Você está flertando ou tentando começar uma briga?

63 3 0
                                    

- Deveria tentar girando - digo e Kit grita, se assustando ao me ver ali.
Me esforço para não rir. Não era comum caçadores de assutarem com qualquer coisa, tínhamos uma ótima audição, treinada para escutar passos a metros de distância. Mas para o azar do Herondale, Valentine tinha me criado para ser uma arma silenciosa, ele dizia que a elemento surpresa era sempre o nosso melhor amigo na batalha.
- O chute lateral - explico - Se você girar consegue mais potência na perna.
- Pelo anjo - ele coloca a mão sobre o peito nu, respirando - Você quase me matou de susto, garota morta. A quanto tempo está aí?
- Meu nome é Malysel - digo franzindo o rosto para o apelido.
- Eu sei - ele diz com um sorrisinho enquanto vai até o banco perto da porta pega uma toalha e passa pelo rosto, secando o suor. Depois a joga sobre o ombro e apoia as mãos no quadril - Mas eu prefiro garota morta.
- Se eu estivesse morta não teria quase rasgado seu pescoço com a espada - falo
- Aí! - ele apoia a mão no peito, como se tivesse sido atingindo fisicamente. Ironia classica dos Herondale
- Inclusive foi bem grosseiro da sua parte, mal tínhamos nos conhecido e você já estava tentando me cortar em pedacinhos.
- É o que eu faço quando alguém tenta tirar a minha roupa - digo
Ele solta um risinho e balança a cabeça levemente.
- Que Raziel tenha piedade do seu namorado!
Faço uma careta com a palavra.
- Eu não tenho um.
- Bom, um dia vai ter - ele diz enquanto atravessa a sala em direção ao arsenal de armas que se dispunha na parede - E realmente espero que ele seja a prova de balas, gata.
- Por causa da minha família? - pergunto com sarcasmo.
- Se ele for esperto, vai se preocupar mais com você - ele vira com duas espadas longas nas mãos- Não parece ser uma garota que se deve subestimar.
O garoto lança uma das espadas na minha direção e eu corro, rolo no tatame e a pego antes que atingia o chão. Kit assovia.
- Isso foi um elogio? - pergunto.
- Se você quiser levar como um... - ele diz enquanto sobe no tatame novamente - Vamos lá, garota morta, me mostre o que você sabe fazer.
- Você está flertando ou tentando começar uma briga? - pergunto com uma sobrancelha levantada.
Minha pergunta faz o loiro sorrir.
- Os dois - diz - Sempre os dois.
Solto a espada no chão e tiro o casaco de Clary, arremessando-o longe dali. Quando começo a tirar a blusa apertada, vejo Kit passar a mão pelo rosto e desviar o olhar. Me divirto com aquilo. Me desfaço da blusa assim como fiz com o casaco, ficando apenas com a calça leggin e o top preto.
- Isso é algum tipo de distração para me fazer sair em desvantagem? - ele pergunta enquanto se aproxima com passos calmos. Apesar disso, fico em guarda observando seus movimentos.
- Talvez- provoco - Está funcionando?
- Se não tivesse eu não seria um Herondale - diz antes de atacar.
Defendo seu golpe com a minha espada, faço força contra a dele e consigo joga-la para baixo. Ataco seu ombro esquerdo e o loiro desvia, preparando uma investida que me faz recuar vários passos para trás, me defendendo de sua lâmina. Após alguns segundos, Kit consegue finalmente tirar a espada de minhas mãos, com um golpe giratório ela voa para longe de mim. Ele sorri, vitorioso. Junto os punhos a frente do corpo e com golpes rápidos acerto minha perna na dobra do seu joelho, o que faz com que o caçador cambalei desequilibrado. Aproveito a desvantagem e giro mais uma vez, chutando o cabo da espada. A arma voa da sua mão e é minha vez de sorrir.
Começamos uma luta de corpo, onde eu desvio de seus golpes e uso minha velocidade para ganhar vantagem, já que o loiro era maior e mais forte do que eu. Consigo passar uma rasteira em Kit e derrubá-lo no tatame depois de alguns segundos. Cato a espada que não estava muito longe dali e sento sobre ele, usando o peso do meu corpo para mantê-lo no chão. Aponto a lâmina para o seu pescoço e o garoto sorri.
- Segunda vez no dia, Kit. Temos que cuidar para não virar um hábito- digo levemente ofegante por causa da luta.
Sinto uma de suas mãos subirem pela minha coxa e, mesmo com o tecido da leggin separando nossa pele uma da outra, sinto sua palma quente pressionar. Desvio o olhar dos seus olhos para sua mão apenas para confirmar que eu não estava imaginando coisas. Não, não estava.
O Herondale se aproveita do meu momento de fraqueza e arranca a lâmina da minha mão, arremessando-a longe. Suas mãos vão para o meu quadril e em um movimento hábil, ele rola sobre o tatame, se colocando sobre mim. Sinto minhas costas contra o chão frio enquanto percebo uma de suas mãos na minha cintura e a outra ao lado da minha cabeça. Um dos joelhos estava entre minha pernas e o outro prendia minha coxa para o lado de fora.
- Nunca abaixe a guarda, Garota morta - ele diz com um sorrisinho brincando entre os lábios.
- Você fez de propósito- digo entredentes fervendo de raiva- Para me distrair!
Eu simplesmente nunca tinha perdido uma luta, nem contra meu irmão quando treinavamos no jardim da mansão Morgenstern em Idris, nem contra ninguém. Não era do meu feitio me distrair em campo. Não desse jeito. Perder aquela luta idiota para aquele garoto mais idiota ainda tinha feito cada centímetro do meu corpo se acender de raiva.
- Você não estabeleceu regras - ele estava adorando tudo aquilo, dava para ver em seus olhos.
- Bom, eu não achei que você jogasse tão sujo assim!
- Eu fui criado por um cara que era popularmente conhecido como "Jonny Rook, o trapaceiro" - fala enquanto sai de cima de mim - Honestidade não está no meu sangue.
- Bom saber - resmungo enquanto me levanto e saio pisando forte para longe do tatame. Pego minhas roupas e começo a sair da sala, imaginando que se eu fosse um desenho animado, estaria soltando fumaça pelos ouvidos agora.
- Devo trancar a porta do quarto para caso você apareça no meio da noite para me sufocar com o travesseiro enquanto eu durmo? - ele pergunta em tom brincalhão.
- Eu trancaria! - digo sem me virar, já saindo do lugar.
Caminho pelos corredores descalça enquanto tento regularizar meu batimentos. Burra, burra, burra! Era o que minha mente gritava. É claro que eu deveria saber, ninguém confiável tem um cabelo tão ridiculamente perfeito quanto aquele.

O outro lado da história - Os Instrumentos Mortais Onde histórias criam vida. Descubra agora