𝐓𝐑𝐄𝐒

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CAPÍTULO 03
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A ida a capital. Entre 1826 e 1831

[Secretário Yuji]

Eu sentia as densas e pesadas lágrimas descerem, descontentes, pela pele certamente avermelhada de meu rosto. O sabor doce dos lábios dela ainda inebriava os meus, agora salgados e com gosto de ferro, por estarem sendo fortemente mordidos pelos meus dentes. Raiva, frustração, saudade, vontade de não me importar com nada, voltar e arrancar mais um contato, mais um beijo, mais um toque, qualquer coisa daquele ser que movia meu mundo. Mas eu não o fiz, segui meu caminho devagar aos tropeços, por mal enxergar um palmo à frente do rosto, tamanho era o choro desesperado.

Arrumei as poucas coisas que tinha na maleta de couro nova, que havia ganho para aquela jornada específica. Enxuguei com a manga da roupa os olhos ainda marejados e segui para a porta, encontrando Utahime preocupada e aflita parada ao umbral do local.

— Onde ela está?

— Na velha igreja... — mal conseguia olhar para a moça de cabelos escuros — Hime, cuida dela por mim... dê a ela todo o carinho e mais um pouco.

— Claro, meu anjo, eu vou fazer isso.

— E mais uma coisa — falei finalmente encarando o rosto marcado por uma cicatriz antiga — quando eu voltar eu vou fazer o possível e o impossível para que possamos ficar finalmente juntos!

Minha voz estava decidida, mas o soluço que se seguiu foi o suficiente para a moça rodear os braços em meus ombros e afagar meus cabelos, uma última vez por um bom tempo. Eu apenas me deixei consolar, sorri em meio ao sal das gotas grossas e me afastei, tomei meu caminho para a carruagem e antes de entrar perguntei ao cocheiro quanto tempo de viagem seria, ele apenas respondeu que poderia variar, mas que não usamos as estradas a noite e que seria melhor pernoitarmos em algum local calmo, continuando a viagem no dia seguinte.

Entrei na carruagem e não vi o Duque, mas um bilhete de caligrafia fina, dizia simples.

Encontrarei você na capital, Gojo lhe aguarda na minha propriedade.

Boa viagem!

O' Duque.

Respirei fundo, essa viagem seria longa e mais desesperada do que eu imaginava. Sozinho tudo parecia querer me engolir. Mais uma vez, eu apenas chorei, chorei até as lágrimas cessarem e meus olhos pesarem, chorei até os soluços se confundirem com o ritmo dos cascos dos cavalos na terra do caminho, chorei como se tudo pudesse ir embora junto com cada tortuosa lágrima derramada.

Chorei até dormir.

Meus sonhos foram abrigo para os mais gostosos momentos de ilusão, era como um estado consciente, vívido, real... com ele eu estava mais uma vez naquela igreja velha e assustadora, mas também estava nos braços calorosos e carinhosos. Podia sentir o ritmo sutil e calmo do coração dela, sua respiração no meu pescoço e sua pele ao meu toque. Mais ainda, eu podia sentir o toque dela, como eu sentiria falta da ponta dos dedos adentrando meu cabelo e massageando o local despreocupadamente, ou em alguns momentos, puxando os fios para me trazer ainda mais perto. Eu estava perdido. No mundo de sensações que tudo daquela memória fantasmagórica causava.

Um vento gelado adentrou o local e levantei a vista para a porta aberta da igreja, vi uma sombra sutil mover-se por ela, senti uma leve sonolência, mesmo que ainda dormindo.

Vai servir...

Foi a última coisa que eu ouvi ao acordar com um baque seco de uma das rodas da carruagem numa pedra qualquer. A janela de cortinas pesadas estava levemente aberta, o sol lá fora despedia-se do horizonte com lindos raios acobreados, a temperatura sendo brutalmente trocada por um frio cortante, exatamente como meu coração, naquele momento peculiar. As árvores dançavam lá fora em suas formas assustadoras, as sombras dos galhos marcando o caminho com imagens, me afogando em desesperança.

𝐈𝐃𝐈𝐋𝐈𝐎, 𝐘𝐮𝐣𝐢 ℮ 𝐒𝐮𝐤𝐮𝐧𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora