Faltava apenas uma semana para Baekhyun ter que ir embora e, sinceramente, o mestrando estava surtando. Parte dos seus pertences já estavam dentro de malas — essas que foram emprestadas por Chanyeol, junto a algumas roupas de frio; a passagem de avião tinha sido reservada pela faculdade, também; havia explicado ao Park, também, como deveria cuidar de Luna e, no último mês, havia grudado em Flora em todas as maneiras possíveis, quase nunca a perdendo de vista. Só faltava uma coisa: conversar com Park Chanyeol sobre eles.
"Por que era tão difícil conseguirem realizar essa proeza?", o Byun perguntava-se constantemente. Os dias se passavam e se encurtavam cada vez mais, porém, nenhum deles havia dito uma palavra sobre aquele assunto tenso, evitando o máximo possível, como um tabu.
Tinham, de fato, um péssimo hábito de presumir antes de conversar e, poucos dias antes da viagem, fizeram questão de, depois de colocarem Flora para dormir, terem uma conversa séria; colocariam tudo em pratos limpos antes que Baekhyun estivesse em outro continente. De uma forma ou de outra, iriam se esforçar para conversar sobre eles da maneira mais transparente possível, evitando que repetissem o passado.
Sentaram-se na mesa de jantar, frente a frente, degustando uma xícara de chá morna e criando coragem para falar primeiro. Somente a fraca fumaça das bebidas quentes e o silêncio pairando no ar; olhares perdidos, desviando para cantos quaisquer, fugindo de encarar um ao outro. Nenhuma palavra, dado momento, fora dita, sequer um "boa noite".
Perdido em seus próprios pensamentos, ponderando soltar sua voz, Baekhyun pausadamente observou ao seu redor, captando detalhes perdidos naquele apartamento ao qual tanto estava familiarizado: as peças de lego coloridas esquecidas debaixo do sofá, as anotações do mestrando espalhadas sobre as estantes, misturadas com livros de pintura de Flora, os riscos tortos de diversas cores feitos por uma menininha serelepe. Sua casa, que outrora julgou tosca.
Seria tão difícil ficar distante daquele lugar.
Quem diria que iria se sentir dessa forma, alguém que sequer tinha em mente a ideia de ter filhos, de criar uma família, agora angustiado com a ideia de perder todo aquele conforto. Não iria mais acordar no meio da noite assustado com o choro de Flora e ir a consolar por um pesadelo ou cozinhar comidas sem gosto para a garotinha, se divertir com as suas risadas ao provocá-las, assistir desenhos péssimos somente porque a garotinha gostava. Cômico como cada detalhe havia se tornado seu tudo. Como, muitos meses antes, havia dito uma mentirinha para Jongin dizendo que Flora era sua "enteada", mas agora, de fato, sentia como se ela fosse filha.
Diria, então, que o receio de ir não era somente perder todos os futuros momentos incríveis ao lado da garotinha, era, também, o medo de ser esquecido por ela e, decerto, que Chanyeol acabasse, como no passado, desistisse do relacionamento de ambos, partindo o laço que os conectava. Tinha muito medo. E, por isso e por tantas outras preocupações que inundavam sua mente todos os dias, possuía medo do caminho que tomaria aquela séria conversa; onde iria terminar — se iria terminar.
— Como... como a gente vai fazer? — perguntou incerto, evitando olhar para o rosto do outro, preferindo observar a xícara em sua frente, enquanto rodeava as bordas com seus dedos.
Agoniado com o silêncio após tanto ponderar, falou primeiro. Dos últimos conhecimentos que havia aprendido com a companhia do Park, enfrentar seus problemas era um dos mais importantes e, em dado momento, iria utilizar-se dessa virtude.
Chanyeol voltou seu olhar para o babá, finalmente encarando-lhe nos olhos, dentro da imensidão castanha repleta de dúvidas, semelhante às suas. Em impulso, uniu suas próprias mãos sobre a mesa, entrelaçando os dedos em sinal de nervosismo.
— Depende de você. Quer continuar com... isso que a gente tem? — Simbolizou com a mão direita, apontando para si e para o outro, crispando os lábios logo após.
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Timepiece
FanfictionQuando Chanyeol pegou a sua passagem e passou pela mureta do avião, não sabia que estava deixando para trás algo além da sua família; enterrava o seu passado. O Park apenas não contava com uma coisa em sua estadia em outro país: um rostinho fofo arg...