Renata

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Acordo com a luz do sol entrando pela janela, e tudo volta à mente como um soco no estômago. O homem mascarado, a faca brilhando sob a luz, o medo que senti ao desviar.

Fui com Renata à delegacia para fazer o boletim de ocorrência. O que aconteceu na padaria ainda parece surreal.

Preciso ser forte, não só por mim, mas por Larissa. Ela precisa de mim em meio a essa confusão. E uma ideia perturbadora não sai da minha cabeça: será que Carlos teve alguma coisa a ver com isso? O jeito como ele se comporta, o passado que compartilho com ele, tudo isso me faz duvidar.

O peso da situação me aperta o peito, mas sei que enfrentar isso é o único caminho.

***

Dois dias depois que fomos ver quem portava a faca, realmente descobri ser de Carlos a digital.

Não consigo pensar em algum motivo para ele fazer isso. Para falar a verdade, desde que nos conhecemos, nunca o entendi.

No começo ele era meio protetor, não gostava que eu usasse drogas, não queria que eu entrasse pro "caminho errado".

Isso foi um negócio que realmente foi estranho, mas como o tempo que passava com ele me afastava de casa e de toda aquela confusão, eu preferi me sustentar nele. Querendo ou não, eu via um pai nele, um pai que não me espancava.

Se isso era certo de minha parte? Sei que não, mas ele se tornou um irmão para mim. Sempre que preciso de ajuda, ele não mede esforços para me socorrer.

Ele tem totalmente a minha confiança, mas agora está me fazendo suspeitar de várias coisas sobre ele.

Levanto-me da cama com o vibrar do celular, olho na tela de bloqueio e vejo duas mensagens de Renata:

Ei, Daniel, tá acordado?

Foguinho... Me responde

Cara, mas que merda de apelido é esse.

Não abro as mensagens, estou com muito sono e provavelmente ela vai querer puxar conversa.

O celular vibra novamente, desta vez de forma constante. Quando olho, vejo que é uma ligação.

Isso é meu ponto fraco. Mensagens eu consigo ignorar, mas uma chamada perdida? Não consigo fingir que não vejo.

— Fala, Renata.

— Mas que seco. — Ela fala com um tom tristonho, quase como se a voz estivesse embargada.

—  Eu realmente estou com sono, são quatro da manhã. — Respondo em um sussurro, preocupado para não acordar minha irmã.

— Tudo bem, mas eu queria te perguntar uma coisa. - Ela para, como se esperasse um incentivo, mas, percebendo que não viria, continua com hesitação. — Posso ir a uma festa amanhã?

— Pode, uai. Por que a pergunta?

— Porque eu queria que você fosse comigo. Tô com medo de andar sozinha.

— Que horas vai ser essa festa?

—  Vai começar às quatro da tarde e terminar lá pras sete.

— Ah, tá. Vai estar de dia, Renata. - Não quero sair de casa. — Deixa pra lá, é festa do quê?

— Aniversário da Rafaela.

— Você não consegue ir com uma amiga? Eu nem conheço essa menina.

— Vou ver com a Helen então. Mas, por favor, eu queria muito que você fosse. — A expectativa na voz dela é palpável.

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