2013
Tudo o que Apo precisava fazer era seguir o ritmo da música, e não era uma coisa tão difícil assim, já que ele era um patinador experiente, mas ele estava com medo. Era o início da sua carreira e, ainda que aquela não fosse a sua primeira apresentação, sentia como se estivesse fazendo aquilo pela primeira vez. Patinar não era difícil, ele fazia aquilo desde que entendeu o que queria para o seu futuro. Agora patinar era como o ar, não poderia viver sem.
A competição em questão era coisa simples. Estava participando daquele tipo de evento em que crianças competiam para ganhar experiência, medalhas e dar mais um passo para algo maior. Então, bom, não havia motivos para estar tão nervoso assim, mas ele sentia como se pudesse vomitar e não seria tão ruim assim se desistisse de última hora. Só que os seus pais estavam na arquibancada com olhares apreensivos e sorrisos encorajadores. Apo não poderia decepcioná-los. Não poderia decepcionar a si mesmo também.
Ele controlou a respiração querendo sair do ritmo. Respirou e inspirou três vezes. No início executou movimentos perfeitos. Os saltos e os giros fizeram a plateia gritar e aplaudir. Os jurados mal-humorados estavam sorrindo para ele. Apo sentia que conseguiria ficar em segundo lugar, não em primeiro, porque alguns patinadores eram melhores que si, além do mais, o seu corpo estava tenso e ele patinava como se tivesse medo até da própria sombra. Mas tudo bem. O segundo lugar estava bom para quem estava começando.
Algumas coisas exigiam concentração, principalmente a patinação artística. Apo era uma pessoa distraída, que perdia o foco muito rápido. Faltando apenas executar o último elemento para finalizar a sua apresentação, em meio ao salto acabou pensando demais sobre como seria maravilhoso conseguir o primeiro lugar pela primeira vez em sua vida, e aquele definitivamente não era o momento certo para pensar em qualquer outra coisa a não ser na coreografia. O triplo flip que executou foi perfeito e todos o aplaudiram e gritaram por ele muito alto enquanto saía do chão, mas ao pousar no gelo, Apo escorregou e caiu. Ele queria se levantar e finalizar o seu programa, mas havia batido a cabeça e o mundo parecia girar mais rápido. As costas também estavam doloridas. De qualquer forma, a música cessou e aquele foi o fim da sua apresentação, caído no gelo em um silêncio absurdo que o deixou com vontade de desaparecer dali.
O que veio a seguir não importou para ele. As palmas que estava ouvindo pareciam sinônimo de pena. Também não queria saber a nota dos jurados, com certeza nem conseguiria o terceiro lugar. Os seus pais estavam em pé, ele conseguiu ver, preocupados. Os paramédicos apareceram para perguntar se ele conseguia se levantar, mas Apo estava com tanta dor e vergonha que fechou os olhos e não disse uma palavra, sentindo o corpo ser colocado na maca, cobrindo o rosto com a mão. Naquele dia, achou que o seu sonho de ser um patinador profissional e de ir para as olimpíadas havia acabado para sempre.
Apo não teve sequelas depois da queda. Precisou ficar de repouso por uma semana, apenas. Sem treinar e sem fazer esforço. Ele queria desistir, mas a sua treinadora o incentivou a continuar, dizendo que qualquer patinador poderia cair, até mesmo os mais experientes. Os seus pais foram os melhores. Eles trataram Apo com um carinho que nunca recebeu, mais um sinônimo de pena, ele achou. Estava revoltado com o seu azar, então era natural que pensasse coisas daquele tipo.
Durante uma semana ele não viveu. Foram dias difíceis. A sua mãe perguntou ao marido se deveria procurar uma terapeuta, dizendo que estava com medo de que o filho ficasse depressivo no quarto, onde estava trancado durante dias, sem comer corretamente e sem falar sobre patinar, o seu assunto preferido. Mas no fim, Apo só precisava descansar. O trauma ficaria, mas ele jamais desistiria dos seus sonhos.
ATUALMENTE
Os vilões de filmes eram vilões por um motivo específico: eles tinham um passado triste e traumático. Mas os vilões da vida real, pelo menos a maioria, eram ruins por natureza. Jeff estava naquela lista, aliás. Ele era mesmo desprezível. A pior pessoa do mundo. Um garoto de vinte anos ainda, que com o seu dinheiro e arrogância passava por cima de qualquer um que quisesse tomar o seu lugar de melhor patinador.

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Quebrando o Gelo
FanfictionSe na infância, alguém perguntasse para Mile ou Apo, qual era o seu grande sonho, certamente ouviria que era ser o melhor patinador do mundo e ir às olimpíadas. No mundo da patinação artística, além da grande concorrência e da enorme pressão que col...