seguido por Nico e seus capangas.
Mas que porra?
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PINK
FanfictionFlávia e Guilherme se conheceram na mais absurda das circunstâncias, e por algum motivo, o destino insistiu que permanecessem na vida um do outro. Após um trauma, Flávia percebe que não quer morrer, sem antes se apaixonar de verdade por alguém. O qu...