capítulo 10

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No outro dia, acordei um pouco mais cedo do esperado, não consegui dormir muito bem, fiquei pensando como o Dustin estaria no enterro de Will e também como seria depois, quando eu estivesse com Nancy e Jonathan.

Após a cerimônia, encontramos um canto discreto no cemitério. Nancy, Jonathan e eu nos escondemos atrás de uma cerquinha, tentando discutir o que quer que estivesse acontecendo sem ser percebidos.

Jonathan, olhando para o mapa que tínhamos, apontou com um ar de determinação.

— Aqui é onde temos certeza de que a coisa esteve, certo? — ele disse, sua expressão focada.

— Isso é... — Nancy começou, mas Jonathan interrompeu.

— A casa do Steve. — Ele olhou para Nancy, que assentiu, e então continuou. — E aqui é o bosque onde acharam a bicicleta do Will, e aqui fica minha casa.

— É tudo perto. — Eu observei, analisando o mapa. Os X's estavam todos praticamente juntos.

— Sim, exato. — Jonathan confirmou. — Tudo está dentro de um quilômetro e meio.

— Seja o que for, não está indo muito longe. — Ele trocou o olhar entre nós, tentando fazer com que entendêssemos sua teoria.

— Querem ir até lá? — Nancy perguntou, já animada com a ideia.

Jonathan assentiu, mas havia um tom de hesitação em sua voz.

— Talvez não achemos nada.

— Ela achou alguma coisa. — Eu apontei para Nancy com a cabeça. — Não custa tentar.

— E se nós a virmos... — Nancy começou, um tom de preocupação na voz.

— Fazemos o quê? — Jonathan completou.

— Nós a matamos. — Ele respondeu de forma direta, levando a conversa a um nível totalmente novo.

Jonathan se virou em direção a um carro, que provavelmente era dele. Eu e Nancy trocamos olhares por um momento, antes de nos dirigirmos até ele.

Nancy e eu ficamos do lado de fora do carro enquanto Jonathan estava sentado no assento de carona, arrombando algo no porta-luvas com um canivete.

— O que está fazendo? — Nancy perguntou, inclinando-se um pouco para ver.

— Me dá um segundo. — Jonathan disse, concentrado em sua tarefa. Logo, ele conseguiu abrir o porta-luvas e tirou um revólver de lá. Eu olhei ao redor, nervosa, para ver se ninguém estava prestando atenção.

— Fala sério. — Nancy tentou advertir Jonathan, que não parecia se importar e começou a colocar caixas de munição no bolso.

— O quê? Quer achar essa coisa e tirar outra foto? Gritar com ela? — Jonathan respondeu, claramente irritado.

— Ele tem razão, se a gente realmente encontrar essa coisa, nós estaríamos correndo perigo. — Tentei acalmar Nancy, que olhava desesperadamente ao redor.

— É uma péssima ideia. — Ela insistiu, enquanto Jonathan saia do carro, ajeitando-se e olhando para os lados.

— Bem, é a melhor que temos. O quê? Pode contar a alguém, mas não vão acreditar em você. Sabe disso. — Jonathan respondeu, sua frustração à mostra.

— Sua mãe acreditaria. — Nancy se defendeu, levantando uma sobrancelha.

— Ela já sofreu o bastante.

— Ela merece saber.

— Sim, eu vou contar para ela, quando essa coisa estiver morta. — Jonathan se virou para nós, sua determinação visível.

— Alguém sabe usar isso? — Eu me intrometi entre a discussão, tentando encontrar alguma lógica na loucura.

Depois, Nancy e eu decidimos nos encontrar com Jonathan no lugar que tínhamos combinado, um pouco longe da cidade. Quando chegamos lá, a primeira cena que encontramos foi Jonathan tentando mirar em algumas latas e errando todas. Nós nos olhamos e não conseguimos segurar o riso enquanto caminhávamos em direção a ele.

— Você deveria acertar as latas, certo? — Nancy zombou, se aproximando com um sorriso.

— Não, na verdade, está vendo o espaço entre as latas? — Jonathan entrou na brincadeira, fazendo um gesto dramático. — É onde estou mirando.

— Ah, tudo bem então, Senhor visão dupla. — Eu também brinquei, e logo Jonathan soltou uma risada rápida.

Nancy e eu deixamos as coisas que trouxemos no chão e nos posicionamos ao lado de Jonathan.

— Já dispararam uma arma antes? — Ele perguntou, olhando para nós.

— No máximo, atirei no meu irmão com uma Nerf. — Eu comentei, tentando manter o clima leve.

— Já conheceu meus pais? — Nancy suspirou, e eu percebi o tom de sarcasmo em sua voz.

— Não atiro desde os meus 10 anos. — Jonathan disse, enquanto colocava mais munição no revólver. — Meu pai me levou para caçar no meu aniversário, ele me fez matar um coelho.

— Um coelho? — Nancy perguntou, a expressão de surpresa em seu rosto.

— É. Ele pensava que eu seria mais homem ou algo assim. — Jonathan fez uma pausa, seu olhar distante. — Eu chorei por uma semana.

— Credo, que horror! — Eu disse, fazendo uma careta. Que tipo de pai faria algo assim?

— O quê? Eu sou fã do Tambor. — Jonathan defendeu-se, tentando dar uma leveza à situação.

Eu ri e disse — Estava falando do seu pai, não que eu tenha um pai presente e saiba dessas coisas, mas acho que isso foi maldade.

— Acho que ele e minha mãe já se amaram em uma época, mas... eu não estava por perto nessa parte. — A expressão de Jonathan mudou por um momento, mas logo ele se recompôs.

Nancy estendeu a mão, pedindo que Jonathan lhe entregasse o revólver.

— Ah, claro. Aponte e atire. — Ele disse, sem dúvida se divertindo com a situação.

— Eu acho que meus pais nunca se amaram. — Nancy se posicionou, pronta para atirar em uma das latas.

— Devem ter se casado por alguma razão. — Jonathan comentou, enquanto Nancy se preparava.

— Minha mãe era jovem, meu pai era mais velho, mas tinha um bom trabalho, dinheiro, vinha de uma boa família. Então, eles compraram uma boa casa no final da rua e começaram sua família.

— Que se dane isso. — Eu disse, tentando aliviar o clima pesado.

— Sim, que se dane isso. — Nancy concordou e, com uma pontaria impressionante, acertou uma das latas em cheio, que estava posicionada em cada tronco cortado de árvore.

— Ouu, eu quero tentar! — Digo, estendendo a mão perto do revólver que estava na mão de Nancy. Ela logo entregou a arma destravada para mim.

— Minha vez agora. — Falo, sorrindo enquanto me preparava. — No começo, meu pai até que era presente. Mas quando Dustin nasceu, não sei, ele começou a se afastar da família, dizia que era trabalho. Isso resultava em muita briga em casa. Eu era pequena ainda, mas sabia que tinha que proteger Dustin de qualquer coisa que aparecesse. E como vocês todos sabem, deu em divórcio.

— Que se dane isso. — Jonathan sorriu para mim, e eu retribuí o sorriso.

— É, que se dane isso. — Eu atirei, mas acabei errando, mandando o tiro para uma árvore bem longe de nós. — É, Nancy, você é a única sem ter visão dupla daqui.

Nós três nos olhamos e soltamos uma risada rápida. Em seguida, começamos a caminhar em direção ao bosque perto da casa do Harrington, eu estava nervosa mas pelo menos não estava sozinha.
Droga, Barb está sozinha agora.

YOURS, steve harrington.Onde histórias criam vida. Descubra agora