Um propósito do Anjo

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Quando Lily nos contou sobre a missão secreta a qual a Clave tinha nos responsabilizado, ninguém acreditou de primeira. Foram longos segundos até conseguirmos digerir a informação que continha a mensagem de fogo.
Após a diretora do instituto ter informado ao Conselho sobre os versos que compunham o poema seelie, a própria Clave tinha nos encarregado de fazer uma visita a corte Seelie e a própria rainha, com o objetivo de obter melhores informações sobre os assassinatos e a relação deles com as fadas. Lily tinha nos dito que os mesmo pediram total sigilo e descrição sobre a missão. Mas todos sabíamos o que aquilo significava. Eles estavam tentando impedir uma guerra, se informando antes de agir. Porque caso a Clave punisse as fadas injustamente, o Submundo inteiro se viraria contra nós, e nem mesmo o mais forte dos caçadores poderia liderar uma guerra sem soldados. Os Nephilins eram uma raça escassa, mesmo com o recrutadores transformando mundanos com a visão em caçadores de sombras, nunca seria o bastante. E cabia a nós impedir esse trágico destino.
Encaro Lilian enquanto ela nos instruia na sala de armas.
- Se o assassino tiver um padrão, a próxima desova será amanhã a noite, o que significa que ele sairá para caçar sua próxima vítima entre hoje e amanhã. Alec e Izzy, quero vocês encarregados de cobrir isso. O restante de nós vai para a corte. Vão se arrumar, sairemos em breve - ela diz e sinto o choque de suas palavras me atingirem. Eu nunca tinha estado na corte das fadas, nem muito menos diante da rainha. Não consigo me deixar de perguntar porquê ela tinha me designado a missão, já que eu era a mais nova dentre os integrantes do instituto de NY.
- Lily- chamo quando todos já se dispersaram até os uniforme oficiais e as armas nos suportes das paredes.
- Porque não me colocou para buscar o assassino com Alec e Isabelle?
- O conselho me pediu para leva-la comigo. Disseram que poderia não ser seguro deixa-la aqui enquanto estamos fora - a tutora diz. Eu conseguia ver o cuidado que ela tinha ao falar, adaptando as palavras duras que a Clave tinha dito para que não me machucasse.
- Jia - cito a Cônsul com um sorrisinho frio no rosto - É claro, eu deveria saber.
- Metade do mundo das sombras achava que você estava morta, imagine quando aqueles que perderam seus entes queridos na Guerra Maligna descobrirem que a Clave não a exilou. Haverá retaliação. Jia só está garantindo que você fique segura.
- O sentimento que eles tem por mim não é de proteção, Lily, é medo.
Medo que eu enlouqueça e me torne um monstro como meu irmão. Eles não seriam idiotas de deixar acontecer pela segunda vez, é claro que colocariam alguém para bancar a babá!
Com um suspiro, Lilian apoia uma das mãos em meu ombro com um olhar gentil.
- Eu assumi o instituto depois da Guerra Maligna, tinha perdido minha irmã mais nova para ela e me sentia completamente vazia - sua mão livre agarra o medalhão prata no pescoço, ele era gravado com a figura do anjo Raziel e, quando a loira o gira, percebo que tinha parte da sua oração no verso. Olho em seus olhos e encontro os tristes, perdidos em alguma memória do passado. - Orava ao anjo toda noite para que me desse um propósito para tudo aquilo. Tinha que existir um. Ou então Candice havia morrido por nada. Até que você apareceu, e eu soube na mesma hora que Raziel tinha ouvido os meus pedidos. Sinto que posso finalmente começar a aprender a me perdoar pelo o que aconteceu, então não pense que é um fardo, você foi uma dádiva para mim, Mal.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e envolvo Lily em um abraço. Primeiramente ela parece surpresa com minha ação, mas rapidamente passa os braços em minha volta retribuindo o abraço. Encaro a parede de armas atrás da tutora e lembro das palavras de Valentine. Nunca deixe que a vejam chorar, não se deve sangrar em um tanque cheio de tubarões. Pisco, me livrando das lágrimas rapidamente, antes de me afasta da loira.
