Capítulo 4

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-Já vai sair? - Murilo perguntou com cara de sono, enquanto eu terminava de me arrumar. Estava com um delineado azul, meia calça arrastão, camiseta e shorts, óculos escuros, do jeito que eu amava.

-Preciso resolver algumas coisas, te vejo na boate hoje a noite?

-Claro! Estarei lá, cantando uma música para você. - Sorriu.

Retribuí o sorriso e ajeitei o cabelo pela última vez, eu ia tirar essa história a limpo hoje mesmo.

O ônibus na cidade do Rio de Janeiro era assustador, mesmo aos finais de semana. Pensei em quando os humilhados serão exaltados.

Desci em um ponto em frente um prédio enorme e espelhado, na fachada tinha ''Terrare Cosmetics", percebi que estava no lugar certo.

-Com licença, preciso falar com a Paula Terrare. - Falei para a recepcionista, que me olhou e sorriu.

-A senhorita marcou algum horário? Essa semana a senhora Terrare só está atendendo com horário marcado.

-Não, não, não marquei horário. Olha só, mas é bem urgente, tinha como você passar o recado para ela? Diz que é a Pink, a garota da boate. Ela vai querer me receber.

A recepcionista assentiu e meia hora depois autorizou que eu subisse até a cobertura.

-Paula Terrare? - Chamei ao entrar no enorme escritório.

-Pink, não é? - A mulher elegante perguntou, ela vestia roupas que eu sei que comprariam minha casa.
- E então? Tá fazendo o que aqui?

-Na verdade, meu nome é Flávia. Como assim, o que eu estou fazendo aqui? Será que eu sou a única preocupada com o que aconteceu ontem? - Sussurrei nessa última parte. - Os bandidos querem que sejamos bandidos também.

-Olha aqui garota, eu não vou cair em chantagem nenhuma daquela gangue, e nem você deveria. É ruim, hein!

-Mas, você tem uma filha, não tem? Eles ameaçaram ela.

-Meu santo é poderoso, tá legal? Aqueles bandidinhos de quinta categoria que se atrevam a mexer com Paula Terrare!

-Eu não sei não, viu Paula. - Sentei em uma poltrona. - Estou com uma sensação ruim, sinto que eles realmente vão cumprir com o combinado, se não fizermos o que eles querem.

-Você não trabalha naquela boate? - Perguntou. - Tá sabendo que foi aquele brega do seu patrão que colocou a gente nessa roubada, né?

-Eu ainda não acredito que ele faria isso, é outra coisa que me tira do sério. Ele tem uma esposa, uma filha linda que acabou de nascer, não é uma pessoa ruim.

-Você é muito nova, mas ainda vai aprender que quando se trata de dinheiro, não existem pessoas boas. - Ela suspirou. - Escuta, você conhece aquele cara que estava lá com a gente?

-O Doutor?

-Não, não. Aquele com cara de suburbano. - Paula caminhava de um lado para o outro, parecendo estar tramando algo.

-Não muito bem, sei que o nome é Paco e ele é da Tijuca. Mas por quê?

-Nada não, curiosidade.- Respondeu, sem me convencer.

Depois de perceber que ela não tinha dado a mínima para as ameaças, me senti um pouco boba de ter levado a sério e ter me preocupado tanto.

A sensação ruim ainda existia dentro de mim, mas decidi ignorar.

Estava decidida a esquecer essa história toda, mas antes, precisava falar com uma pessoa.

Ponto de vista de Guilherme.

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