Uma garota que eu costumava chamar de amiga uma vez me disse que os meus sonhos eram ridículos. Aquilo me deixou tão mal..
Com o passar dos dias Fabrizio começou a fazer "sentido". Ele sempre aparecia do nada e sumia da mesma maneira. Suas roupas não pareciam diferentes porque eram apenas estilosas. Elas eram literalmente de outra época. Ele não tinha redes sociais. Não tinha celular. Nunca o vi conversando com mais ninguém que não fosse eu. Nunca estive com ele e outra pessoa ao mesmo tempo. Ele nunca aceitava entrar na minha casa se o meu pai estivesse. Ele nunca me levou na dele também. Seu gosto musical pertencia aos anos noventa. Seu penteado pertencia aos anos noventa. Tudo pertencia a realidade de alguém que não existe mais. Eu poderia ter percebido antes, mas estava completamente cego, instável e desnorteado. Agora eu não tinha mais nada. Eu havia me apaixonado por um fantasma. Havia me apaixonado por uma lembrança.
É curioso como as coisas funcionam a partir daí. Ao contrário do que imaginei que faria, não culpo a mim mesmo. Para ser sincero, nem mesmo culpo Fabrizio. Existia outra pessoa na minha mira. Alguém que eu sempre visualizava o rosto ao fechar os olhos. Era inquietante. Visceral. Eu ainda não sabia, mas estava prestes a descobrir do que o ódio era capaz. Por isso saio de casa naquela noite. Por isso fico de tocaia na esquina durante longos minutos. Eu estava esperando por ele. A verdadeira razão pela qual tudo isso estava acontecendo. Eu nunca o perdoaria. Ele precisava sofrer.
– Love, não faça isso. – Escuto aquela voz dentro da minha cabeça.
Ignoro. Praticamente no mesmo instante vejo o carro surgir. Se aproximar aos poucos em linha reta. O veículo prateado para bem de frente à casa de Fabrizio. Estaciona ao lado da garagem. Não demora muito para que o senhor Rico desligue o motor. Para que ele finalmente saia do carro. Seu último movimento consiste em abrir a porta do passageiro para que seu cachorro possa descer.
– Não faça. – Escuto as palavras mais uma vez.
Atravesso a rua depressa. Meus passos parecem pesar uma tonelada.
– Como você pôde! – Grito.
O senhor Rico se vira em minha direção com as chaves da porta de casa em mãos.
– Não acredito... – Ele revira os olhos. – Você de novo...
Tudo que eu sentia era raiva. Profunda e latejante.
– Você é um monstro! – Esbravejo. – É sua culpa ele ter morrido!
O senhor Rico me olha como se eu fosse um completo maluco. Provavelmente era o que eu parecia naquele momento.
– Do que você está falando? – Ele parece recuar.
– Você sabe muito bem do que eu estou falando! – Me aproximo ainda mais de seu corpo. – Ele era seu filho...
A expressão no rosto dele congela imediatamente.
– Além de não o apoiar você ainda fez questão de exterminá-lo! – Eu estava cego. Descontrolado. Eu queria fazer justiça com as minhas próprias mãos. – Foi você quem matou o Fabrizio! – Grito. – Você matou o seu próprio filho!
O senhor Rico dá um passo para trás, se apoiando contra a porta de casa. Agora ele me olha como se eu fosse um fantasma do passado. Seus olhos estão tão arregalados que parecem querer saltar das órbitas. Sua pele está tão vermelha que parece querer explodir como um vulcão. Ele tenta falar, mas as palavras parecem sumir de seu vocabulário.
– Como você... – Ele titubeia. – Como você sabe sobre ele...
– Você faz ideia do quanto ele sofreu? – O corto sem nem pensar.
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Para Aqueles Que Não Querem Viver [✓]
Jugendliteratur[Romance Gay] Além de Love ser gay, problemático e infeliz, ele ainda pensa em se matar todos os dias. Vivendo uma rotina extremamente frustrante para um jovem de dezoito anos, o ápice da sua vida é ir para a academia com Ted, um recém amigo hétero...