CAPÍTULO NOVE

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E eu gostaria de continuar falando que tudo a partir daí foi mágico, mas definitivamente não foi, novamente acordo e dessa vez com sons de gritos e o meu corpo gela antes de levantar, reconheço o som da voz dele mesmo em outro planeta, levanto o mais rápido que consigo, e vejo pela janela do seu quarto quando seu pai o empurra para fora, desço rápido sem me importar com a presença prolongada do meu pai, ou por ele querer falar comigo logo pela manhã, coloco a mão na maçaneta quando meu pai grita e o meu corpo para.

– Não sai, Guilherme. Isso não é com você – Olho para sua direção e vejo pelo seu rosto que ele está preocupado, não, não preocupado, chateado. Mas novamente o grito de Danilo me desperta, ele grita alto e ouço sua voz misturada com um choro, abro a porta e vejo o pai de Danilo arremessar ele para fora, fazendo com que Danilo caia no asfalto em frente à sua casa.

– Levanta – Sibila o pai dele com o rosto vermelho. – Levanta.

– Não, pai. Por favor – Danilo tenta falar, mas o pai dele o levanta pela camisa.

Eu corro gritando quando o pai de Danilo empurra o seu corpo para dentro do seu carro. A mãe dele está com os olhos cheios de lágrimas e em suas mãos uma mala.

– Danilo – Grito mais uma vez, e o pai dele para, Danilo ainda com o corpo para fora do carro me olha, e vejo em rosto desespero, tento ir em sua direção, mas sou bloqueando pela presença alta do pai dele. E sem aviso prévio ele me dá um soco no rosto e todo o meu corpo perde a força caindo no chão, Danilo tenta gritar e vir em minha direção, mas agora a mãe dele quem bloqueia sua passagem, enquanto o pai dele se aproxima aos gritos.

– Viadinho – O pai dele agacha agora na direção dos meus olhos – Você acha que eu não sei o que você é? Sua bixinha.

Eu tento levantar, mas a mão forte e firme dele me segura pelos cabelos.

– Eu vi vocês dois ontem – E então, ele cospe em meu rosto enquanto me joga novamente no chão – Mas eu vou ensinar ao meu filho a ser homem.

Meu corpo está tomado de ódio e fúria, eu levanto e o pai dele fica de frente para mim, sinto gosto metálico do sangue em minha boca, Danilo está a alguns passos gritando, mas não consegue se aproximar, eu tento ir em sua direção, mas o pai dele novamente para a minha frente.

– Ele não precisa de você – A voz dele soa ainda mais firme, tento mesmo assim passar por ele, mas sinto quando mais um soco acerta o meu rosto e ouço o barulho de osso quebrado, mas não paro de andar – Eu devia acabar com você, ensinar aquilo que o seu pai não fez, ensinar você a ser homem. Mas você não tem jeito.

Ele me empurra e eu caio sentado no chão, Danilo está com os olhos vermelhos quando o pai empurra sua cabeça para dentro do carro, tento me levantar, mas fico tonto com o esforço, o pai de Danilo liga o carro e sai catando pneu, e pelo vidro de trás vejo Danilo chorando, e então tudo apaga.

Acordo no meu quarto, não tem ninguém comigo e tudo que passa minha cabeça é que o meu rosto dói, e dói muito. Demoro um tempo para entender de fato o que está acontecendo, até que por fim lembranças dos socos e gritos de Danilo preenche a minha memória. Levanto da cama mesmo após o meu corpo reclamar para que eu continuasse deitado, e no meu reflexo no espelho do banheiro vejo inúmeros curativos pelo meu rosto, embaixo do meu olho esquerdo possui um hematoma roxo, meu nariz tem uma tala, e meus lábios estão inchado.

– Fiz o que eu pude – Ouço a voz de Laura atrás de mim, e me viro para encontrar ela segurando um copo d'água e alguns comprimidos.

– Você fez isso? – Pergunto e ela me estende o que está segurando.

Ela faz que sim com a cabeça.

– Seu pai não quis te levar ao hospital, então eu dei um jeito com o que eu tinha casa. Toma o remédio, você vai se sentir melhor.

Querido Vizinho do 3BOnde histórias criam vida. Descubra agora