- Obrigada, Lily, de verdade - falo.
- Agora vai - ela indica com a cabeça o arsenal atrás de nós - Vai se aprontar.
Assinto para a loira e vou em direção das armas. Visto o uniforme de combate por cima da base de calça e camisa preta que eu já usava e começo a encaixar pequenas adagas em várias partes do meu corpo. Coloco-as entre as botas, no cinto em minha cintura e no que prendia em volta da minha coxa esquerda. Pego uma lâmina Serafim e volto até o meu quarto para pegar minha espada. Coloco ambas na bainha e desço as escadas, encontrando Kit e Jace na base dela. Kit me olha e seus lábios se curvam em um sorriso mínimo. Não tínhamos nos falado dês da sala de armas, quando estávamos sozinhos e Lily entrou, nos interrompendo de fazer uma baita burrada. Mais uma vez agradeço a Lilian Ashdown.
Quando a tutora e minha irmã se juntam a nós, saímos do instituto.
Caminhamos até o estacionamento do lugar e Lily entra no lado do motorista da sua caminhonete. Clary pega o banco do carona e Kit é o primeiro a subir na caçamba do carro, o loiro estende a mão com um sorrisinho para mim. Reviro os olhos e me apoio na lateral do carro para subir.
- Valeu, Romeu - digo.
- Qual foi, cara? Não vai me ajudar só porquê eu não tenho peitos? - Jace provoca Kit quando vê que o primo já tinha se virado quando ele estava subindo. Reprimo uma risada.
- Você - Kit aponta para Jace - Calado.
O carro treme abaixo de nós e Lily da a partida. Durante o caminho, os meninos se preocuparam em responder minhas perguntas sobre o reino das fadas, pelo visto sua entrada mais famosa em NY ficava em pleno Central Park. Jace fez uma piadinha sobre minha roupa ser impermeável e eu franzi o cenho por não entender.
Meus cabelos voavam ao vento conforme Lily acelerava sobre a estrada. Alguns fios chegam até mesmo a roçar na bochecha de Kit, mas ele não parece se incomodar com o ato. Olho o loiro e vejo seu semblante calmo, como se já tivesse feito isso mil vezes. Ou ele estava confiante acerca da missão, ou era ótimo em esconder o que realmente sentia. Já Jace, tinha aquele jeito inquieto de sempre. Enquanto avançamos sobre as ruas de NY, o loiro fazia piadas sobre o jeito galanteador de Kit, brincava com Clary no banco da frente e, quando o carro parava em qualquer sinal, quase caia da caçamba só para fazer carinho nos cachorros que estavam na janela do carro ao lado. Agradeço ao anjo por estarmos runados e invisíveis para mundanos, mal poderia imaginar o que o motorista faria se olhasse pelo retrovisor e visse um loiro repleto de tatuagens esquisitas se inclinando na direção do seu cachorro.
Quando chegamos ao Central Park, Lily estaciona e eu salto da caçamba do carro juntamente com os outros. Andamos um pouco até finalmente chegarmos a um tipo de ponte, olho para baixo e vejo um rio passar sob nós. Encaro os caçadores ao meu lado e vejo Lily, que era a única ainda visível a humanos, desenhar a runa de invisibilidade em seu ante braço.
- Eu ainda não entendi o lance da água, onde fica a passagem? - pergunto me sentindo idiota por ser a única a não saber aquilo.
- A água é a passagem, Mal - a tutora responde e eu vejo Jace começar a subir na lateral da ponte com um sorriso travesso nos lábios.
- O último a pular é um demônio Ravener feio e gosmento - o loiro diz antes de se jogar e atingir a água.
Vejo Kit se adiantar para saltar também, provavelmente querendo se livrar da brincadeirinha do primo.
- Homens - Clary diz em meio a um suspiro, revira os olhos e também pula.
Quando sobra apenas eu e Lily, subo no suporte ainda meio incerta daquilo. Deixo que a loira pule, para então o fazê-lo. Atinjo a água e mal tenho tempo de sentir-lá sobre minha pele. O rio parecia ser um tipo de película, visto de fora, tinha um encantamento para parecer fundo, mas na realidade, não deveria ter mais do que dois metros de profundidade. Caio agachada na terra e meus joelhos doem com o ato, olho os outros a minha volta e vejo que, assim como eu, estavam todos encharcados.
- Não brincou quando disse que esperava que minha roupa fosse a prova d'água - digo a Jace torcendo meu cabelo e fazendo com que água molhe o chão de terra abaixo de nós.
Observo o lugar e percebo que estávamos em uma caverna.
Obviamente ela era subterrânea, mas o que me impressiona é que o teto não era feito de rocha assim como as paredes, sobre nossas cabeças estava uma parede de água incrivelmente plana por onde tínhamos atravessado. Magia Seelie.
Um cavaleiro fada logo surge diante de nós e Lily toma a frente como líder daquela missão.
- Viemos ver a rainha Seelie - diz.
- A mando de quem, Nephilim? - a fada questiona.
- Da própria Clave - Lily responde em um tom ainda mais firme e eu juro ver o cavalheiro seelie estremecer.
Ele segue pelo túnel e pede para que o seguissemos. Conforme avançamos, o número de guardas aumenta, esse era um dos sinais que estávamos chegando perto da rainha. O túnel de pedra sobre nós termina e nós entramos em um espaço ao ar livre. Fico encantada com o tanto de natureza que há no lugar. Flores e folhas das mais variadas cores cobriam as paredes, o chão e até mesmo as fadas diante de nós. A alguns passos de onde estávamos, degraus compunham um palanque de pedra que sustentava o trono da rainha. Ele era assustadoramente lindo, feito de galhos secos que me lembravam espinhos... ou ossos humanos. O pensamento surge em minha mente fazendo com que um arrepio suba pela minha coluna. Meus olhos pousam sobre a figura a nossa frente, ela usava um vestido azul marinho que parecia ser feito de pequenas assas de borboletas, seus longos fios ruivos estavam parcialmente presos por presilhas de pedras com o mesmo tom de seu vestido. Ela, assim como todas as fadas ao nossos redor, estava descalça. Era o tipo de beleza pertubadoramente linda. Alguém que poderia, com as mesmas mãos finas e delicadas, arrancar um coração em um piscar de olhos.
- Nephilins - a voz da Rainha Seelie soa entre nós. Era doce, assim como sua aparência - O que buscam em minhas terras?
Lily da um passo adiante e faz uma singela reverência. Um ato gentil que poucos caçadores seriam capazes de realizar.
- Viemos em paz, Majestade - o loira declara - A Clave necessita de respostas sobre o seu povo.
- Não devo nada aos seus - o misto da voz doce com o tom ríspido era algo que não se encaixava nela. Uma bela janela para se enxergar que toda a sua aparência não passava de uma faixada para a verdadeira Seelie.
- Estamos tentando ajudar, impedir que outro acordo como a Paz Fria seja gerado - Lilian diz - Falamos em nome da Clave, mas não somos ela, a Majestade pode confiar.
Um sorriso frio surge nos lábios da rainha.
- Confiar em vocês, filhos do anjo? O que fizeram para merecer minha confiança? Nos abandoram e negaram proteção, algo que juraram cumprir diante do seu anjo - ela deixa os olhos passearem entre nós, e quando eles pousam em mim, sinto os pelos da minha nuca se enrijesserem - Como eu não a tinha reconhecido? É tão parecida com seu irmão... Vamos criança, deixe-me vê-la mais de perto.
Quando percebo que a rainha falava sobre mim, vejo quatro pares de olhos me encararem esperando minha reação.
Congelo no lugar em que estou e amaldiço-o meu irmão por ter uma amante tão famosa.

O outro lado da história - Os Instrumentos Mortais Onde histórias criam vida. Descubra agora